A Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) celebra o centenário dos blindados no Brasil. A comemoração em muito se assemelha à própria instalação da Academia em Resende (RJ).
Os carros de combate foram desenvolvidos na 1ª Guerra Mundial (1914-1918), sendo o primeiro modelo criado pela Inglaterra e empregado, em massa, a partir de 1917. Além dos ingleses, alemães e franceses também se dedicaram à produção de blindados durante o conflito.
Como o Brasil tinha anseio em conhecer mais sobre os campos de batalha da Europa, enviou uma comissão para a França. Nela, estava o 1º Tenente de Cavalaria José Pessôa Cavalcanti de Albuquerque.
“Já em território francês, em 7 de maio de 1918, o jovem militar iniciou o curso de aperfeiçoamento na Escola de Cavalaria de Saint-Cyr. Ao término, apresentou-se ao chefe da Comissão Militar Brasileira em Paris, como voluntário, para acompanhar os combates da Primeira Guerra Mundial”, destaca o Comandante do curso de Cavalaria da AMAN, Tenente Coronel Annes.
Alguma semelhança com Marechal José Pessôa, o idealizador da AMAN? Toda! Estamos falando do precursor da vinda da Academia para Resende- RJ. Em 1931, o então Coronel José Pessôa, Comandante da Escola Militar do Realengo, aprovou o projeto arquitetônico da nova Academia Militar. Assim, teve início mais um de seus legados para o Exército Brasileiro, a AMAN, inaugurada em 1944.
Inovação, protagonismo e coerência sempre foram bandeiras muito latentes na carreira do Marechal.
Tamanho reconhecimento de seus feitos começou logo no fronte de batalha: em 4 de agosto de 1918, ao comandar o Pelotão do 4º Regimento de Dragões, da 2ª Divisão de Cavalaria do Exército Francês. “Durante as missões dessa unidade, combateu adido ao Exército Francês e, por isso, recebeu condecorações de franceses e belgas por bravura à frente de seus comandados, tendo sido promovido ao posto de capitão, por bravura, e comandante de esquadrão”, destaca Ten Cel Annes.
Ao retornar ao Brasil, influenciou os seus superiores a adotarem os blindados para o Exército e escreveu um tratado sobre o emprego das viaturas durante a Primeira Guerra Mundial.
Um salto na história ao relembrar que tamanho feito proporcionou comemorar neste dia 26 de maio de 2021 o centenário da vinda dos blindados para o Brasil. Há exatos 100 anos, foi criada a Companhia de Carros de Assalto, que teve como seu primeiro comandante o Capitão José Pessoa. “Tal façanha pôs o Brasil como pioneiro no emprego de blindados na América do Sul, além de transpor a Força Terrestre para um cenário do que de mais moderno havia em doutrina e material de emprego militar para a época”, enfatiza Ten Cel Annes.
E o primeiro blindado a ser trazido para o Brasil, por incentivo de Marechal José Pessôa, encontra-se em uma exposição no Parque do curso de Cavalaria. Os cadetes do 3º ano do curso também utilizam em suas manobras o mais moderno deles: O Leopard 1 A5.
Sendo considerado de alto poder decisivo, os blindados, são, sem dúvidas, um dos grandes marcos para a história do Exército Brasileiro, pois também se tornam a referência da inovação contínua reconhecida e exercitada pelos homens de farda. Em sabendo disso, José Pessôa organizou a vinda dos veículos para o ensino do cadete.
Afinal, ele era um visionário. Além de idealizador da AMAN e da tropa blindada, é também um dos precursores da Escola de Educação Física e um dos criadores da Artilharia de Costa e Antiaérea.
O pioneirismo continua sendo uma marca da AMAN. Pela primeira vez na história, a instituição irá formar o Comandante do carro de combate na Academia. Um olhar aos horizontes fortalecido pela tradição bicentenária dessa casa de valores.
À frente da chefia da Seção de Psicopedagogia da AMAN, o Coronel Pessôa também faz parte dos constantes investimentos feitos pelo EB na instrução e na manutenção para a correta e sustentável utilização dos blindados. Entre os anos de 2003 e de 2005 a 2007, esteve como chefe da Subseção de Infantaria do Centro de Instrução de Blindados (CI Bld) General Walter Pires, criado em 1996 no Rio de Janeiro (RJ), e em Santa Maria (RS), respectivamente, para onde o Centro foi transferido no ano de 2004, por motivos estratégicos.
Foi responsável pelos Estágios Técnico de Manutenção e Transporte de viatura M113 e Estágio Tático dos Blindados – Comandante de Força-Tarefa (FT) Subunidade Blindada. Oportunidades em que somou à Força Terrestre, a partir do olhar interdisciplinar, em que Cavalarianos e Infantes dialogaram em prol do sucesso do combate e da formação de oficiais. Além de ajudar a desenhar um novo modelo de sala de aula, também fez o tema tático da marcha para o combate, entre tantas outras experiências. “Ensinávamos como o capitão emprega a FT Subunidade em combate, abordando a parte tática e o apoio de fogo. Lembro sempre que, para o infante, o blindado é um meio de transporte. Ele desembarca da viatura e vai combater. Já o cavalariano tem de fazer a máquina combater o inimigo”.
Como um dos pioneiros do CI Bld, Cel Pessôa também contribuiu para o ensino com blindados, ao participar de uma visita à Escola de Blindados do Exército Alemão, localizada na cidade Munster, e observar, junto a outros militares brasileiros, os métodos de instrução e simulação utilizados na Europa. A partir de 2009, com a aquisição dos blindados da família Leopard 1 BR, o CI Bld passou por uma modernização composta pela instrução militar de novos métodos de ensino técnico e tático, os quais apoiados por uma variedade de meios tecnológicos modernos de simulação.
Bastidores que o Cel Pessôa, de Infantaria, fala com orgulho e motivação, após 30 anos de serviços prestados. Uma grata coincidência, não somente no nome, mas também na personalidade visionária de Marechal José Pessôa, que ganha novas histórias pelas mãos dos militares da contemporaneidade, segundo afirma Cel Pessôa.
“A figura de Marechal José Pessôa serve de modelo pela coragem e bravura. O que ficou dele, foi a união de todas as armas. Ao trabalharmos juntos, percebemos a audácia do cavalariano, o espírito de cumprimento de missão do infante, a meticulosidade do artilheiro, tudo isso são características muito fortes na tropa blindada”, finaliza Cel Pessôa.