Inca recebe doação da Touca Inglesa, tecnologia usada em quimioterapia

Equipamento evita ou reduz a queda de cabelo. (Foto: © Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Uma tecnologia desenvolvida na década de 90 pelo cervejeiro inglês Glenn Paxman para a mulher Sue, que fazia quimioterapia devido a um câncer de mama, foi aperfeiçoada e está sendo objeto de um projeto piloto no Hospital do Câncer III, no Rio de Janeiro. A tecnologia é usada nos melhores hospitais oncológicos do mundo.

A unidade do Instituto Nacional de Câncer José de Alencar Gomes da Silva (Inca), especializada no tratamento de câncer de mama, é o primeiro centro oncológico vinculado ao Sistema Único de Saúde (SUS) a oferecer a crioterapia capilar com a chamada Touca Inglesa. A tecnologia é capaz de evitar ou reduzir a queda de cabelos induzida pela quimioterapia.

O novo equipamento foi doado ao Inca pela empresa britânica Paxman, instalada no Brasil desde 2013. A Touca Inglesa já estava disponível há mais de um ano em redes e clínicas particulares e, graças à Paxman, passará a ser oferecida a partir de agora a pacientes do SUS atendidos pelo Inca.

O diretor do Hospital do Câncer III, Marcelo Bello, disse que está sendo feito um projeto piloto para avaliar a aceitação da Touca Inglesa, uma vez que a entidade só dispõe de um equipamento que atende duas pacientes de cada vez. “A gente está naquela fase de curva de aprendizado no projeto piloto que vai envolver 50 pacientes, para avaliarmos os resultados e ver a aceitação. A partir daí, tudo dando certo, a gente pode sonhar em ter outros equipamentos no futuro”, completou o diretor.

Autoestima

Marcelo Bello pretende pedir mais um equipamento para doação ao Inca, embora não descarte a possibilidade de outro ser adquirido se mostrar que faz tanta diferença na autoestima das pacientes com câncer de mama. “A gente vê muita gente não querendo tratar [o câncer] com medo de perder o cabelo. Eu acho que oferecer isso, é muito interessante, porque a gente valoriza a autoestima. Para muitas pessoas, é muito difícil perder os cabelos. Nós estamos esperançosos de que tudo dê certo e possamos ter outros equipamentos no futuro”, afirmou.

Bello explicou que ao contrário das toucas manuais não controladas, que podem provocar queimaduras, a Touca Inglesa faz resfriamento mais lento, controla a temperatura e, depois, volta à temperatura normal de forma lenta também. “É totalmente eletrônica e segura”. Segundo Marcelo Bello, a tecnologia não provoca lesões nem metástase no couro cabeludo. “Já foi demonstrado que é extremamente seguro. É um equipamento seguro, tanto do ponto de vista de não causar danos físicos, quanto de não atrapalhar o tratamento”, reforçou.

O projeto piloto com a crioterapia capilar foi iniciado em outubro passado no Hospital do Câncer III e atendeu até agora cinco pacientes. Bello informou que há todo um preparo antes e depois de usar a Touca Inglesa, para garantir a permanência do cabelo ou aumentar a chance de não cair.

Humanização

O diretor da Paxman Brasil, Gustavo Spritzer, destacou que a tecnologia transforma a vida das pessoas com o objetivo de mudar o estigma do câncer, como forma humanizada e positiva de enfrentar esse momento. Para ele, “é um privilégio realizar essa doação para o Inca, um centro de excelência. É possível vencer o câncer sem perder os cabelos. Acreditamos na humanização do atendimento e vemos que essa tecnologia colabora para isso”, concluiu.

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Pesquisas realizadas com a Touca Inglesa ao longo de duas décadas registraram relatos de pacientes sobre a diminuição da alopecia, a ponto de dispensar o uso de lenço ou peruca. A taxa de sucesso depende do tipo de medicação administrada, 50% para as mais fortes e até 92% nas menos agressivas. A sensação de frio foi tolerada por 98% dos pacientes. A terapia não é indicada, contudo, para os tipos de câncer hematológicos ou para alguma alergia ao frio.

De acordo com o Inca, a queda de cabelo é um dos efeitos colaterais da quimioterapia que causam mais trauma nas pacientes, podendo gerar a desistência do tratamento. O uso da crioterapia capilar, por meio da Touca Inglesa, faz parte atualmente das Diretrizes de Prática Clínica em Oncologia da National Comprehensive Cancer Network (NCCN) para pacientes que vão iniciar o tratamento de câncer de mama, ovário, peritoneal e trompa de falópio. A NCCN é uma aliança dos 30 principais centros de câncer dos Estados Unidos.

Funcionamento

A touca é conectada a uma unidade de refrigeração e colocada na cabeça do paciente cerca de 30 minutos antes, mantida durante e em torno de uma hora e meia após a infusão das drogas, dependendo do protocolo adotado. O sistema resfria o couro cabeludo a uma temperatura em torno de 20°C. Com isso, diminui o fluxo sanguíneo nos folículos capilares e reduz a absorção dos fármacos na região.

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