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Turismo sustentável é destacado pelo Circuito Litoral Norte de São Paulo

As cinco cidades da região possuem diversos projetos que colocam os caiçaras e sua cultura no protagonismo das atividades turísticas. (Foto: Divulgação)

Na contramão do turismo de massa, o turismo de base comunitária consiste em visitar lugares onde a comunidade se envolve e assume papel de protagonista no processo turístico, ajudando no desenvolvimento local e na movimentação da economia regional.

Focado principalmente na valorização e preservação da cultura e do povo, esse tipo de turismo integra a comunidade em práticas socioculturais com a intenção de gerar benefícios tanto para o anfitrião, quanto para o visitante. Ou seja, é um modelo de desenvolvimento que privilegia o ser humano e o meio ambiente.

No Litoral Norte de São Paulo, as cidades de Bertioga, Caraguatatuba, Ilhabela, São Sebastião e Ubatuba vem somando esforços para trabalhar a região como um todo, por meio do Circuito Litoral Norte, e também apresentam projetos consolidados de turismo de base comunitária que visam, não só preservar a rica biodiversidade regional, como também valorizar a cultura caiçara.

Para o analista Ambiental da DTA Engenharia e coordenador do Programa de Educação Ambiental do Porto de São Sebastião, Jorge Alarcón, esse segmento do turismo é de grande importância para a preservação de lugares e culturas como a do Litoral Norte.

“É um turismo que vem contra a ideia de degradação ambiental e visa passar para os visitantes as ideias que as comunidades caiçaras têm; são comunidades que há séculos vem desenvolvendo suas atividades sem gerar grandes impactos ao meio ambiente. Portanto, eles têm muito a ensinar sobre isso”.

Alarcon também aborda a relevância desses projetos para o turismo regional. “Isso vai agregar para o turismo no sentido regional como uma nova possibilidade de atração e uma nova fonte de renda. É um modelo de turismo feito em vários lugares do Litoral Norte, e a pessoa que vai visitar um, também quer conhecer os outros. Ou seja, você fortalece uma cadeia inteira de turismo de base comunitária. O TBC tem potencial de ser enorme e atrai um público que é muito específico e gosta de vivenciar esse tipo de coisa”, completa.

No Litoral Norte de São Paulo, as cidades de Bertioga, Caraguatatuba, Ilhabela, São Sebastião e Ubatuba vem somando esforços para trabalhar a região como um todo. (Foto: Divulgação)

Cada uma das cidades integrantes do consórcio turístico possui suas particularidades, mas carrega o senso comum de desenvolver práticas de turismo sustentável que beneficiem não só a economia, como também o desenvolvimento regional sustentável.

Bertioga
A comunidade Vila da Mata, que está situada dentro do Parque Estadual Restinga de Bertioga, importante área de conservação do ecossistema da Mata Atlântica, oferece uma oportunidade para os visitantes observarem aves locais, participarem de uma roda de conversa com seus moradores mais antigos e ainda descobrirem aspectos históricos da cultura caiçara.

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A visita inclui passeio pela horta comunitária da comunidade com direito a plantio de mudas e caminhadas pela região monitoradas por moradores locais, que contam a história do lugar e do povo que ali vive.

“O turismo de base comunitária vem ganhando cada vez mais espaço, pois o turista não quer mais apenas contemplar, ele quer imergir na cultura local, tornando sua experiência mais enriquecedora. Isto tem aberto uma nova frente de emprego e renda para as comunidades, ao mesmo tempo que viabiliza um turismo que resgata tradições, à cultura regional, e é feito de forma sustentável e com proteção ao meio ambiente”, afirma secretário de Turismo, Esporte e Cultura de Bertioga, Ney Carlos da Rocha.

Caraguatatuba
Em Caraguatatuba, a Associação de Pescadores e Maricultores da Praia da Cocanha (AMAPEC) conquistou, no último ano, a possibilidade de desenvolver o turismo de base comunitária na Fazenda de Mexilhão da Cocanha.

Com o objetivo de garantir a preservação ambiental e cultural dessa prática no local, que é considerada a maior fazenda de mariscos do estado, com 36 mil metros quadrados e produção de até 160 toneladas ao ano, o projeto de visitação inclui: apresentação do funcionamento da fazenda, processo de reprodução do mexilhão, práticas de cultivo e técnicas de preparação para a venda do produto.

