Com uma lucidez de impressionar, o senhor Francisco Leal, ou tenente Leal, recebeu com alegria todos os que foram lhe prestar homenagem pelos seus 98 anos de vida, no dia 12 de agosto, em Volta Redonda. Dentre os idealizadores do encontro, a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), família, amigos e Associações de preservação da memória dos ex-combatentes do Exército Brasileiro.
O segredo da jovialidade do quase centenário Ten Leal talvez esteja nas lembranças de uma vida dedicada em prol da humanidade. Ele integrou a FEB (Força Expedicionária Brasileira) e lutou pelo Brasil, em solo italiano, durante a II Guerra Mundial.
Ten Leal é um dos últimos pracinhas vivos. A luta pela preservação dessa história tem sido uma das missões da filha, dona Isalete Leal. “Meu pai é um patrimônio da humanidade, tê-lo vivo em meio a nós é uma dádiva. Devemos valorizar esse legado tão importante para o Brasil e para o mundo”, afirma.
Com uma cerimônia simples realizada na rua onde o ex-combatente vive, desde 1952, quando veio trabalhar na Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda, o reservista foi homenageado pela Banda da AMAN, que executou o toque e o exórdio da presença de ex-combatente e a canção do Expedicionário.
Por questões de segurança em tempos de pandemia da COVID-19, os presentes se mantiveram de máscaras e o ex-combatente assistiu da varanda de casa a tão merecida homenagem.
A filha Isalete fez a leitura de um discurso emocionado sobre a trajetória do pai, desde a luta na guerra, ainda como Cabo Leal, até os dias de hoje.
“Papai lutou à frente de quatro armas na guerra (Cavalaria, Artilharia, Infantaria e Comunicações). Enquanto estiver viva, serei defensora dessa memória”, ressaltou Dona Isalete.
Cabo Leal foi para a Itália como Infante no Terceiro Escalão e zarpou para a Europa em setembro de 1944. Em terras italianas, passou por diversas regiões, como Abetaia, Bibiano, Vale do Rio Reno, Vale do Pó, Parma e Lombardia. Lutou em três grandes batalhas: Monte Castelo, Montese e Fornovo di Taro, sendo esta última, a mais importante, pois capturaram a 148ª Divisão da Wehrmacht (o exército da Alemanha Nazista). Em 11 de agosto de 1945, dia do seu aniversário, embarcou no navio que viria de volta para o Brasil, chegando em solo nacional, no Porto do Rio de Janeiro, em 22 de agosto daquele ano.
O Subcomandante da AMAN, Cel Sibinel, ressaltou o reconhecimento que a instituição tem pela luta do Ten Leal. “Sem dúvidas, o senhor é uma referência a todos nós. Que possamos estar vários anos comemorando essa data, junto à sua família e aos seus amigos”, afirmou Subcomandante, ao pedir a dois Cadetes, o maior símbolo da Academia, que entregassem uma singela lembrança da AMAN ao ex-combatente.
Para a historiadora Elen Vasconcelos, da Associação dos Ex-Combatentes do Brasil- Seção Valença, senhor Leal é o símbolo de responsabilidade, compromisso e dedicação. “Sua trajetória é exemplar às antigas e novas gerações, tanto que Ten Leal é um dos pioneiros da criação da Associação. O objetivo com a idealização e construção dessas organizações, foi também reorganizar a vida desses militares, após voltarem do combate. Por isso, para nós, ele representa um símbolo de liberdade”, afirma a especialista.
Ten Leal alistou-se no Exército como qualquer jovem deve fazer, assim que completa 18 anos.
Com a mesma certeza de um passado que parece distante, mas que a memória o traz vivo em todos os seus dias, ele encoraja os mais novos à carreira militar. “Levem com seriedade aquilo que escolheram para suas vidas. Eu estou muito orgulhoso por tudo o que lutei até aqui e também pelas homenagens que venho recebendo ao longo da vida”, destacou Ten Leal.
Um bolo selou o evento. O apagar das velas, quase que centenárias, foi brindado ao som do parabéns, executado pela banda da AMAN.
* Com informações da AMAN
ASSISTA