Todos os dias eles se fazem presentes na vida militar. Muitas vezes, trabalham nos bastidores para garantir a saúde da humanidade. Eles são os veterinários!
Na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), o Hospital Veterinário (HVET) não tem dia e nem hora para colocar em prática as inúmeras atribuições. “A função do oficial veterinário é muito mais abrangente do que cuidar do emprego dos caninos e equinos. Somos também os responsáveis pela inspeção dos alimentos e da água e controlamos as pragas urbanas com a atuação da Vigilância Sanitária Ambiental”, afirma Major Gerson, Diretor do HVET.
Atualmente, o hospital tem sob sua responsabilidade 184 cavalos com aptidão militar pertencentes ao Curso de Cavalaria e Seção de Equitação, e 12 cães de guerra devidamente guardados, treinados e coordenados pela equipe.
Durante o treinamento, a cadela Lassie, da raça Pastor Belga Malinois, se diverte ao encarar como uma grande brincadeira umas das sérias operações desencadeadas pela AMAN: as funções de faro de entorpecentes. Esses animais também são empregados na instrução de Cadetes e no patrulhamento da área acadêmica.
Desde a mais branda enfermidade até a que exige intervenção cirúrgica, esses profissionais estão de olho em cada cavalo encaminhado aos cuidados do Hospital. São tomadas todas as medidas para garantir o retorno do animal às suas atividades. “Quando é somente um acompanhamento fisioterapêutico, os bichos ficam nos piquetes. Se for preciso uma avaliação, eles seguem para enfermaria e ambulatório. Em caso de tratamento dentário, lesão em ligamentos, tendões e musculatura, raio-x, ultrassons e até cirurgias de síndrome de cólica equina, são levados para o centro cirúrgico”, revela Major Fabiano, que, juntamente com outros militares, cuida das baias de isolamento e internação, onde ficam em quarentena de até 15 dias, animais com suspeita de alguma endemia ou que estão em tratamento.
Dependendo da gravidade da cirurgia, quase todo o hospital é mobilizado. “Há situações em que até cinco veterinários participam do procedimento cirúrgico, que pode levar até quatro horas para ser concluído”, destaca Major Gerson.
O Centro Cirúrgico, inaugurado em 2000, exatamente num dia 17 de junho, foi o primeiro do Exército Brasileiro, e segue em funcionamento ininterrupto durante essas duas décadas. Motivo de orgulho para o 1º Tenente Emídio. O veterinário revela que a tecnologia ajuda na prevenção dos problemas dos equinos. “Por ano, realizamos 150 procedimentos de raio-x e ultrassons. Número elevado que reflete o cuidado extremo que temos com esses animais, tendo em vista seu grande emprego nas atividades dos Cadetes e Oficiais”, avalia.
E a saúde dos “pés” dos cavalos passa pelas “mãos” de experientes militares. O 2º Sargento Ribeiro, é o responsável pelo setor de casqueamento e ferrageamento em equinos, que molda a ferradura, de acordo com o casco do animal. Além dos números do quanto se trabalha, ele também revela um cuidado curioso. “Por dia, ferramos oito cavalos, o que dá 120 por mês. Essa é a parte básica da equitação. Imagine um militar estar se preparando para uma prova importante e ser surpreendido por algo errado no andar do cavalo. Há muita seriedade na competição e em nossa profissão”, destaca Ribeiro.
Os veterinários do HVet também estão diretamente conectados com outras atividades dentro da AMAN. A 1º Tenente Luana, é a Adjunta do Laboratório de Inspeção de Alimentos e Bromatologia (LIAB), da AMAN. É neste local, que o profissionalismo e as análises diárias e mensais garantem a higidez da tropa. O levantamento físico-químico das 12 mil refeições diárias, da água disponível em mais de 30 pontos da Academia, e das rações animais da instituição e até de algumas outras Organizações Militares é feita pelo HVet.
“Fazemos a coleta da água na AMAN. Analisamos, desde os bebedouros até outros pontos nos pavilhões. Assim que coletada, verificamos a parte microbiológica dessa água. Além desse recurso, também controlamos a validade e a temperatura dos alimentos armazenados”, destaca a veterinária.
Em meio a esse turbilhão de atividades, eles também estão atentos a inimigos que parecem ser invisíveis, mas que representam um grande risco à tropa e à comunidade externa. É na Seção de Vigilância Sanitária e Ambiental, que o Capitão Arantes, destaca o trabalho de controle de animais sinantrópicos, nebulização e desinfecção, esta última mais demandada por conta da pandemia de COVID-19. “Gerimos riscos sanitários e reduzimos os danos ambientais, com esse controle vigilante. Para que consigamos seguir com nossas missões, como exemplos, a Manobra Escolar e as demais instruções dos Cadetes, cuidamos da prevenção e da limpeza da área para evitar a proliferação de carrapatos, grandes vetores de diversas doenças”, salienta o Chefe da Seção de Vigilância Sanitária e Ambiental.
Pela dedicação e pelos exemplos demonstrados, pode-se dizer que o veterinário cura o homem. E essa visão humanista foi trazida ao Brasil pelo médico Coronel João Muniz Barreto de Aragão, Patrono do Serviço de Veterinária do Exército, durante uma missão francesa, no início do século 20. Foi por esses esforços para controlar a tuberculose, que surgiu o primeiro curso de medicina veterinária no país: a Escola Veterinária do Exército.
Buscando o bem-estar da tropa, seja na parte de alimentação ou na parte de zoonoses, é que o trabalho desses profissionais tem resultado no impacto positivo direto à saúde dos militares.
* Com informações da AMAN