Além disso, a região da Ilha da Cocanha abriga importante biodiversidade, o que faz com que o passeio se complete com o avistamento de animais como tartarugas, arraias e polvos, assim como poríferos como esponjas e corais.

“É um turismo muito importante no desenvolvimento de uma cidade, pois tem um caráter sustentável e cultural muito significativo. O turismo de base comunitária busca a preservação da cultura, principalmente, e aqui, temos exemplos na região norte de Caraguatatuba, na Cocanha, e já estamos desenvolvendo também um trabalho na região do rio Juqueriquerê, no sul da cidade. São projetos incríveis não só para o desenvolvimento econômico, mas também turístico e social para essas comunidades”, afirma a secretária de Turismo da cidade, Fernanda Galter Reis.

Ilhabela
Conduzido pela própria comunidade, com apoio da Associação Castelhanos Vive, o projeto Turismo de Base Comunitária na Baía dos Castelhanos recebe os visitantes apresentando o lado oceânico da ilha.

Tendo como protagonistas as seis comunidades tradicionais caiçaras que se baseiam principalmente na pesca, artesanato e gastronomia, o roteiro inclui as trilhas da Queda, da Figueira, Mansa e Vermelha, além de passeio de barco comandado pelos próprios nativos e oficinas de cestarias. Ali, as rodas de conversa com moradores também fazem sucesso entre os visitantes, que têm a oportunidade de descobrir as riquezas da cultura caiçara.

Na gastronomia, o projeto permite aos visitantes provarem pratos feitos com frutos do mar e produtos locais, como Azul Marinho, Caldeirada, Lambe-Lambe e Lula com Taioba.

São Sebastião
Lançada no último dia 10 de fevereiro, a Rota Caiçara é um importante exemplo de TBC em São Sebastião. O passeio, com saída da praia de Boiçucanga e duração de três horas, oferece uma imersão na cultura local. A começar pelo bate-papo com uma das moradoras mais antigas que conta sobre a história caiçara – como viviam, costumes, divisão de tarefas, aspectos da religião e o que aconteceu com o povo caiçara com o passar dos anos – acompanhado de café da manhã típico com café coado na garapa e bolinho de taioba.

E, na sequência, um passeio de barco guiado pelos pescadores locais percorre pontos como o cerco flutuante – onde é explicada a arte da pesca que forma como um labirinto fixo no mar – e a Ilha dos Gatos, local escolhido pela família Rockefeller para a construção de uma casa na época da Segunda Guerra Mundial, e que até hoje abriga suas ruínas.

A Rota Caiçara é um projeto desenvolvido em parceria entre a Associação de Pescadores de Boiçucanga e a Companhia Docas de São Sebastião, com apoio da Secretaria Municipal de Turismo da cidade.

“Neste momento, é de suma importância o apoio da Secretaria Municipal de Turismo aos pescadores de Boiçucanga. Estamos passando por um período delicado em razão da pandemia COVID-19 e valorizar o turismo de base comunitária é uma ótima alternativa de renda para os pescadores e caiçaras que foram impactados. Além disso, o projeto enaltece nossa cultura local, colocando o caiçara como protagonista em todos os momentos do processo turístico e inserindo o visitante em lugares onde a comunidade se envolve, com o objetivo de promover um turismo mais justo, respeitando as tradições e o modo de vida do sebastianense”, reforça a secretária de Turismo de São Sebastião, Adriana Balbo.

Ubatuba
Em Ubatuba, o Quilombo da Fazenda surge como exemplo mais consolidado do TBC. Na costa norte da cidade, as famílias que vivem no sertão da Praia da Fazenda preservam sua cultura e memória quilombola por meio de rodas de conversas, trilhas agendadas e gastronomia típica.

Dentro do núcleo Picinguaba do Parque Estadual da Serra do Mar, a Casa da Farinha é ponto de partida para esse roteiro. O local histórico funcionava, no final do século passado, como uma usina de açúcar e álcool e, já na década de 50, foi aproveitada a roda d’água para movimentar os aviamentos de uma casa de farinha.

Além das conversas com os moradores antigos e dos passeios para explorar todo o potencial natural do lugar, é possível aprender a fazer farinha como nos tempos do antigo engenho, produzir esteiras artesanais de Imbé e conhecer de perto as roças e agroflorestas de onde a comunidade tira seu próprio alimento – com direito, inclusive, a degustação de pratos como o estrogonofe de lula com palmito juçara.

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