O caminho até São Bento do Sapucaí, distante cerca de 185 km da capital paulista e a 40 km de Campos do Jordão, já apresenta uma pequena mostra das belezas naturais da cidade da Serra da Mantiqueira. Localizado na divisa dos Estados de São Paulo e Minas Gerais, o município é cercado por araucárias, cachoeiras, e a topografia montanhosa com farta vegetação proporciona um clima ameno com temperatura média de 17°C e, por conta de suas condições climáticas e geográficas, São Bento do Sapucaí foi oficialmente reconhecida como Estância Climática. É nesse belo e agradável cenário que se encontra o Núcleo de Produção de Mudas (NPM), do Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes (DSMM), da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA) do Estado de São Paulo. Fundado em 16 de agosto de 1832, foi em 1944 que o Governo do Estado de São Paulo adquiriu o imóvel agrícola no município de São Bento do Sapucaí, onde hoje está instalado o Núcleo.
Com 100 hectares, as terras do local, no início, foram palco de inúmeros trabalhos realizados com pêssego, maçã, uva e outras variedades de fruteiras de clima temperado, espécies que se desenvolvem de forma satisfatória em clima ameno, o qual inibe, também, o ataque de pragas e o aparecimento de doenças. No entanto, os destaques se voltam para as primeiras oliveiras, introduzidas no Núcleo na década de 1950; para a atemoia brasileira, que nasceu na Fazenda do Estado, quando o agrônomo aposentado Takanoli Tokunaga pesquisou, na década de 1980, a fruta em outros países e a implantou em São Bento e para a castanha portuguesa, cuja muda passou, também em 1980, a ser produzida na mesma cidade.
Atualmente, o Núcleo conta com coleções de plantas fornecedoras de material de propagação de mais de 40 espécies de frutíferas diversas, florestais nativas e exóticas; e plantas hortícolas. No local, também são mantidos bancos de germoplasma (unidades de material genético para melhoramento das plantas) de fruteiras de clima temperado e subtropical. Além de ser um grande viveiro paulista, que produz, por ano, 250 mil mudas, e com capacidade física para produção anual de 500 mil, no local também são realizadas experimentações práticas e pesquisas, com o objetivo de gerar e adaptar tecnologia para dar suporte aos agricultores.
“O Núcleo de São Bento é nosso carro-chefe e tem como características diferenciais a inovação e a qualidade das mudas. Daqui saíram grandes tecnologias, como enxertias, por exemplo, que foram levadas para outras unidades de produção de mudas do Departamento e para o produtor rural”, avalia Ricardo Lorenzini, diretor do DSMM, que ainda enaltece a capacidade do corpo técnico da CATI. “Os profissionais do Núcleo de São Bento, que somam 18, são muito qualificados, engajados em suas atividades e oferecem, além de produtos diferenciados, orientações específicas aos que por eles procuram, seja por telefone, pessoalmente ou por meio dos seminários e eventos realizados na unidade”, reconhece Ricardo, que complementa que constantemente são organizados seminários que têm como temas a fruticultura de clima temperado, o cambuci, a castanha portuguesa, o caqui, entre outros.
De acordo com o diretor do Departamento, nos últimos anos foram realizados diversos investimentos para a melhoria da produção de todas as variedades da unidade e para a novidade anunciada nesta reportagem, que é a retomada da produção de mudas cítricas. Foram adquiridas estufas, equipamentos diversos, construído poço artesiano, instalada uma nova caixa d’água, contratado serviço terceirizado para aquisição de substratos, entre outras ações que permitem que cada vez mais se tenha qualidade nas mudas e se atenda de forma satisfatória os agricultores. “Importante destacar que toda nossa produção segue a legislação determinada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Inclusive, para a produção de citros, respeitamos as determinações da Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA), órgão que também integra a Secretaria de Agricultura”.
Retomada da produção de mudas cítricas
Construído recentemente e com 1.080 m², o viveiro de mudas cítricas tem capacidade de produção anual de 40 mil mudas de limão, lima ácida, tangerinas, laranjas, entre outras variedades. O foco é produzir para o mercado de mesa (focada diretamente no consumidor) e não para as grandes indústrias, oferecendo, dessa forma, importante atividade para pequenos e médios produtores, com maior agregação de valor por unidade de área cultivada. “Com essa retomada, pretendemos atender a uma brecha de mercado. Pensamos nos plantios e pomares menores, no uso da mão de obra regional e na venda local”, explica Amélio José Berti, engenheiro agrônomo do Núcleo, e que atua há 18 anos na unidade.
Como explicou Lorenzini, o local atende a todas as exigências da legislação para produção de mudas e há vários itens que comprovam essas determinações como antecâmara com pedilúvio, para desinfecção de calçados; equipamento para limpeza das mãos; piso adequado; telas específicas para ambiente protegido; mudas organizadas em bancadas; identificação das espécies; enxertias com borbulhas certificadas, entre outros aspectos.
“A diminuição na produção do citros se deu em razão de haver outras prioridades pela Secretaria de Agricultura, como ações mais emergenciais e até o desenvolvimento de tecnologias para diferentes culturas, por exemplo. No entanto a retomada acontece em um momento em que há espaço deixado pelo setor privado, situação que colabora para alavancar ainda mais o trabalho dos pequenos produtores”, esclarece Américo.
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