As descobertas do Índice de Pobreza Multidimensional (IPM) global de 2019 lançam luz sobre as disparidades relacionadas à forma como as pessoas vivenciam a pobreza, revelando vastas desigualdades entre os países e mesmo entre as pessoas pobres.
O IPM vai além da renda como único indicador de pobreza, explorando as formas pelas quais as pessoas vivenciam a pobreza em sua saúde, educação e padrão de vida.
Os resultados do IPM deste ano mostram que mais de dois terços dos multidimensionalmente pobres – 886 milhões de pessoas – vivem em países de renda média. Outros 440 milhões vivem em países de baixa renda. Em ambos os grupos, os dados mostram que médias nacionais simples podem esconder uma enorme desigualdade nos padrões de pobreza dentro dos países.
O conceito tradicional de pobreza está desatualizado, de acordo com relatório divulgado nesta quinta-feira (11) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e pela Oxford Poverty and Human Development Initiative (OPHI). Novos dados demonstram, mais claramente do que nunca, que rotular países – ou mesmo domicílios – como ricos e pobres é uma simplificação excessiva.
As descobertas do Índice de Pobreza Multidimensional (IPM) global de 2019 lançam luz sobre as disparidades relacionadas à forma como as pessoas vivenciam a pobreza, revelando vastas desigualdades entre os países e mesmo entre as pessoas pobres.
“Para combater a pobreza, é preciso saber onde as pessoas pobres vivem. Elas não estão uniformemente espalhadas por um país, nem mesmo dentro de um domicílio”, afirma o administrador do PNUD, Achim Steiner. “O Índice de Pobreza Multidimensional global de 2019 fornece informações detalhadas de que os formuladores de políticas precisam para direcioná-las com mais eficiência”.
O IPM vai além da renda como único indicador de pobreza, explorando as formas pelas quais as pessoas vivenciam a pobreza em sua saúde, educação e padrão de vida. Os resultados do IPM deste ano mostram que mais de dois terços dos multidimensionalmente pobres – 886 milhões de pessoas – vivem em países de renda média. Outros 440 milhões vivem em países de baixa renda. Em ambos os grupos, os dados mostram que médias nacionais simples podem esconder uma enorme desigualdade nos padrões de pobreza dentro dos países.
Por exemplo, em Uganda, 55% da população vivencia a pobreza multidimensional – média semelhante à da África subsaariana. Mas a capital Kampala tem uma taxa de IPM de 6%, enquanto na região de Karamoja o IPM sobe para 96% – o que significa que partes de Uganda abrangem os extremos da África subsaariana.
A desigualdade existe até sob o mesmo teto. No sul da Ásia, por exemplo, quase um quarto das crianças com menos de cinco anos vive em lares onde pelo menos uma criança da família está desnutrida, mas pelo menos uma criança não está.
“Precisamos – mesmo entre os que vivem na pobreza – compreender as diferentes experiências de privação das pessoas. Elas estão desnutridas? Elas podem ir à escola? Só assim as políticas de redução da pobreza serão eficientes e eficazes”, afirma o diretor do Escritório do Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD, Pedro Conceição.
Há também desigualdade entre os pobres. Os resultados do IPM global de 2019 mostram uma imagem detalhada das muitas diferenças em como – e quão profundamente – as pessoas vivenciam a pobreza. As privações entre os pobres variam enormemente: em geral, valores mais altos de IPM andam de mãos dadas com maior variação na intensidade da pobreza.
Os resultados também mostram que as crianças sofrem mais intensamente com a pobreza do que os adultos e estão mais propensas à privação em todos os 10 indicadores do IPM, com a falta de elementos essenciais como água potável, saneamento, nutrição adequada ou educação primária.
Ainda mais surpreendente é que uma em cada três crianças ao redor do mundo é multidimensionalmente pobre, em comparação com um em cada seis adultos. Isso significa que quase metade das pessoas que vive em pobreza multidimensional – 663 milhões – são crianças, e as crianças mais novas carregam o maior fardo.
Mas os novos dados também mostram uma tendência positiva: os países mais atrasados são os que estão subindo mais depressa.
“Analisamos os dados de um grupo de dez países de rendas média e baixa e descobrimos a encorajadora novidade de que os 40% de baixo estavam se movendo mais rapidamente do que o resto”, diz a diretora da OPHI, Sabina Alkire. “Esse é um padrão favoráel aos pobres que reduz as desigualdades em vários Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)”.
Os dados mostram ainda que, dentro desses dez países, 270 milhões de pessoas deixaram a pobreza multidimensional entre uma pesquisa e outra. Esse progresso foi, em grande parte, impulsionado pelo sul da Ásia: na Índia, havia 271 milhões de pobres a menos em 2016 em relação a 2006; enquanto em Bangladesh esse número caiu 19 milhões entre 2004 e 2014. Em outros países houve menos – ou nenhuma – redução absoluta, com o número de multidimensionalmente pobres aumentando em 28 milhões nos três países africanos considerados. Em parte, isso ocorreu devido ao rápido crescimento populacional, que superou as reduções na pobreza. Na verdade, as taxas de pobreza (como porcentagem da população) diminuíram na maioria dos países.
O IPM global de 2019 traça um quadro detalhado da pobreza para 101 países e 1.119 regiões subnacionais, cobrindo 76% da população global e indo além de medidas simples baseadas na renda para observar como as pessoas vivenciam a pobreza todos os dias.
Acesse os dados na íntegra: hdr.undp.org/en/2019-MPI