O Instituto Agronômico (IAC), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, coordena a nova Rede de PD&I “Morangos do Brasil” em conjunto com a Universidade Estadual de Londrina (UEL). O objetivo é elaborar e executar um plano multiregional para pesquisa e extensão, a fim de desenvolver ações que contribuam para o fortalecimento socioeconômico da cadeia de produção de morango brasileira. Espera-se desenvolver atividades de pesquisa e extensão que capacitem o setor no enfrentamento da crise econômico-financeira que o atinge, principalmente a agricultura familiar. Todas as lavouras nacionais de morango são instaladas com material genético importado, que encarece a produção e atrasa o ciclo da cultura, além de reduzir produtividade e qualidade. O IAC tem conhecimento para desenvolver cultivares de morango adaptadas às condições de solo e clima brasileiros e voltadas às exigências do mercado.
De acordo com os especialistas, o principal problema do setor está na ausência de cultivares nacionais de morangueiro e mudas de boa qualidade. A necessidade de importação de mudas gera diversos problemas. Dentre eles está o elevado custo de produção. Somente com a importação de material genético, por ano, os agricultores familiares investem de R$ 80 mil a R$ 140 mil, por hectare. No entanto, apesar do alto investimento, as mudas têm baixa qualidade fisiológica, o que reduz a produtividade da lavoura e a qualidade do fruto, além de elevar o risco de introdução de patógenos e pragas. A importação ainda provoca demora na entrega das mudas, que reflete no atraso do cultivo.
O enfrentamento desse desafio requer o desenvolvimento de cultivares de morangueiro genuinamente brasileiras, com características desejadas pelo mercado e mais adaptadas às condições de solo e clima das regiões produtoras brasileiras. Por isso o setor precisa contar com as instituições de pesquisa, como o Instituto Agronômico.
De acordo com a diretoria-geral do IAC, a participação do Instituto nessa rede será vital para alcançar o avanço no desenvolvimento tecnológico da cadeia de produção de morango. As ações estratégicas a serem desenvolvidas envolvem melhoramento genético, tecnologia de produção de mudas, nutrição de plantas para os diversos sistemas de produção, controle de doenças e pragas da cultura, pós-colheita e gestão da cadeia de produção e comercialização.
“Grande parte dos materiais são provenientes de viveiros chilenos, argentinos e espanhóis”, afirma Eliane Gomes Fabri, pesquisadora do IAC e co-responsável pelo projeto. O Instituto desenvolveu várias cultivares de morango. A IAC Campinas, lançada em 1960, foi líder de mercado até o começo dos anos 90. A IAC Guarani também se destacou. Atualmente, com o avanço da ciência, é possível desenvolver uma nova cultivar em cerca de cinco a seis anos. No passado, eram necessários dez anos de pesquisa para obter um novo material.
De acordo com Eliane, diversos pesquisadores de diferentes Centros de Pesquisa do IAC fazem parte desse trabalho. Dentre os 47 profissionais que compõem a Rede, sete são do Instituto. As equipes continuam sendo elaboradas, de modo que outros poderão se juntar ao trabalho. “As temáticas abordadas são muito abrangentes, por isso a necessidade de pesquisadores, produtores e extensionistas”, diz.
Além do IAC, fazem parte da Rede de PD&I “Morangos do Brasil” outras unidades da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo: Instituto Biológico (IB), Instituto de Economia Agrícola (IEA), Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL), Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA Regional) e Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS), envolvendo pesquisadores e extensionistas.
“Reiteramos a importância da participação da Secretaria de Agricultura e Abastecimento nessa ação inédita no Brasil, com a expectativa de contribuir, de forma efetiva, para o desenvolvimento das principais regiões produtoras da cadeia do morango, alavancadas por atividades de P&D, com foco em inovação tecnológica, apropriadas ao fortalecimento da agricultura familiar e do agronegócio do Estado de São Paulo e do Brasil”, afirma Eliane.
Também fazem parte da Rede de PD&I “Morangos do Brasil”: Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER), Universidade Federal de Lavras (UFLA), Universidade Estadual do Centro Oeste (UNICENTRO), Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IAPAR), Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI).
Com esse trabalho em rede, espera-se, em prazo inferior a cinco anos, mitigar o possível colapso no setor. As equipes avaliam que as situações negativas que acometem a cadeia produtiva vêm se manifestando de maneira mais proeminente e, caso não haja nenhuma ação, é possível que os gargalos financeiros levem à redução da área de cultivo e, consequentemente, na produção. O resultado desse cenário seria a perda de renda para os produtores de morango, impactos na cadeia de produção e produto mais caro para o consumidor.
É de grande importância a participação da pesquisa paulista nessa ação inédita no Brasil, com a expectativa de contribuir para o desenvolvimento das principais regiões produtoras da cadeia do morango. “A proposta é alavancar a cadeia por atividades de P&D, com foco em inovação tecnológica, apropriadas ao fortalecimento da agricultura familiar e do agronegócio do Estado de São Paulo e do Brasil”, diz Lilian Cristina Anefalos, diretora do Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT-IAC).
Como nasceu a rede
A partir da necessidade de enfrentamento da crise para a cadeia produtiva do morango no Brasil, pesquisadores e extensionistas do Instituto Agronômico (IAC), Universidade Estadual de Londrina (UEL), Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (UNICENTRO), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater) e Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR) se uniram em busca de soluções que pudessem ser regionalizadas.
O grupo observou a necessidade de ação de órgãos competentes de pesquisa e extensão, somados às áreas administrativa, política e fomento de todos os estados produtores de morango do Brasil.
As discussões que resultaram no projeto foram iniciadas em agosto de 2020, com a participação de instituições de pesquisa e extensão, além de equipes de gestão dos estados da Região Sudeste – São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais -, e da Região Sul – Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul. Nessas unidades da Federação, o morangueiro tem expressão socioeconômica.
Firmada em novembro de 2020, a parceria irá viabilizar a promoção, o desenvolvimento e a cooperação em áreas de interesse comum em ciência, tecnologia e inovação. Foram criados grupos específicos para cada uma dessas frentes. O trabalho será organizado em subprojetos, de acordo com as expertises e temáticas estabelecidas pela equipe. São previstas também interações com o objetivo de obter recursos. A união de instituições visa mobilizar as Secretarias Estaduais de Governo para a promoção de ações articuladoras junto aos órgãos de fomento federal com intuito de prover recursos para implantação da Rede Brasileira para Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Morango. As equipes deverão fazer contato com Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ).
Os programas de graduação, de pós-graduação e de pesquisa em ciência agrícola e áreas relacionadas poderão fazer parte do projeto. São previstas também colaboração em atividades de pesquisa em agricultura, inclusive com intercâmbio de material genético e também de pesquisadores, professores e estudantes. Neste caso, alunos do mestrado e do doutorado da Pós-Graduação em Agricultura Tropical e Subtropical do Instituto Agronômico poderão desenvolver pesquisas nesse segmento. As instituições envolvidas pretendem contribuir para melhorar o acesso à pesquisa e apoiar os seus membros na construção de laços que viabilizem projetos conjuntos em pesquisa, desenvolvimento e inovação.