Os 30 anos da articulação política do movimento de mulheres negras, celebrados ao longo de 2018, são o fio condutor da atividade acadêmica “Diálogos Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50: contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver” que acontecerá na próxima quarta-feira (20/6), das 14h às 19h, em Brasília.
Três painéis abordarão pontos-chave da organização política autônoma das mulheres negras no Brasil e sua influência na América Latina, oportunidades e desafios para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e a Década Internacional de Afrodescendentes.
As duas agendas são estratégicas para os Estados-membros da ONU e para o processo de organização do Encontro Nacional de Mulheres Negras 30 Anos: contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver – Mulheres Negras Movem o Brasil, que deve ocorrer em dezembro.
O evento “Diálogos Mulheres Negras” é organizado por Universidade de Brasília (UnB), ONU Mulheres Brasil, Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030 e Embaixada do Reino dos Países Baixos, com apoio da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec).
As inscrições estão abertas até 19 de junho (acessar página de cursos de extensão, fazer login ou cadastro e inserir “mulheres negras” como palavra-chave), com vagas gratuitas e limitadas.
Participantes receberão certificado de atividade acadêmica de extensão, expedido pela UnB e pela ONU Mulheres Brasil. Haverá transmissão ao vivo pela Internet por meio do facebook da UnB TV.
A programação reúne ativistas e especialistas negras para debater desafios para o enfrentamento do racismo e do sexismo no Brasil e estratégias do movimento de mulheres negras.
Alguns exemplos dessa estratégia são a Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver, de 2015, e o I Encontro Nacional de Mulheres Negras, de 1988.
O encontro se iniciará com saudação de Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres Brasil; Márcia Abrahão Moura, reitora da UnB; Creuza Oliveira, membra do Comitê Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50 em 2030; representante de coletivos de estudantes negras e Roderick Wols, ministro-conselheiro da Embaixada do Reino dos Países Baixos.
O evento também terá a participação de oito especialistas e ativistas negras, com atuação no feminismo negro e em movimentos populares, sindical, quilombola e juventude.
Os debates serão mediados por Lourdes Teodoro, do Instituto de Artes da UnB; Deise Benedito, mestranda em Direitos Humanos na Faculdade de Direito; e Marilene Cardoso Dias, coordenadora-geral do Sindicato das Trabalhadoras e Trabalhadores da Fundação Universidade de Brasília; com apresentação da defensora dos Direitos das Mulheres Negras da ONU Mulheres Brasil Kenia Maria.
“Os Diálogos reconhecem o protagonismo das mulheres negras e suas organizações e as colocam no centro das reflexões, como sujeitas ativas de direitos, para identificar ações e investimentos públicos e privados para que as mulheres negras não fiquem para trás no desenvolvimento sustentável”, disse Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres Brasil.
“Reforça as parcerias entre o movimento de mulheres negras, universidade, embaixada dos Países Baixos e ONU em apoio aos direitos das mulheres negras, ao enfrentamento do racismo e do sexismo e a promoção do bem viver”, completou.
Para a reitora da UnB, Márcia Abrahão, o fortalecimento da parceria entre UnB e ONU Mulheres contribui para consolidar uma pauta de grande importância para a comunidade acadêmica e para a sociedade.
“Dar visibilidade às mulheres negras – que são estudantes, docentes, pesquisadoras, mas também trabalhadoras, chefes de família – é essencial para que possamos enfrentar o racismo e a desigualdade de gênero”, declarou.
Realidade das afro-brasileiras
As mulheres negras são 55,6 milhões de pessoas e correspondem a 25% da população brasileira. Em decorrência do racismo e do machismo, elas estão na base da pirâmide social e econômica.
Estão sobre-representadas nos índices de pobreza e têm renda média correspondente a 41% da remuneração dos homens brancos. Convivem com desafios para acessar os serviços públicos de saúde, educação e seguridade social.
Elas ainda estão expostas às variadas formas de violência, sendo maioria entre as mulheres assassinadas, fato evidenciado na taxa de 5,3 de assassinatos de mulheres negras, enquanto para mulheres não negras o índice é de 3,1, configurando uma diferença de 71% entre negras e brancas no total de 4.645 mulheres brasileiras foram assassinadas no ano de 2016, conforme o Atlas da Violência 2018.
Esta realidade está denunciada na plataforma de ação da Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver – que em 2015, reuniu 50 mil mulheres negras em Brasília.
No documento, as afro-brasileiras reivindicaram um novo pacto civilizatório, baseado no direito à vida e à liberdade; na promoção da igualdade racial; no direito ao trabalho, ao emprego e à proteção das trabalhadoras negras em todas as atividades; direito a terra, território e moradia; direito à cidade; justiça ambiental, defesa dos bens comuns e a não mercantilização da vida; direito à seguridade social (saúde, assistência social e previdência social); direito à educação; direito à justiça; direito à cultura, informação e à comunicação; segurança pública, especialmente no enfrentamento ao genocídio da juventude.
Passos decisivos para o fim do racismo e do sexismo
Desenvolvida em parceria pela ONU Mulheres e por comitê composto por ativistas sociais, a estratégia de comunicação e advocacy político “Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50” em 2030 está presente em três agendas de trabalho das Nações Unidas.
Uma delas é a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, adotada pelos Estados-membros da ONU para a qual foram elaborados 17 objetivos globais (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS).
Também está presente na iniciativa global “Por um Planeta 50-50 em 2030: um passo decisivo pela igualdade de gênero”, da ONU Mulheres, estabelecida com a finalidade de incidir sobre governos, empresas e sociedade na adoção de medidas concretas para o empoderamento das mulheres e meninas.
A estratégia também se inclui na Década Internacional de Afrodescendentes (2015-2024), proclamada pela Assembleia Geral da ONU, para a promoção dos direitos humanos da população negra mundial a partir dos pilares reconhecimento, justiça e desenvolvimento.
A iniciativa ancora-se, ainda, na Plataforma de Ação de Pequim (1995), adotada na 4ª Conferência Mundial sobre a Mulher, no Plano de Ação de Durban, adotado na 3ª Conferência Mundial Contra o Racismo, Discriminação Racial e Intolerâncias Correlatas.
Também está inserida no Marco de Parceria das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável 2017-2021, firmado entre a ONU e o governo brasileiro, que coloca como central a promoção da igualdade de gênero e raça e o enfrentamento do racismo para o cumprimento da Agenda 2030 no país.
Diálogos Mulheres Negras Rumo a um Planeta 50-50: contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver
Data: 20 de junho
Horário: das 14h às 19h
Local: Auditório da Finatec (Av. L3 Norte – Campus Universitário Darcy Ribeiro) – Universidade de Brasília
Inscrições: limitadas e gratuitas – bit.ly/inscricoes_MulheresNegras_UnB
Atividade com certificação da UnB e da ONU Mulheres