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Resposta brasileira aos venezuelanos é referência para outros governos, diz oficial da ONU

Refugiados venezuelanos posam para foto em seu novo abrigo em Igarassu, Pernambuco. (Foto: ACNUR/Allana Ferreira)

Ao combinar ajuda humanitária e integração socioeconômica, a inovadora resposta do governo brasileiro aos refugiados e migrantes venezuelanos que chegam ao país é uma boa prática que deve ser mais bem conhecida e replicada em outras ações emergenciais voltadas a esta população.

Essa visão foi expressa na última segunda-feira (25) pelo representante especial conjunto de Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e Organização Internacional para Migrações (OIM) para refugiados e migrantes venezuelanos, Eduardo Stein, durante reuniões em Brasília com os principais órgãos do governo brasileiro que trabalham na resposta humanitária.

Em seu primeiro contato com o novo governo brasileiro, Stein se reuniu com o Ministério das Relações Exteriores e com o Comitê Federal de Assistência Emergencial – um grupo interministerial que coordena a resposta aos venezuelanos que buscam proteção internacional no Brasil.

Stein reconheceu a liderança das autoridades nacionais e disse que a resposta brasileira é bem desenvolvida, pois abrange desde a assistência imediata na região de fronteira até a integração dos venezuelanos em diferentes partes do país.

A resposta, também conhecida como Operação Acolhida, envolve 11 ministérios e possui apoio e engajamento de organizações da sociedade civil e de diversas agências da ONU, como ACNUR, OIM, Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), Fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF), ONU Mulheres e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Em implementação desde março de 2018, a Operação Acolhida está organizada em três grandes frentes: ordenamento da fronteira, acolhimento e interiorização. Na fronteira, são oferecidos serviços de registro e documentação. Os abrigos temporários acolhem pessoas mais vulneráveis, com alimentação diária, distribuição de kits de higiene pessoal e outros itens de necessidade básica, assistência de saúde, aulas de português, atividades com crianças, atividades recreativas (sessões de cinema, rodas de conversa, etc), proteção e defesa de direitos. A integração a longo prazo de refugiados e migrantes venezuelanos se dá por meio da estratégia de realocação voluntária denominada de interiorização.

As atividades estão concentradas no estado de Roraima, mas a estratégia de realocar venezuelanos de forma voluntária expandiu o impacto da Operação Acolhida para outras partes do Brasil.

Em Roraima, 13 abrigos temporários acomodam cerca de 6.900 refugiados e migrantes venezuelanos. Aqueles que vivem foram dos abrigos (devido ao número limitado de vagas disponíveis) são apoiados com recursos para o pagamento de aluguel, distribuição de alimentos e transferência de assistência financeira emergencial. A estratégia de interiorização já envolve 50 municípios em 17 estados brasileiros.

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Segundo dados oficiais, mais de 240 mil venezuelanos entraram no Brasil desde 2017 (quase metade deles já saiu do país). Ao cruzar a fronteira brasileira, todos são identificados, vacinados e registrados. Cerca de 160 mil venezuelanos foram regularizados até o momento, seja pela solicitação de refúgio (59%) ou pela solicitação de residência temporária (41%).

Em sua passagem pelo Brasil, Eduardo Stein convidou o governo brasileiro a se unir ao Processo de Quito, que reúne vários países latino-americanos para fortalecer a assistência e a proteção de refugiados e migrantes venezuelanos e facilitar sua inclusão legal, social e econômica.

“Os países participantes do processo de Quito o veem como um fórum de consulta e compartilhamento de melhores práticas, no qual podem alcançar acordos de benefícios mútuos para facilitar a proteção de refugiados e migrantes venezuelanos de acordo com suas leis nacionais”, disse Stein durante as reuniões em Brasília. Nesse sentido, a Operação Acolhida é uma “experiência extremamente rica para outros governos da região que estão buscando soluções para o gerenciamento desse fluxo”.

Stein enfatizou que o processo de Quito respeita toda a legislação nacional e não interfere nos regulamentos internos. A próxima reunião regional deste processo terá lugar em Quito (Equador) na primeira semana de abril.

A visita do Representante Especial Conjunto do ACNUR-OIM para refugiados e migrantes venezuelanos no Brasil acontece quando o fluxo de venezuelanos atinge seu pico mais alto na região. As duas agências da ONU informaram que o número de refugiados e migrantes da Venezuela no mundo é atualmente de 3,4 milhões.

De acordo com dados das autoridades nacionais de imigração e outras fontes, os países da América Latina e do Caribe abrigam cerca de 2,7 milhões de venezuelanos, enquanto outras regiões respondem pelo restante.

Stein também elogiou as atividades de registro fornecidas aos venezuelanos no Brasil, uma vez que a documentação é sempe motivo de preocupação em todos os países que assistem refugiados e migrantes vindos da Venezuela. “É importante não apenas para as autoridades de segurança, mas também para a população venezuelana. Aqueles que são indocumentados são mais propensos a serem explorados, especialmente mulheres e crianças, enfrentando assim riscos adicionais de proteção ”, enfatizou Stein.

Ele também parabenizou as autoridades brasileiras por incluírem organizações da sociedade civil e agências, fundos e programas da ONU na estratégia de resposta conjunta.

“O processo de Quito é uma referência global, pois promove uma abordagem de ‘portas abertas’ e oferece um espaço de diálogo com a comunidade internacional. A experiência brasileira merece maior visibilidade, e o processo de Quito é uma oportunidade para fortalecer a colaboração entre os Estados”, concluiu Eduardo Stein.

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