A histórica medalha de prata conquistada no revezamento 4×100 m nos Jogos Olímpicos de Sydney completa 20 anos nesta quarta-feira (30/9). Treinados por Jayme Netto Júnior, a equipe formada por Vicente Lenilson, Edson Luciano Ribeiro e Claudinei Quirino completou a prova em 37.90, recorde sul-americano que resistiu até o Mundial de Doha, em 2019, quando o Brasil correu em 37.72, ficando na quarta colocação.
Em Sydney, o Brasil ainda contou com Claudio Roberto Sousa, que correu a semifinal em substituição a Claudinei Quirino, poupado para disputar a final dos 200 m (6º lugar), e Raphael Raymundo de Oliveira, reserva.
A equipe fez uma corrida perfeita, mostrando a mesma habilidade na troca de bastão que já havia demonstrado na conquista do ouro nos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg-1999 e a de bronze no Mundial de Sevilha-1999.
“O grande segredo da equipe foi, sem dúvida, a superação. Treinávamos em Presidente Prudente (SP), em condições precárias. A pista estava muito ruim. Tínhamos de viajar constantemente para Maringá (PR) ou São José do Rio Preto (SP), que tinham pistas melhores de borracha”, lembrou o técnico Jayme Netto Júnior. “A capacidade do grupo de superação foi enorme. É verdade que vínhamos de momentos bons desde o Pan no ano anterior, mas a equipe fez muitos treinos, teve de trabalhar muito. Correram em nome do Brasil, pois não tínhamos um capitão, todos eram iguais”, comentou sobre o desempenho da seleção, superada apenas pelos Estados Unidos, com 37.61, e ficando à frente de Cuba (38.04) e da Jamaica (38.20).
Jayme, aliás, é apontado como o grande responsável pela medalha por Claudinei Quirino. “Foi um dos maiores feitos da minha vida esportiva. Claro que já tinha um vice-campeonato mundial, obtido nos 200 m em Sevilha, mas todo atleta sonha em participar de uma olimpíada e ganhar uma medalha. O sonho foi realizado”, disse o paulista Claudinei. “Todos depois da conquista diziam nós éramos bons, rápidos, os melhores. Mas hoje, um pouco mais velho, tenho certeza de que o grande vencedor foi o Jayme. Ele conseguiu controlar a vaidade do grupo, cada um era campeão, era adversário nas pistas. O Jayme conseguiu montar uma verdadeira equipe. Quando falo da medalha com os meus filhos, eu, que tenho pouco contato com o Jayme, lembro o poder que ele teve de transformar quatro pessoas totalmente diferentes num grupo.”
Vicente Lenilson de Lima, que abriu a prova, faz questão de agradecer a todos que o ajudaram na conquista desde os companheiros titulares, os reservas, o treinador e o fisioterapeuta Marcelo Pastre, da CBAt e COB. “Não posso esquecer de Deus e de meus familiares. O técnico José dos Santos Figueiredo e a atleta Magnólia Figueiredo acreditaram no sonho de um garoto e me colocaram dentro da casa deles. Pouco tempo depois eu estava com índice olímpico e a medalha. Senti um pouco o adutor direito, não comentei com ninguém. Só pouco antes da final falei com o Edson, e ele me passou confiança e, mesmo inseguro por causa da dor, cheguei firme e forte. Hoje trabalho como Coordenador de Esporte do Estado do Mato Grosso. A medalha é a responsável por esse cargo, já que me tornou num homem melhor, um conhecedor de esportes”, concluiu o potiguar.
Edson Luciano e André Domingos eram os veteranos da conquista do bronze nos Jogos de Atlanta-1996, ao lado de Robson Caetano e Arnaldo de Oliveira. Edson lembra a enorme tensão na final. “Estava tão nervoso que nem conseguia rezar, meu corpo doía dos pés à cabeça. Faltando alguns minutos para o tiro de largada, enquanto arrumávamos as marcas no setor de passagem, começou a premiação do dardo feminino, no telão do estádio rolou um clipe com apresentação das vencedoras da prova ao som de uma música eletrônica com imagens das atletas fazendo os lançamentos, foi aí que me dei conta que estava em uma final olímpica e que aquele era o meu momento. Consegui me acalmar. O que sei e lembro eu vejo nos vídeos, foi tudo automático, para ser sincero me lembro de flashes da volta olímpica, do mortal de costas que dei antes de subir ao pódio”, comentou Edson Luciano. “Nossa equipe tinha a melhor passagem de bastão do mundo, sem exageros, Não éramos os mais rápidos, mas éramos os mais técnicos”, finalizou o paranaense.
Já André lembra a forte pressão que a equipe sofria, principalmente porque na semifinal um erro acabou causando a derrota para Cuba. “Na pista de aquecimento, anexa ao estádio, só pensava que não poderíamos errar. Na largada, vi que todos os atletas estavam nervosos também, diante de um estádio lotado”, lembrou André. “Peguei o bastão do Edson, corri muito, cheguei tão forte em cima do Claudinei, que passei o bastão espremido nas costas dele. Vi pelo telão que vencemos Cuba e chegamos no calo do americano. Medalha inesquecível”, completou o paulista, que também agradeceu a todos os envolvidos na preparação do grupo.
Além dos quatro titulares, Cláudio Roberto, que correu a semifinal, também tinha direito à medalha olímpica – prêmio que ainda não recebeu 20 anos depois. Ele tem a promessa do Comitê Olímpico Internacional de receber ainda este ano. “Acho que há males que vêm para bem, sinceramente. Posso ser o único brasileiro a ganhar uma medalha em 2020, já que os Jogos de Tóquio foram adiados para 2021”, comentou o piauiense. “Por não ter recebido a prata, começaram a falar do assunto e da história do revezamento. Acho que a minha participação ficou ainda mais valorizada. Tive paciência, não entrei em polêmica. Deu certo. Contaram mais a história. O André me deu uma réplica há quatro anos, mas estou na expectativa de ter a original e mostrar para todo o mundo.”