Uma terça-feira, 20 de outubro, que transformou Roma na Capital da Paz com um encontro internacional que reuniu, na mesma praça, aquela da prefeitura, líderes religiosos mundiais e autoridades locais. O evento “Ninguém se salva sozinho – Fraternidade e Paz”, promovido pela comunidade cristã de Santo Egídio, recebeu representantes do islamismo, do judaísmo e do budismo, além do Patriarca Bartolomeu I e do próprio Papa Francisco que, na oportunidade, assinaram um apelo pela paz:
“Congregados em Roma no ‘Espírito de Assis’, unidos espiritualmente aos crentes de todo o mundo e às mulheres e homens de boa vontade, rezamos uns ao lado dos outros para implorar sobre esta nossa terra o dom da paz. Lembramos as feridas da humanidade, trazemos no coração a oração silenciosa de tantos atribulados, muitas vezes sem nome nem voz. Por isso comprometemo-nos a viver e propor solenemente aos responsáveis dos Estados e aos cidadãos do mundo inteiro este Apelo de Paz.”
Direto da Praça da Prefeitura de Roma, no Campidoglio, de onde partiu o pacto de “uma Europa unida”, entre nações em conflito “pouco tempo depois do maior conflito bélico de que há memória na história”, o apelo trouxe a inspiração em ideais como o diálogo e o perdão sobretudo “hoje, neste tempo de desorientação, açoitados pelas consequências da pandemia da Covid-19, que ameaça a paz ao aumentar as desigualdades e os medos”.
A força do sentido de fraternidade
Tanto problemas como soluções “num mundo cheio de conexões” como o nosso, da fome ao acesso aos alimentos, do aquecimento global à sustentabilidade do desenvolvimento, por exemplo, dizem respeito a todos nós e não a cada país individualmente. Por isso a insistência com o “sentido da fraternidade” e o convite para dizermos “com força: ninguém pode se salvar sozinho, nenhum povo, ninguém!”.
“Somos irmãs e irmãos, todos! Peçamos ao Altíssimo que, depois deste tempo de provação, deixe de haver ‘os outros’ para existir apenas um grande ‘nós’ rico de diversidade. É tempo de voltar a sonhar, com ousadia, que a paz é possível, a paz é necessária, um mundo sem guerras não é uma utopia. Por isso queremos dizer mais uma vez: ‘Nunca mais a guerra!’”
O clamor pelo fim das guerras
“A guerra é um falimento da política e da humanidade. Apelamos aos governantes para que rejeitem a linguagem da divisão, frequentemente apoiada por sentimentos de medo e desconfiança, e não adotem caminhos sem retorno. Pensemos conjuntamente nas vítimas. Existem tantos, demasiados conflitos ainda em aberto.”
O apelo, então, se dirigiu diretamente aos responsáveis dos países para que, unindo as forças, seja criada uma “nova arquitetura da paz” em prol da vida, da saúde e da educação:
“Quanto aos recursos empregados na produção de armas cada vez mais destrutivas, fautoras de morte, chegou a hora de os utilizar para corroborar a vida, cuidar da humanidade e da nossa Casa Comum. Não percamos tempo! Comecemos por objetivos atingíveis: unamos, já hoje, os esforços para conter a propagação do vírus até termos uma vacina que seja apropriada e acessível a todos. Esta pandemia veio lembrar-nos que somos irmãs e irmãos de sangue.”
Um diálogo possível pela família humana
O apelo pela paz foi finalizado com a convocação de todos a se tornarem artesãos e mensageiros de paz, construindo uma “amizade social”, assumindo “a cultura do diálogo”. Um diálogo que, se “leal, perseverante e corajoso”, pode ser capaz de se transformar em “antídoto contra a desconfiança, as divisões e a violência”, e, assim, dissolver as guerras “pela raiz”:
“Ninguém pode deixar de se sentir envolvido. Todos somos corresponsáveis. Todos temos necessidade de perdoar e ser perdoados. As injustiças do mundo e da história curam-se, não com o ódio e a vingança, mas com o diálogo e o perdão.”