Segunda-feira, 23 de maio, 11h15. O sol ainda tímido após uma manhã nublada e fria aquece a música ucraniana Valentina Fuhol, de 65 anos.
Sentada na arquibancada da praça Ulysses Guimarães, um dos principais cartões-postais de São José dos Campos, ela recorda sua chegada à cidade há menos de um mês, acompanhada por 33 compatriotas obrigados a deixarem seu país às pressas, apenas com as roupas do corpo e mochilas, após a invasão da Rússia.
Ao fugirem da guerra, chegaram aqui com os corações despedaçados e angustiados por terem que partir sem os familiares e com a incerteza de como seria o futuro em um país distante.
Mais do que calor — 30° C naquele sábado, 26 de março, contra -5° C da Ucrânia — encontraram solidariedade, amor ao próximo e calor humano que aquecem as almas e renovam as esperança de dias melhores, com paz e harmonia entre os povos.
Ainda é cedo para saberem quando voltarão para seu país no Leste Europeu, mas Valentina e seus companheiros já descobriram a hospitalidade e a generosidade dos brasileiros.
“Fiquei muito feliz de ver como os brasileiros são abertos e amorosos. Gostei de tudo. Do amor das pessoas, do calor e das frutas”, disse a música, que veio para o Brasil com a filha de 45 anos e os netos de 11, 12 e 17 anos.
Apoio social e saúde
Nesta segunda (23), ela e seus compatriotas deram mais um passo importante no processo de regularização de suas situações no Brasil.
Um grupo de 11 ucranianos, juntamente com seus filhos, esteve no Cras (Centro de Referência de Assistência Social) Centro para fazerem o CadÚnico (Cadastro Único).
A ação, que integra uma parceria entre a Prefeitura e a Igreja da Cidade, que acolheu os refugiados, lhes permitirá ter acesso aos benefícios sociais municipais, estaduais e federais.
A partir das informações cadastradas, é possível que as famílias sejam selecionadas para diversos programas sociais, como Auxílio Brasil, Tarifa Social de Energia, Isenção de Taxas em Concursos Públicos e Viva Leite, entre outros.
A Prefeitura também está ajudando o grupo com a disponibilização do Odontomóvel para atendimentos e tratamentos odontológicos.
Eles também fizeram cartões do SUS (Sistema Único de Saúde) e CRAs (Cadastros de Regulação Ambulatorial), o que lhes propiciou serem vacinados contra a covid-19 e a poliomielite. Agora, estão se adequando ao calendário brasileiro de imunização contra diversas doenças.
Em outra frente de atuação, já obtiveram novos CPFs e deram entrada, na Polícia Federal, no processo para vistos de permanência no Brasil.
Ajuda humanitária
Cauana Souza, que tem 28 anos e atua como intérprete dos ucranianos desde a chegada deles ao Brasil, destacou a importância da Prefeitura para melhoria da vida dos refugiados.
“A Prefeitura tem ajudado demais. O apoio da Prefeitura para que eles tenham acesso ao CadÚnico, aos cartões SUS e ao Odontomóvel foi imprescindível”, afirmou Cauana, que trabalha na base de Missões da Igreja da Cidade e morou 6 anos na Rússia.
Há 10 anos no Brasil e casada com um brasileiro, a russa Olga Germano da Silva, de 35 anos, também atuou como intérprete do grupo no Cras Centro.
“Estou muito feliz de poder ajudá-los e fiz questão de me voluntariar para este trabalho como intérprete. Amo os brasileiros, os russos e os ucranianos”, disse Olga, que estava com a filha de 8 anos.
Quem também teve uma manhã especial foi a entrevistadora social Daiane Duque Galvão Oliveira, de 30 anos.
“Estou muito feliz. Já tinha feito CadÚnicos de estrangeiros, como haitianos e venezuelanos. Mas foi a primeira vez que atendi refugiados de guerra. Quando vi todo aquele horror na televisão, não imaginava que em tão pouco tempo teria a oportunidade de ajudá-los”.
Esperança
Há menos de um mês na cidade da inovação e das oportunidades, os ucranianos já conseguiram diversos avanços na luta pelo resgate da dignidade e da autoestima.
Ao invés de bombas, canhões, fuzis e escombros, passaram a conviver com corações abertos, sorrisos e braços acolhedores e a desfrutar de solidariedade e amor.
A corrente do bem que se formou lhes dá esperança de dias melhores, em que poderão voltar a seu país para retomarem suas vidas em harmonia e paz com seus parentes.
Entrevista com Cauana Souza
Intérprete dos refugiados ucranianos e membro da base de Missões da Igreja da Cidade
Como foi a chegada dos refugiados ucranianos a São José?
Eles chegaram no dia 26 de março e foram recebidos pelos membros e pela direção da Igreja da Cidade. Vieram 34, mas uma mulher já deixou São José. Seu marido conseguiu sair da Ucrânia e agora eles estão morando em Curitiba (PR). Então, hoje são 33. Chegaram aqui apenas com as roupas do corpo e mochilas. Vieram com casacos e encontraram um calorão aqui. Suas vidas estavam resumidas ao que trouxeram nas mochilas. Chegaram com traumas da guerra e da separação de suas famílias. Não sabiam e ainda não sabem se irão rever seus maridos, pais e filhos, que ficaram na guerra.
Quase um mês depois, o que mudou? Como está a vida do grupo?
Já houve muitos avanços. No começo, se assustavam cada vez que viam ou ouviam um avião passando e também com qualquer barulho. Agora, os filhos estão na escola, já estão acomodados em residências, estão aprendendo Português. A ajuda da Igreja da Cidade, da iniciativa privada e da Prefeitura têm feito diferença, garantindo qualidade de vida e dignidade para quem perdeu quase tudo.
Como a Prefeitura tem ajudado os refugiados?
A Prefeitura está ajudando demais. O auxílio tem sido imprescindível. Os CadÚnicos que fizeram hoje serão fundamentais. Neste momento, toda ajuda é bem-vinda. Agradecemos todo o apoio da Prefeitura, que já disponibilizou o Odontomóvel, os cartões SUS e as vacinas contra covid-19 e poliomielite. Profissionais da Prefeitura também têm ido ao Colégio Inspire, onde as crianças e adolescentes estão estudando, para ministrar palestras sobre saúde. São várias ações ao mesmo tempo.