A educação é uma forma não somente de ascensão social, mas também de conquistar dignidade e o seu lugar no mundo. Essa é a definição da professora e pós-doutorada em Letras, Alexandra Pinheiro. Nascida no Sergipe, mas com a infância e juventude na Princesa do Norte, desde pequena ela entendeu que mudaria a realidade à sua volta através dos estudos.
Ainda criança, quando morava na Pedreira Anhanguera, região rural de Pindamonhangaba, pegava carona com os caminhoneiros que iam ao centro, bem cedinho… às 5h20 da manhã para poder assistir às aulas na Escola Estadual Doutor Alfredo Pujol. Às 6h, em ponto, estava dentro da unidade escolar aguardando o início da aula.
A labuta diária não era somente para ir até a escola, mas também para retornar. De difícil acesso e com poucos veículos para locomoção disponibilizados, todos os dias, ela ficava das 12h até às 14h, na Biblioteca Pública de Pindamonhangaba para aguardar o retorno para casa, de bondinho. Depois, teria mais sessenta minutos de caminhada até em casa, ela estima que seja cerca de 4km de distância entre o local da descida do trem e a residência em que vivia com a família.
Paixão por ensinar
Apesar de afirmar ter sido “uma péssima aluna” enquanto estudava. Assim como tantas outras meninas da época, Alexandra se apaixonou pelo magistério, no Milad (Escola Estadual Prof. José Wadie Milad), mesma época em que decidiu se engajar no curso de teatro. A paixão por linguagens e pela disponibilidade ao outro aflorou tanto que em pouco tempo, ela se tornou uma das melhores alunas da turma de magistério e muito estimada pelas professoras que já viam nascer em sala uma grande educadora.
Rede do Bem
Com poucos recursos financeiros e enfrentando dificuldades familiares, a inscrição no vestibular da UNESP (Universidade Estadual Paulista) teve de ser custeada pela comunidade escolar. A tão sonhada vaga foi conquistada após a desistência de alguns alunos. Entretanto, a ida até Assis vislumbrava um sonho quase impossível, uma vez que recursos estavam difíceis. Foi então, que as professoras se uniram em mutirões para pagar a ida até a cidade que fica a mais de 570 km de Pindamonhangaba, além do primeiro mês de estadia de Alexandra.
Ainda que tenha recebido muito apoio, ela conta que foram quatro anos difíceis, em que vinha visitar a família somente uma vez por ano, sem roupas ou sapatos novos e fazendo bicos para se manter. “Apesar das dificuldades, há formas de continuar caminhando”, ela destaca otimista.
Carreira acadêmica
Desde que saiu da graduação, Alexandra empenhou-se em continuar a trilha acadêmica, enquanto fazia mestrado trabalhou em Santa Catarina e também deu aulas em faculdade pública no Paraná. Defendeu sua tese no doutorado na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), já mãe, com a filha nos braços, mas sem nunca deixar que as dificuldades a impedissem de continuar sua trajetória.
Por meio de bolsas e programas de incentivo conheceu diversos países como Peru, Venezuela, Costa Rica e Cuba. Posteriormente, foi contemplada com uma bolsa pós-doc. na Espanha, período em que se mudou do Brasil, ainda com duas filhas pequenas para estudar.
Residente do Mato Grosso do Sul há 13 anos, Alexandra atualmente é professora de Teoria Literária e também de Teorias de Gêneros na Universidade Federal da Grande Dourados, uma cidade com cerca de 200 mil habitantes, onde ao menos 20 mil deles são indígenas.
A educação abre possibilidades
Para Alexandra, a educação é mais do que aprender a ler e escrever, é ascensão social. Através dela experiências como viagens, instruções sociais e conforto familiar foram oportunizados. “Conhecimento e leitura é romper com a ausência do saber. Eu nunca imaginei chegar onde cheguei, saindo de onde sai”.
Embora tenha enfrentado adversidades como preconceito e recursos financeiros para poder aprender e se formar, Alexandra aconselha que as pessoas continuem a estudar, afinal tudo na vida tem dificuldades, “mas, educar-se é a melhor aposta”.
Ontem, a pequena menina de quarta série que estudava no Pujol, fazia uma longa caminhada da Pedreira Anhanguera até a beira da estrada… Hoje, ela caminha rumo ao último pós-doc em língua inglesa em 2023.
Ouça na íntegra a mensagem de Alexandra Pinheiro: