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História: Nossa Senhora da Conceição Aparecida, padroeira do Brasil

Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. (Foto: Luis Claudio Antunes/PortalR3)

Há 301 anos, imagem de Nossa Senhora Aparecida era retirada do rio Paraíba, em Aparecida (SP). Do livro do padre Júlio J. Brustolini (Editora Santuário, 1979, Aparecida/SP) transcrevemos a Narrativa do Encontro da Imagem da Santa escrita no 1º Livro Tombo da paróquia de Santo Antonio de Guaratinguetá, pelo pároco João de Morais e Aguiar, em agosto de 1757:

“No anno de 1719, pouco maes ou menos, passando por esta Villa para as Minas o Governador, dellas e de São Paulo, o conde de Assumar Dom Pedro de Almeida, foram notificados pela Câmara os pescadores para apresentarem todo o peixe que pudessem haver para o dito Governador. Entre muitos foram a pescar Domingos Martins Garcia, João Alves e Felippe Pedroso, em suas canoas; e principiando a lançar suas redes no porto de José Corrêa Leite, continuaram até o porto de Itaguassú, distancia bastante, sem tirar peixe algum, e lançando neste porto João Alves a sua rede de rasto, tirou o corpo da Senhora, sem cabeça; lançando mais abaixo outra vez a rede tirou a cabeça da mesma Senhora, não se sabendo nunca quem alli a lançasse. Guardou o inventor esta Imagem em um tal ou qual panno, e continuando a pescaria, não tendo até então tomado peixe algum, dalli por deante foi tão copiosa a pescaria em poucos lanços, que receioso, e os companheiros de naufragarem pelo muito peixe que tinham nas canoas, se retiraram a suas vivendas, admirados deste sucesso.

Vista da capela de Nossa Senhora Aparecida em 1817. Aquarela do pintor austríaco Thomas Ender. (Foto: reprodução)

Felippe Pedroso conservou esta Imagem seis annos pouco maes ou menos em sua casa junto a Lourenço de Sá; e passando para a Ponte Alta, alli a conservou em sua casa nove anos pouco maes ou menos. Daqui se passou a morar em Itaguassú, onde deu a Imagem a seu filho Athanasio Pedroso, o qual lhe fez um oratório tal e qual, e em um altar de páos colocou a Senhora, onde todos os sabbados se ajuntava a vizinhança a cantar o terço e mais devoções.

Primeira foto da Imagem, tirada em 1869 também por Robin & Favreau. (Foto: reprodução)

Em uma destas occasiões se apagaram duas luzes de cera da terra repen­tinamente, que alumiavam a Senhora, estando a noite serena, e que­rendo logo Silvana da Rocha accender as luzes apagadas também se viram logo de repente accesas sem intervir diligencia alguma; foi este o primeiro prodígio, e depois em outra semelhante occasião viram muitos tremores no nicho e altar da Senhora, que parecia cahir a Senhora, e as luzes tremulas, estando a noite serena. -Em outra semelhante occasião, em uma sexta-feira para o sabbado (o que succedeu varias vezes) juntando-se algumas pessoas para cantarem o terço, estando a Senhora em poder da Mãe Silvana da Rocha, guardada em uma caixa, ou bahú velho, ouviram dentro da caixa muito estrondo, muitas pessoas, das quaes se foi dilatando a fama até que patenteando-se muitos prodígios, que a Senhora fazia, foi crescendo a fé e dilatando-se a noticia, e che­gando ao R. Vigário José Alves Villela, este e outros devotos lhe edifica­ram uma capellinha e depois, demolida esta, edificaram no logar em que hoje está com grandeza e fervor dos devotos, com cujas esmolas tem chegado ao estado em que de presente está. Os prodígios desta Imagem foram authenticados por testemunhas que se acham no Summario sem Sentença, e ainda continua a Senhora com seus prodígios, acudindo á sua santa casa romeiros de partes muito distantes a gratificar os benefícios recebidos desta Senhora”.

Segundo o padre Brustolini, na narrativa do encontro “houve um erro de dois anos, pois o conde de Assumar esteve em Guaratinguetá em 1717, não em 1719, daí o fato de estarmos comemorando, em 2018, 301 anos de aparecimento da imagem.

Em 2018, a festa terá o tema ‘Em Jesus, com Maria, restauramos a vida’. (Foto: Luis Claudio Antunes/PortalR3)

A notícia da coroação da Padroeira do Brasil

Na edição de 20 de abril de 1902, o jornal Folha de Norte, de Pindamonhangaba, extinto órgão da imprensa da cidade, transcrevia para seus leitores a seguinte notícia publicada no jornal Folha da Aparecida, de 12 de abril de 1902, referente à coroação de Nossa Senhora Aparecida com Rainha do Brasil:

“Resoluções importantes foram tomadas pelos bispos brasileiros em concílio secreto reunidos em São Paulo ultimamente.

Dessas agora transpira a que diz respeito ao Santuário d’ Aparecida e que pela sua importância interessará ao povo católico brasileiro.

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A Coroação de Nossa Senhora Aparecida foi feita por Dom José de Camargo. (Foto: (Do livro do padre Júlio Brustoloni)

Trata-se de ser levada a efeito, ainda este ano, a coroação de Nossa Senhora Aparecida, cuja poética e branca ermida se eleva em uma colina próxima à cidade de Guaratinguetá e é sítio a que concorrem incessantes romarias de fiéis, provindos de todos os ângulos do Brasil e interessados em pagar a sua dívida de gratidão à excelsa Virgem, que operou milagres a seu favor.

Este ato, pela primeira vez realizado no Brasil, e que pela sua solenidade excepcional despertará grande interesse, será celebrado por dez bispos e com assistência de um enviado extraordinário representante de S.S. o Papa Leão XIII.

A cerimônia far-se-á com todo o esplendor, e com todas as praxes e formalidades do ritual. Sabe-se que para hospedar o representante do Papa, os bispos, o núncio apostólico e de mais altos membros do clero, que irão a Aparecia assistir a esse acontecimento, foi já adquirido por vinte contos de réis o edifício do Grande Hotel, no largo do Santuário, na Aparecida, o qual será ornamentado com luxo e mobiliado com o conforto necessário.”

A solenidade de coroação

A coroação ocorreria, entretanto, somente no dia 8 de setembro de 1904.

Sobre esse dia, vamos encontrar na obra do padre Júlio J. Brustoloni: A Senhora da Conceição Aparecida – História da Imagem da Capela das Romarias (Editora Santuário, Aparecida, SP- 1979) que “Num povoado de apenas 2.000 habitantes, realizou-se a maior concentração religiosa do povo acontecida no Brasil após a proclamação da República”.

Registra padre Brustoloni, baseado em uma extensa e inquestionável bibliografia, que desde às três horas da madrugada, padres e bispos peregrinos celebravam missas no altar-mor e nas laterais. Os cânticos e as preces dos fiéis elevavam-se em vozes uníssonas, um espetáculo maravilhoso que contagiou a multidão…”

Pela manhã, peregrinos de São Paulo e de cidades da região vale-paraibana se juntaram na estação e, em uma longa procissão, caminharam em direção à praça do Santuário, onde foram saudados por Dom José de Camargo.

“…Uma multidão aproximada de 15.000 pessoas se reuniu na praça da Capela, para o Solene Pontifical”. (Foto: reprodução/livro do padre Júlio Brustoloni)

Após a missa e a comunhão, ali pelas 9 horas, narra Brustoloni, “sai do convento o cortejo dos bispos e sacerdotes em solene procissão para o altar monumento, montado no adro da igreja. Muitos sacerdotes precediam a procissão, depois, os 14 prelados e por fim, precedidos pelos ministros e pelo padre Gebardo Wiggermann, trazendo numa almofada a coroa de ouro, o núncio apostólico Dom Júlio Tonti, que iria celebrar o solene pontifical.”

Encerrada a solene pontifical e a consagração a Nossa Senhora, foi feita a leitura do documento do Cabido de São Pedro e o cerimoniário anunciou a Solene Coroação da Imagem.

“Um silêncio profundo cai sobre a multidão, enquanto Dom José de Camargo, bispo de São Paulo que fora delegado pelo arcebispo Dom Joaquim, sobe os degraus até o trono onde se encontrava a imagem e com a coroa de ouro cravejada de rubis e diamantes doada pela princesa Isabel, coroou solenemente a imagem. E o povo prorrompe espontaneamente num uníssono viva a Nossa Senhora Aparecida. O relógio da torre, como anunciou o cronista, marcava 11 horas e 42 minutos.”

Em seguida, foi inaugurado o monumento da Imaculada na praça e, à tarde, realizada a procissão na qual participaram bispos, sacerdotes e o núncio apostólico.

Solenidade do Dia da Padroeira em 2013. (Foto: Célia Lima/PortalR3)

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