O conjunto formado pela cidade histórica de Paraty e a Bacia da Ilha Grande, em Angra dos Reis, no sul fluminense, caminha para se tornar o mais novo patrimônio mundial da humanidade no Brasil. Um parecer técnico favorável ao título foi emitido esta semana pelos órgãos consultores da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) que concede o título, informou o Instituto Nacional do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan).
Um patrimônio da humanidade é um bem considerado de valor universal, independentemente da sua localização no planeta. O título é concedido pela Unesco, após criteriosa seleção, com base em análise técnica. O bem é, então, classificado como histórico, cultural ou misto. Atualmente, o país tem 21 locais que detém o título.
Conhecida por suas estreitas ruas de pedra, pelo casario antigo do século 19 e pela beleza de suas águas verdes, Paraty concorre como patrimônio misto, por conjugar os dois.
A inscrição foi feita pelo governo brasileiro, em 2018 – só é possível apresentar um bem como candidato por ano – e engloba uma área de 204 mil hectares, com 187 ilhas, áreas de preservação ambiental cortando seis municípios, além de várias comunidades tradicionais. Convivem ali quilombolas, indígenas e caiçaras em reservas como o Parque Nacional da Serra da Bocaina, a Área de Proteção Ambiental do Cairuçu e o Parque Estadual da Ilha Grande, sendo que este último está localizado na Bacia da Ilha Grande, em Angra dos Reis.
É na cidade que os amantes da leitura se reúnem todos os anos na tradicional Festa Literária de Paraty, a Flip, um dos eventos culturais mais importantes do país, e se juntam em celebrações religiosas populares, como a Festa do Divino Espírito Santo de Paraty.
Diversidade
Trata-se de uma região com enorme variedade de ambientes e fisionomias vegetais, constataram os técnicos da Unesco, em notificação ao Iphan. A União Internacional para a Conservação da Natureza destacou a grande variedade de plantas endêmicas da Mata Atlântica, com 57% de aves endêmicas do bioma. Já o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos) concluiu que a área inclui as comunidades e seus modos de vida, cosmologia, línguas e arte.
O anúncio oficial do título de patrimônio mundial deve ser feito entre 30 de junho e 10 de julho, na reunião anual do Comitê do Patrimônio Mundial, da Unesco, que se reúne, em Baku, no Azerbaijão, informou o diretor de Fomento e Cooperação do Iphan, Marcelo Brito.
“Na medida em que os órgãos consultivos da convenção, tanto o órgão da área cultural, quanto da área natural, dão pareceres favoráveis, recomendam a inscrição [na lista de patrimônio], a gente considera essas sinalizações positivas e entende que a tendência é o Comitê do Patrimônio Mundial acatar”, disse Brito. “Estamos muito felizes”.
Segunda candidatura
Esta é a segunda vez que o Brasil apresenta a candidatura de Paraty a patrimônio da humanidade. Em 2009, ao chegar na última etapa da avaliação, a candidatura foi rejeitada. A orientação dada foi reconfigurar a inscrição, com mais elementos, o que levou dez anos.
“Trouxemos especialistas para analisar o caminho, articulamos a dimensão cultural com a natural, que foi um grande desafio, e destacamos a presença das comunidades tradicionais”, explicou o diretor. “Este será o primeiro sítio da América Latina que tem uma cultura viva em um ambiente exuberante. Os demais são sítios arqueológicos em uma paisagem excepcional”.
Com a confirmação do título, Paraty e Ilha Grande, serão listados ao lado de Machu Picchu, no Peru, e o Monte Perdido, no maciço dos Pirineus, entre Espanha e França.
De acordo com Brito, além de favorecer o turismo, levando recursos, e a preservação ambiental, o título criará um compromisso internacional de proteção do patrimônio.
Os prefeitos de Paraty, Carlos José Gama Miranda, o Casé, e o de Angra dos Reis, Fernando Jordão, também comemoram, nas redes sociais. “Isso quer dizer mais turistas”, disse Jordão.