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Aceitação do pescado certificado é tema de pesquisa de mercado desenvolvida pelo Instituto de Pesca em Votuporanga

Piscicultura mais sustentável é base para certificação, de acordo com pesquisadora

Os resultados mostraram que há abertura para produtos certificados na região. (Foto: divulgação)

Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesca (IP-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, avaliou o perfil do consumidor de pescado na cidade de Votuporanga, no noroeste paulista. Os resultados mostraram que há abertura para produtos certificados na região.

Fruto do projeto de Iniciação Científica de Marcelo Carlos de Oliveira, estudante do Centro Universitário de Votuporanga (Unifev), o trabalho “Pesquisa de mercado sobre tilápia do Nilo com potencial de certificação” procurou entender melhor o que leva os consumidores da cidade a dar preferência ou não ao pescado na hora de fazer compras em supermercado, além de avaliar sua percepção sobre produtos certificados. “A pesquisa iniciou presencialmente em cinco supermercados da cidade, tendo sido continuada, após o início da pandemia, por aplicativo de celular”, conta a pesquisadora do IP Fabiana Garcia, orientadora do trabalho. No total, foram 158 entrevistados.

De acordo com os dados obtidos, o pescado ainda é superado pela carne bovina e de frango na escolha dos consumidores votuporanguenses; o principal motivo apontado é o preço. “A maioria dos entrevistados, 84%, disse que poderia dar preferência ao pescado, caso fosse mais barato que as demais carnes”, pontua Fabiana. Dentre os que compram pescado regularmente, o aspecto visual do produto também foi citado como preponderante na hora da escolha.

Chamou a atenção o fato de que 62% dos entrevistados dizem saber identificar a origem dos peixes, se de aquicultura ou pesca (extrativismo). Segundo Fabiana, isso está relacionado a fatores culturais próprios da região. “A cidade é próxima da região dos Grandes Lagos, do Rio Paraná e Rio Grande, onde a população ainda tem bastante o hábito de pescar e consumir o próprio peixe, por isso tem maior conhecimento sobre as espécies”, afirma.

Apesar de ainda não ser considerado um fator prioritário, a pesquisadora acredita que a preocupação com a sustentabilidade do modo de produção tem ganhado relevância na escolha de qual pescado levar para casa – assim como já ocorre com outros segmentos. Nesse cenário, surge o conceito de certificação do pescado, enquanto um selo de garantia de produção sustentável, que começa a receber a atenção de públicos mais exigentes. “Aqui no Brasil, é um mercado ainda bem incipiente, mas mundo afora a certificação já tem bastante espaço, principalmente relacionada à origem do pescado (se ele vem de pesca ou aquicultura), e, no caso da aquicultura, como é feito o cultivo, quais insumos utiliza etc”, informa a pesquisadora do IP. “É um selo de rastreabilidade que traz dentro dele a questão da sustentabilidade”, agrega.

Na pesquisa de mercado, mais de 60% dos entrevistados disseram reconhecer produtos certificados quando em contato com eles e afirmaram estar dispostos a pagar até 10% a mais por um pescado do tipo — uma parcela minoritária se dispôs a desembolsar até 30% a mais. “A maior parte dos entrevistados demonstrou conhecer o termo ‘certificação’, relacionando-o à produção sustentável”, aponta Fabiana.

Como lembra a especialista, no Brasil ainda há baixíssima oferta de produtos à base de pescado com efetivo certificado de orgânico, muito embora existam marcas que já ostentem selos como “produto livre de antibióticos” ou certificados internacionais relativos às Boas Práticas de Manejo na aquicultura, por exemplo.

“Conforme observamos, existe um nicho para o pescado certificado, enquanto um produto diferenciado, de maior valor agregado. Nossos resultados estão à disposição e podem auxiliar os produtores a identificar qual o perfil desse consumidor”, enfatiza. A intenção, realça, é que os produtores da região (considerada um polo piscicultor) possam usar essas informações para investir na produção de peixe pensando especificamente nesse segmento.

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Pesquisas do Instituto comparam sistemas produtivos quanto à sustentabilidade
Existem diversos sistemas de produção aquícola utilizados pelos produtores rurais. Ainda que fatores como produtividade e lucratividade sejam relevantes, o quesito sustentabilidade vem recebendo atenção e pode ser chave para alcançar novos mercados consumidores.

“Em nossa linha de pesquisa, estamos desenvolvendo alguns sistemas de produção sustentáveis e utilizando uma ferramenta para avaliar essa sustentabilidade, chamada síntese emergética”, elucida Fabiana. De acordo com a especialista, um dos objetivos (que está sendo desenvolvido em projeto de doutorado também orientando por ela) é fazer com que essa análise de sustentabilidade se torne efetivamente uma ferramenta de certificação. “Há vários protocolos de certificação no mundo inteiro, e estamos querendo desenvolver um protocolo nosso, usando uma ferramenta que já empregamos para avaliar a sustentabilidade”, anima-se. Segundo diz, a metodologia é conhecida internacionalmente, mas usualmente aplicada a outras cadeias produtivas. “Nosso grupo tem se especializado em aplicá-la na cadeia do pescado”, completa Fabiana, lembrando que diversas instituições são parceiras no desenvolvimento dos projetos, como Unifev, Unesp, Embrapa, Unip e Universidade de Wageningen (WUR), na Holanda.

A pesquisadora do IP já participou da publicação de artigos científicos sobre sistemas de produção avaliados sob essa perspectiva. Agora, a intenção é juntar a esse conhecimento os dados a serem obtidos com o projeto de doutorado e transformar tudo em uma certificação. Conforme explica, seriam escolhidos alguns dos indicadores que fazem parte da ferramenta para, a partir deles, se propor um novo protocolo. “A ideia seria criar um tipo de selo de certificação, semelhante ao utilizado em alimentos orgânicos. Esse selo diferenciaria os produtos e poderia inclusive classificá-los em graus de sustentabilidade”, conclui Fabiana.

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