O Zoológico de São Paulo começou a apresentar aos visitantes na segunda-feira (28) duas raposinhas-do-campo, espécie ameaçada de extinção e somente encontrada no Brasil, em áreas de Cerrado. Dentre o grupo dos canídeos do mundo (família dos lobos, chacais, coiotes, cães e raposas), a raposinha-do-campo figura entre as espécies menos estudadas, o que faz dela ainda pouco conhecida não só do público em geral, mas também da comunidade científica.
As duas fêmeas que chegaram ao Zoo não são parentes. As duas foram resgatadas em situação de risco, consequência de desequilíbrios ambientais decorrentes de ações humanas (como queimadas e desmatamento). Uma delas foi entregue ao Centro de Medicina e Pesquisa em Animais Selvagens, da Unesp de Botucatu, em novembro de 2018. Uma família de Americana, no interior de São Paulo, levou o animal depois de acreditar que estava criando um cão doméstico.
A outra fêmea foi encontrada ainda filhote e sozinha em uma empresa em Avaré, também no interior. Ela também foi encaminhada à Unesp de Botucatu, em outubro de 2018, pelo Corpo de Bombeiros.
Recentemente, técnicos do Setor de Mamíferos deram a elas os nomes de Simone e Simaria, uma homenagem à dupla sertaneja feminina que também tem uma forte ligação com a região Central do país, Goiás, em virtude do estilo musical, sendo o local também uma das moradas das raposinhas.
Elas foram levadas ao Zoo em julho e permaneceram por meses em observação para avaliação clínica e comportamental. Depois as raposinhas foram transferidas para um recinto amplo, com vegetação rasteira, troncos, pontos de fuga e outros recursos ambientais que remetem ao Cerrado para estimular comportamentos naturais da espécie, como demarcar território e se abrigar em tocas, por exemplo.
O trabalho do Zoo
O fato de a espécie ser pouco estudada e estar ameaçada de extinção motivou a Fundação Parque Zoológico de São Paulo a receber as duas fêmeas para compor o atual plantel da instituição. Dessa forma, a fundação vai começar a estudar um protocolo de manejo em cativeiro, já que a escassez de informações sobre a espécie é um grande entrave para o avanço de projetos de conservação ex situ (ou seja, fora do lugar de origem).
Desde 2012, o Zoológico de São Paulo é parceiro do Programa de Conservação Mamíferos do Cerrado (PCMC), por meio de seu Núcleo de Atividades In Situ (NAIS) ligado ao Departamento de Pesquisas Aplicadas. Há anos a fundação estuda diferentes aspectos da população de raposinhas na natureza, em Cumari, Goiás, monitorando os indivíduos que receberam colar radiotransmissor para a compreensão da área de vida e ecologia, além do desenvolvimento de ações educativas junto à população local.
Estas informações aliadas às obtidas com os animais cativos permitirão atuar de forma integrada, traçando parâmetros em diversas linhas de pesquisa, visando um aporte maior de informações científicas que irão contribuir para um melhor entendimento da biologia e comportamento da espécie.
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