A Superintendência Federal de Agricultura de São Paulo (SFA-SP) está buscando uma aproximação com cursos de gastronomia e cozinha no estado para estimular futuros chefs a utilizar produtos com indicação geográfica (IG) em suas criações. A ideia é fortalecer o conceito e a identificação dos selos de denominação de origem e de indicação de procedência, os dois tipos previstos na legislação brasileira sobre o tema. A superintendência é a representação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) no estado.
No dia 28 de setembro, alunos e professores do Hotel Escola Águas de São Pedro, do Senac, vão acompanhar palestra com o auditor fiscal federal agropecuário Francisco José Mitidieri, da SFA-SP, sobre as indicações geográficas. A ideia é incluir os ingredientes únicos e com IG dentro do conceito de cesta de bens e serviços de determinado território, esclarecer dúvidas dos estudantes e incentivar o uso e a valorização desses produtos pela gastronomia.
Ao saborear um prato elaborado com esses ingredientes, o consumidor poderá “viajar” pela sua história, se imaginar no território e divagar sobre as pessoas que o produziram. “É uma oportunidade de despertar aquela sensação de reviver os cheiros, a textura e os sabores da cozinha feita com tradição”, explica Mitidieri.
O primeiro movimento neste sentido ocorreu em junho, quando Mitidieri visitou o Senac de Campos do Jordão, onde o curso de graduação em gastronomia é oferecido. Na ocasião ele conversou sobre IG com diretores, professores e um grupo pequeno de alunos. “A ideia é que ele volte aqui ao Senac para uma troca de conhecimento com nossos alunos. O Francisco tem um conhecimento muito profundo a respeito dessas questões de indicação geográfica”, afirmou Daniel Sales, docente da disciplina de Produtos de Origem e Patrimônio Alimentar.
O curso de gastronomia em Campos do Jordão envolve cerca de 200 alunos e tem duração de dois anos. Ao se formar como tecnólogo em gastronomia, o egresso poderá atuar como personal chef, trabalhar em estabelecimentos de gastronomia nacionais e internacionais, prestar serviços em hotéis, spas, navios e outras áreas do turismo, entre outras oportunidades.
Daniel explicou que a abordagem do curso vai muito além da prática culinária. “O curso envolve um amplo espectro de reflexões relacionadas a questões sociais, culturais, etnográficas, geográficas, de economia”, afirmou. A atenção especial aos produtos com indicação geográfica faz parte dessa perspectiva.
Indicação Geográfica
O registro de Indicação Geográfica é conferido a produtos ou serviços que são característicos do seu local de origem, o que lhes atribui reputação, valor intrínseco e identidade própria, além de os distinguir em relação aos seus similares disponíveis no mercado. Nem sempre a IG distingue algum fator sensorial do produto. No caso da indicação de procedência, por exemplo, o que conta é a fama, a tradição de produção em determinada região geográfica, assim como aspectos históricos e culturais que possam estar envolvidos com o ingrediente.
Segundo Mitidieri, os benefícios de um processo de IG extrapolam a valorização do produto na hora da venda. “Os produtores acabam desenvolvendo uma cultura de associativismo, poderão fazer compras coletivas ganhando em escala, vão elevar o nível de boas práticas de produção e terão um patrimônio protegido”, explicou.
Daniel Sales confirma que essas ferramentas de coletividade são muito importantes para que os produtores consigam levar adiante projetos de indicação geográfica. O Senac de Campos do Jordão desenvolve projetos de pesquisa e de extensão, como o Saberes da Mantiqueira, em que alunos vão a campo e interagem com produtores. “Às vezes identificamos produtores com potencial para criar uma IG, mas nem sempre eles têm a informação e o conhecimento necessários”, disse.
O professor afirmou ainda que à faculdade interessa mapear os produtos com IG, saber quais são, quem produz e onde estão. Só no Estado de São Paulo existem quatro IGs reconhecidas: o café da Alta Mogiana, o calçado de Franca, o café da Região de Pinhal e a cerâmica artística de Porto Ferreira. O selo que atesta a IG é emitido pelo INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial).
Experiência
O chef Antonio Albanezze, de origem pantaneira e que agora empreende em São Paulo, disse que costuma dar preferência aos produtos com IG sempre que possível. “Eu acho muito legal isso. Os produtos que têm IG geralmente vêm de regiões onde é feito algo diferenciado”, afirmou.
Enquanto viveu no Pantanal, Antonio tentou articular a indicação geográfica da carne pantaneira, em função dos apelos de sustentabilidade associados ao produto. “É uma carne diferenciada, um sabor diferenciado, e o Pantanal tem 90% do bioma preservado com 220 anos de prática da pecuária. Isso tem que agregar”, falou. O Pantanal já registrou a IG do mel, com apoio da Embrapa, empresa vinculada ao Mapa.
O Ministério da Agricultura disponibiliza em seu site um mapa interativo em que qualquer cidadão conectado pode consultar as IGs potenciais e registradas.