A Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) tem o duro dever de informar o falecimento do “maratonista de aço”, Luiz Antônio dos Santos, medalha de bronze no Mundial de Gotemburgo-1995, na Suécia, gestor da equipe LUASA Sports, que leva as siglas de seu nome, e agente de vários atletas estrangeiros, principalmente da África, em Taubaté, no Vale do Paraíba (SP), na manhã deste sábado (6), enquanto assistia televisão em sua casa.
Integrante do Programa Ídolos da Loterias Caixa e CBAt, ele teve uma parada cardíaca e foi levado para uma UPA de Taubaté, mas já chegou em óbito. Os familiares ainda não tinham decidido detalhes do velório, mas já manifestou o desejo de enterrá-lo na cidade de Volta Redonda, no Rio de Janeiro, onde nasceu no dia 6 de abril de 1964. Recentemente, ele havia sofrido um leve AVC.
Por causa de sua história – ele começou a treinar na Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) -, ele ganhou uma biografia emocionante, escrita pelo professor Anselmo José Perez, chamada “O Maratonista de Aço: A História de um Atleta Brasileiro”, publicado em livro em 2019.
Luiz Antônio era um frequentador assíduo das competições oficiais da CBAt, quando não estava no Quênia, como dirigente da LUASA, um projeto de sucesso no Vale do Paraíba. Ganhou bronze na maratona do Mundial de Gotemburgo-1995 e por equipes na Copa do Mundo de Maratona de Atenas-1997.
Quando menino sonhava em ser jogador de futebol – sempre correu muito. Já adulto, em 1985, conheceu um atleta da equipe da cidade vizinha a sua, Barra Mansa, e pediu para representar o time numa competição no Rio.
Não tinha dinheiro, mas caminhou 6 km até a rodoviária de Volta Redonda e pegou carona com a equipe de Barra Mansa para correr a Volta do Maracanã, de 10 km. Foi 16º, o melhor resultado do time.
Três anos depois, em 1988, passou a se dedicar mais ao atletismo e a treinar com Henrique Viana. Era dedicado aos treinos, persistente nas provas e tinha uma chegada muito forte.
Luiz Antônio era um ex-operário da CSN, teve impulso em sua carreira atlética a partir de 1993, quando correu pela primeira vez os 42,195 km na Maratona de Blumenau, em Santa Catarina, em 2:12:15. O resultado não foi homologado porque a competição não era oficial, mas foi a prova de seu talento para as longas distâncias.
Luiz Antônio, na época, era recém-aposentado devido à leucopenia (que provoca diminuição dos glóbulos brancos) uma doença profissional. Até então, tinha bons resultados em distâncias menores como nos 10 km, 15 km e meia maratona (21,097 km) ou nas provas tradicionais em pista, como os 5.000 m e os 10.000 m.
Entrou para a elite do fundo ao conquistar o bicampeonato da Maratona de Chicago, em 1993 e 1994. Ao optar por uma prova rápida em 1995, a Maratona de Boston, também nos Estados Unidos, ficou em terceiro lugar com o tempo de 2:11:02 e entrou para o seleto grupo de sul-americanos a correr a distância em menos de 2:12:00.
Convocado a defender o Brasil no Mundial de Gotemburgo-1995, na Suécia, Luiz Antônio ganhou a medalha de bronze, no dia 12 de agosto, com 2:12:49 – o campeão foi o espanhol Martin Fiz e o vice-campeão o mexicano Dionísio Cerón. Explicou que decidiu não brigar pelo segundo lugar para guardar a vantagem que tinha e garantir a medalha de bronze para o Brasil.
No mesmo ano de 1995, quando chegou à maturidade – 32 anos – venceu a Maratona de São Paulo e bateu o recorde sul-americano de 2:09:55 pertencente a Osmiro Silva, desde 1991. Ganhou também a Maratona de Fukuoka, no Japão, com 2:09:30.
Apesar dos bons resultados, Luiz Antônio sofria os efeitos da leucopenia, que provocava baixa imunidade e doenças oportunistas. Disputou os Jogos Olímpicos de Atlanta-1996, nos Estados Unidos – foi 10º, com 2:15.55, até então a melhor colocação do Brasil na maratona numa Olimpíada.
Disputou mais um Mundial e ficou com a quinta colocação em Atenas-1997, na Grécia, com 2:15:31. Na Copa do Mundo de Maratona, pela primeira vez disputada simultaneamente com o Mundial, seu quinto lugar ajudou o Brasil a conquistar, junto com Vanderlei Cordeiro de Lima e Osmiro de Souza Silva, a medalha de bronze por equipes.
Em 1999, voltou a ganhar visibilidade ao vencer a Meia Maratona do Rio de Janeiro.
O seu recorde pessoal veio na Maratona de Roterdã-1997, na Holanda, com 2:08:55. Fez marcas boas no Brasil e no exterior sob forte calor e clima ameno, em competições tradicionais. Suas melhores marcas são: 14:25.68 nos 5.000 m (15/5/1999), em São Paulo, 28:37.44 nos 10.000 m (17/5/1996), no Rio de Janeiro, 29:48 nos 10 km (25/5/1997), em Santos, 43:54 nos 15 Km (26/2/1994), em Tampa/EUA, 1:02:28 na meia maratona (24/9/1004), em Oslo/NOR.
Após encerrar a carreira, em 2005, Luiz Antônio estudou para se tornar treinador e criou a LUASA. Além de trabalhar com atletas em todas as categorias, a equipe mantém um intercâmbio com fundistas africanos, especialmente do Quênia, que veem ao Brasil para treinar e disputar corridas de rua.
“O Luiz Antônio era um grande amigo, para mim uma referência no atletismo e no mundo das corridas de rua. Recomendo a todos, inclusive, a leitura da biografia do Luiz Antônio. Uma pessoa fantástica que superou várias dificuldades na vida e se tornou um dos grandes maratonistas do mundo e um grande treinador e gestor à frente da equipe LUASA. Meus profundos sentimentos. minhas homenagens e meu respeito para todos os seus familiares, atletas e amigos”, afirmou o presidente do Conselho de Administração da CBAt Wlamir Motta.