Cientistas brasileiros e estrangeiros que estão na corrida pela vacina para pôr fim à pandemia vão falar sobre suas pesquisas em perfis na plataforma TikTok. A ação global foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) e envolve profissionais de vários países do mundo e de respeitadas instituições como a Universidade de São Paulo (USP), Harvard, Imperial College London e Wits University. O objetivo é atualizar e aproximar o público do trabalho que vem sendo realizado na pesquisa pelas vacinas. Acesso o site oficial.
A iniciativa, chamada no Brasil de #EquipeHalo – em inglês #TeamHalo –, irá revelar o cotidiano dos cientistas, chamados de “guias”, que trabalham com as pesquisas pelas vacinas em países como Reino Unido, EUA, África do Sul, Índia e Brasil. De forma voluntária, eles irão contar suas histórias e postar vídeos que destacam a seriedade e o empenho de todos em conter a pandemia, além de responder perguntas do público e esclarecer sobre boatos e informações incorretas. Os cientistas desejam enfatizar a natureza global do trabalho e reconhecer a contribuição de milhares de pessoas ao redor do mundo.
O TikTok foi escolhido para sediar a ação pois permite aos pesquisadores contar histórias sérias de uma forma criativa e envolvente, em prol de tornar a ciência acessível e didática para públicos de diferentes idades e perfis. O projeto conta com apoio do Verificado, iniciativa global da ONU, Vaccine Confidence Project e GAVI – Aliança das Vacinas.
“Em um momento em que médicos e cientistas de todo o mundo trabalham incansavelmente para informar o público sobre os perigos da COVID-19 e o progresso nas vacinas, nós damos as boas-vindas a #EquipeHalo como uma forma de compartilhar conteúdo sobre o assunto através do TikTok. O TikTok permite se expressar de forma positiva e criativa e pode ajudar esses heróis do dia a dia a educar e alcançar o público de uma forma envolvente, ao mesmo tempo em que auxilia a nossa comunidade a se manter segura e informada durante esses tempos desafiadores”, diz Matthew Harris, chefe do TikTok for Good/Europa.
O Brasil começa com três guias: os pesquisadores Gustavo Cabral de Miranda e Natalia Pasternak e o biofísico Rômulo Neris. Novos nomes serão anunciados em breve. Gustavo de Miranda lidera a pesquisa de desenvolvimento de vacinas contra o novo coronavírus, assim como vacinas para chikungunya e zika vírus, no Departamento de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.
Natalia Pasternak atua como pesquisadora visitante do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, no Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas (LDV), e diretora-presidente do Instituto Questão de Ciência. Enquanto Rômulo Neris tem como foco de sua pesquisa de doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro a forma como o sistema imune reage ao novo coronavírus.
“A informação científica de qualidade precisa circular nas redes sociais de forma fácil, acessível e didática. O sentimento antivacinas no Brasil e no mundo está crescendo, e não deve ser subestimado. Participar de uma iniciativa mundial, representando o Brasil, é uma honra e uma ótima oportunidade para divulgar ciência neste mar de desinformação”, afirma Natalia Pasternak.
Melissa Fleming, sub-secretária-geral de Comunicação Global da ONU, conta que a desinformação minou a confiança do público nas vacinas. “A #EquipeHalo pretende recuperar essa confiança. São pessoas incríveis fazendo a ciência ser parte de uma colaboração global. Devemos comemorar o fato destes profissionais nos ajudarem a colocar um fim nesta terrível pandemia”, declara.
Depoimentos de outros participantes da ação global
“Somos pioneiros em testes em humanos de uma nova vacina para a COVID-19 e estou muito animada em compartilhar um pouco da ciência e das pessoas envolvidas em meu trabalho. Estou acostumada a passar muito tempo olhando microscópios e analisando dados. Falar nas redes sociais me deixa um pouco nervosa, mas é importante que desmistifiquemos nosso trabalho e o tornemos mais acessível ao mundo. A #EquipeHalo também permitirá que os cientistas respondam perguntas do público e esclareçam informações incorretas sobre vacinas e boatos que estão se espalhando na internet.
Anna Blakney, bioengenheira na linha de frente do desenvolvimento da vacina contra a COVID-19 no Imperial College London.“Construir confiança na vacina requer empatia e transparência com as pessoas, que muitas vezes podem ser céticas em relação aos governos e empresas envolvidas no processo de desenvolvimento. A #EquipeHalo espera mostrar que os cientistas são seres humanos normais e cuidadosos, realizando um trabalho extraordinário. São heróis do cotidiano que estão vivendo esta pandemia como o resto de nós, enquanto usam a ciência mais recente para nos ajudar a encontrar uma saída. Os cientistas que participam da #EquipeHalo, conhecidos como ‘Guias’, desejam enfatizar a natureza global de seu trabalho e reconhecer a contribuição de milhares (de profissionais) em todo o mundo”.
Heidi Larson, fundadora do projeto Vaccine Confidence e especialista em construir confiança em vacinas
“A ciência que usamos foi construída em centenas de anos de descoberta humana compartilhada. As equipes com as quais trabalhamos vêm de todo o mundo. Ouvimos muito sobre os esforços de países individuais para encontrar uma vacina, mas a realidade é que sempre foi um esforço global. Quer sejam as equipes internacionais trabalhando em qualquer laboratório ou a colaboração além das fronteiras desde os primeiros dias desta crise, temos tentado deter o vírus juntos”.Shiv Pillai, professor de Medicina e Ciências da Saúde e Tecnologia da Harvard Medical School
Biografias
Natalia Pasternak: Atua como pesquisadora visitante do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, no Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas (LDV). É membro da Science Teaching Fellows Alumni Community da American Society for Microbiology, editora da revista “Questão de Ciência” e diretora presidente do Instituto Questão de Ciência (www.iqc.org.br), a primeira instituição brasileira para promoção de pensamento crítico e políticas públicas baseadas em evidências científicas. É colunista do jornal O Globo, das revistas The Skeptic (Reino Unido) e Veja Saúde e autora do livro “Ciência no Cotidiano”, da editora Contexto. Ela é formada em ciências biológicas pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) e tem PhD com pós-doutorado em Microbiologia, na área de Genética Molecular de Bactérias pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP). Foi diretora no Brasil do Festival Internacional de Divulgação Científica Pint of Science – Um Brinde à Ciência, coordenando palestras em 85 cidades.
Gustavo Cabral de Miranda: Cientista/Pesquisador na FAPESP, Gustavo lidera a pesquisa de desenvolvimento de vacinas contra o coronavírus gerador da COVID-19, assim como vacinas para chikungunya e zika vírus, no Departamento de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP. A estratégia de pesquisa para produção das vacinas é baseada no uso de “partículas semelhantes a vírus” (VLPs, na sigla em inglês), tema de seus pós-doutorados no Instituto Jenner (Universidade de Oxford), na Inglaterra, e no Hospital Universitário Inselspital (Universidade de Berna), na Suíça. O pesquisador saiu do pequeno povoado de Creguenhém, no município de Tucanos (BA), para estudar ciências biológicas na Universidade do Estado da Bahia (Uneb). Graças a bolsas de investimento à pesquisa, conseguiu também concluir o mestrado em Imunologia na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e o doutorado no Departamento de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB-IV) da Universidade de São Paulo (USP). Gustavo fez também um doutorado sanduíche na unidade de investigação Biomark, Sensor Research, do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), em Portugal.
Rômulo Neris: Rômulo Neris é biofísico, mestre em ciências (Microbiologia), pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e doutorando em Imunologia e Infecção na mesma instituição. O biofísico estuda vírus desde 2010 e sua especialidade é entender como o nosso sistema imune se comporta durante as infecções virais. Ele estava em período sanduíche na University of California-Davis e retornou ao Brasil durante a pandemia para estudar o novo coronavírus. Parte de sua pesquisa é financiada pela organização americana Dimensions Sciences. Seu projeto busca entender quais são os mecanismos que fazem com que o nosso corpo desenvolva imunidade contra o Sars-CoV-2 (nome do novo coronavírus que provoca a COVID-19) e porque algumas pessoas têm complicações enquanto outras só desenvolvem sintomas leves da doença. Desde o início da pandemia, tem sido consultor de diversos veículos de mídia sobre infecção pelo vírus e imunidade, tratamentos e vacinas contra a COVID-19.