A Universidade de São Paulo (USP) e o Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP) estão se preparando para iniciar a produção em escala do ventilador pulmonar emergencial Inspire, desenvolvido por uma equipe de pesquisadores da Escola Politécnica (Poli).
Na última sexta-feira (8), o reitor da universidade, Vahan Agopyan, a diretora da Escola Politécnica, Liedi Legi Bariani Bernucci, e os professores Raul Gonzalez Lima, Marcelo Knörich Zuffo e Dario Gramorelli, visitaram as instalações do Centro Tecnológico que são preparadas para iniciar a produção.
Tecnologia nacional
O Inspire é um ventilador pulmonar emergencial de baixo custo, que pode ser produzido em até duas horas, com tecnologia nacional, sendo mais barato dos que os aparelhos disponíveis no mercado.
“Estamos vivendo um momento único e temos uma responsabilidade muito grande. Não podemos descansar quando há pessoas morrendo. Essa pandemia mostrou que há a necessidade de o País ter sua indústria, sua própria tecnologia. Não podemos ser dependentes”, salientou Vahan Agopyan ao Jornal da USP.
O diretor do Centro de Coordenação de Estudos da Marinha em São Paulo, capitão-de-mar-e-guerra Paulo Henrique da Rocha, apresentou a estrutura de produção que já está montada. Nos próximos dias, terão início os testes de produção para o primeiro lote. A previsão é de que em duas semanas os primeiros aparelhos possam ser distribuídos.
Estima-se que o CTMSP tenha capacidade para produzir entre 25 e 50 ventiladores pulmonares por dia e essa capacidade poderá ser ampliada caso haja necessidade.
“Ter a oportunidade de participar desse projeto é motivo de orgulho para todos nós porque a missão da Marinha é proteger os brasileiros e esta é uma forma de proteger os brasileiros. Nesta sexta (8), a USP e a Marinha completam 64 anos de uma longa e produtiva parceria. Essa data é ainda mais especial nesse momento crítico que estamos vivendo, diante da grave ameaça à população mundial”, destacou o vice-almirante Noriaki Wada, diretor do CTMSP, ao Jornal da USP.
A diretora da Poli, Liedi Legi Bariani Bernucci, aproveitou a ocasião para agradecer ao apoio logístico que a Marinha tem prestado, especialmente na distribuição de 3 mil face shields — protetores faciais utilizados como equipamentos de proteção individual (EPI) – produzidos pela Escola e entregues gratuitamente a hospitais públicos.
Inspire
A ideia de desenvolver um ventilador pulmonar de baixo custo, livre de patente, de rápida produção e com insumos nacionais surgiu ainda em março. O Projeto do Ventilador Pulmonar Inspire foi criado com o objetivo de oferecer uma alternativa para suprir uma possível demanda emergencial do aparelho causada pela pandemia da COVID-19, doença causada pelo novo coronavírus.
Desde então, uma equipe multidisciplinar de pesquisadores da Poli, coordenada pelos professores Marcelo Knörich Zuffo e Raúl Gonzalez Lima, tem trabalhado para viabilizar o Inspire.
Em abril, o projeto foi aprovado nas etapas finais de testes, realizados com quatro pacientes do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. O respirador foi considerado aprovado em todos os modos de uso e não houve nenhum problema com os pacientes ventilados.
O projeto também tem a participação de pesquisadores de diversas unidades da USP e outras instituições, e conta com doações de parceiros da iniciativa privada. O aparelho foi registrado com uma licença open source, que permite a qualquer pessoa ou empresa acessar o protocolo de manufatura e fabricá-lo, bastando, para tanto, obter uma autorização da Anvisa.
Parceria
A visita do reitor ao Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo acontece exatamente no dia em que a universidade e a Marinha completam 64 anos de parceria. O convênio teve início em 1956, quando a Marinha decidiu se associar a uma grande universidade para que suas pesquisas na área de ciência e tecnologia fossem conduzidas por uma instituição acadêmica civil.
A parceria resultou na criação do primeiro curso de Engenharia Naval do País, oferecido pela Poli. Ao todo, já foram formados mais de 500 oficiais engenheiros para a Marinha e cerca de dois mil engenheiros navais civis. As pesquisas desenvolvidas em conjunto resultaram na incorporação de inovações por parte da Marinha e de empresas que atuam no setor naval ou na região oceânica.
Entre os avanços obtidos estão o desenvolvimento do primeiro computador brasileiro, o Patinho Feio, ainda no começo da década de 1970; a evolução na área de construção de reatores e segurança nuclear; o avanço em automação e controle promovido pelo desenvolvimento de inovações necessárias para as fragatas e corvetas; e o conhecimento produzido pelo Tanque de Provas Numérico (TPN) e sua estrutura de simulação.