Uma pesquisa inédita, de longa duração, com a participação de uma professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da Universidade de Taubaté (UNITAU), demonstrou como a diversidade e a inclusão podem colaborar para a conservação das espécies.
Ao longo de cerca de 30 anos, os pesquisadores coletaram uma série de dados sobre araras azuis que resultou em um artigo publicado no dia 13 de setembro pela revista virtual Scientific Reports, da Nature. Esse é um dos maiores periódicos científicos do mundo e envolve todas as áreas das Ciências Naturais.
O artigo tem o título “Análise de modelo de crescimento de filhotes de arara azul (Anodorhynchus hyacinthinus) com base em monitoramento de longo prazo no Pantanal brasileiro”. Entre os pesquisadores envolvidos, está a Profa. Dra. Maria Cecília Barbosa Toledo.
“O Projeto Arara Azul teve seu começo há mais de 30 anos e, desde o seu início, acompanho a pesquisadora Neiva Guedes. Ela é a responsável pelo projeto que, posteriormente, originou o Instituto Arara Azul. Sou pesquisadora associada do Instituto.
Esse é um trabalho muito relevante porque reúne dados de 30 anos, no mundo não existe algo similar. A arara azul é uma espécie que estava ameaçada de extinção. Graças ao trabalho do Instituto, ela saiu da lista de ameaçada para vulnerável”, afirma a professora.
Entre as atribuições da professora Maria Cecília, ao longo de todo esse período, esteve a análise e a modelagem do crescimento da população de araras azuis. “A grande sacada desse trabalho foi identificar em campo a presença de anões. Não encontramos nenhum outro registro publicado que evidenciasse a presença de indivíduos anões na natureza. São 30 anos medindo os indivíduos, asas, peso, comprimento de cauda. Só com essa análise muito acurada foi possível a identificação.”
De acordo com a pesquisadora, cerca de 7% da população de araras azuis foi identificada como anã. “A maior importância desse resultado é para os que fazem manejo de espécies ameaçadas, como as do grupo dos psitacídeos. Percebemos que a diversidade é muito importante. A natureza inclui, ela não pode desperdiçar, os pequenininhos vivem e se reproduzem normalmente.”
Com esse primeiro resultado, a professora acredita em uma mudança de cultura. “O ser humano vem de uma cultura em que a gente busca a perfeição, quer o tomate perfeito, o alface perfeito. E na natureza a coisa não funciona assim, quanto maior a diversidade, maior a robustez.”
O artigo foi submetido ao periódico internacional ao final de 2021 e passou por um rigoroso processo de avaliação por pares, em que outros cientistas conferem as informações apresentadas. A próxima etapa da pesquisa, de acordo com a professora, será buscar identificar os motivos que levam ao surgimento dos anões. “Foi um aprendizado muito grande.
Quando a gente publica em uma revista muito qualificada é também um aprendizado para a gente. Optamos, primeiro, por publicar a existência dos anões de araras azuis na natureza. Nosso próximo artigo é justamente tentar buscar as razões que levam ao nascimento dos anões dessa espécie. Se é algum problema ambiental, genético, a restrição alimentar também é uma possibilidade, precisamos verificar com carinho.”
Para a professora Maria Cecília, persistência e parcerias são questões que devem ser colocadas como essenciais para quem pretende trilhar ou já trilha a jornada do pesquisador. “Temos de mostrar ao público que a ciência não é feita do dia para a noite. Ela é construída ao longo dos anos. E fica um legado para todos os professores. É muito difícil chegar a um nível de excelência. Temos, sim, de fazer parcerias com grupos de pesquisa. O professor que não está 100% disponível para pesquisas tem que procurar essas costuras, alinhavar com outros grupos. Ninguém chega sozinho em lugar algum.”
Outras informações e notícias relacionadas a pesquisas, à ciência e ao XI Congresso Internacional de Ciência Tecnologia e Desenvolvimento (Cicted) da UNITAU podem ser acessadas aqui.