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Brasil pode produzir mais soja sem desmatar a floresta amazônica

Estudo desenvolvido na Esalq e publicado na Nature aponta que a proteção da Amazônia e a redução do aquecimento global passam pela intensificação do cultivo de soja

(FOTO: GERHARD WALLER)

Produzir mais soja a fim de garantir a segurança alimentar mundial sem comprometer, no entanto, o futuro da floresta Amazônica.

Esse princípio norteia boa parte dos pesquisadores das ciências agrárias e áreas correlatas e se apresenta como base do estudo Protecting the Amazon forest and reducing global warming via agricultural intensification, publicado na revista Nature essa semana.

O ponto principal apontado neste estudo indica que a intensificação do cultivo de soja poderia ajudar o Brasil a melhorar sua produtividade sem ter que reverter mais área da floresta amazônica em terras agrícolas ou de pastagens.

“A análise mostra que a continuação das tendências atuais no rendimento de soja levaria à conversão de mais 5,7 Mha de florestas e cerrado durante os próximos 15 anos, com um incremento de 1,955 Mt de CO2 lançados na atmosfera”.

Para intensificar a produção nos hectares existentes, os pesquisadores indicam que o país poderia aumentar a sua produção anual de soja em 36% até 2035, reduzindo simultaneamente as emissões de gases do efeito estufa em 58% em comparação com os índices de hoje.

Guerra e pandemia – O contexto atual, que lançou às economias globais o desafio de sobreviver diante do penoso cenário envolvendo guerra e pandemia, tem exigido da comunidade científica esforços ainda maiores no intuito de garantir a segurança alimentar.

O estudo reforça que a pandemia da COVID-19, junto com a guerra na Ucrânia, trouxe duas consequências que podem ter impactos expressivos nos países em desenvolvimento, que dependem de culturas de produtos de base como principal fonte de rendimento. “Uma é o aumento acentuado dos preços dos produtos agrícolas, que quase duplicaram em comparação com os níveis pré- pandêmicos. O segundo é um forte desejo dos governos nacionais de recuperarem rapidamente sua economia”.

Estes eventos são extremamente importantes para os países em desenvolvimento com vastas extensões de terra adequadas para a agricultura que são atualmente cobertas com ecossistemas frágeis, tais como florestas tropicais e cerrados, porque podem desencadear uma conversão maciça da terra num período relativamente curto, levando a perda de biodiversidade e aquecimento global.

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O Brasil contempla toda a complexidade do aumento de demanda por alimentos e da obrigação em proteger seus biomas. “O País acolhe uma das maiores reservas de biodiversidade do mundo, com 516 Mha de florestas e cerrado.

De especial relevância são as vastas áreas de florestas tropicais localizadas na Amazônia, somando 330 Mha. Ao mesmo tempo, o Brasil é o principal país exportador de soja, contabilizando 40% das exportações globais em 2017-2019”.

Durante o final dos anos 1990 e início da década de 2000, a produção de soja provocou um desmatamento maciço, mas durante os anos seguintes (2005-2015), o Brasil fez progressos tangíveis na redução das taxas de desmatamento por meio de moratórias e programas de incentivo financiados por países estrangeiros.

A questão a ser respondida é se estas medidas serão por si só suficientes para impedir a conversão de ecossistemas frágeis num contexto de preços elevados dos cereais e governos que procuram o crescimento econômico a partir do incremento da produção agrícola.

O que fazer – Como ações que poderão garantir o diálogo sustentável entre produtividade e sustentabilidade, o estudo propõe aumentar significativamente o rendimento da cultura da soja, com milho na sequência, além de aumentar o número de cabeças de gado em pastagens com intenção de liberar mais terra para os grãos.

Os cálculos realizados pela equipe de pesquisadores consideraram quatro cenários possíveis. A estratégia de intensificação permitiria ao Brasil realizar 85% do rendimento bruto projetado de soja e milho de segunda safra, em comparação com as tendências atuais. Ao mesmo tempo, reduziria a emissão de gases em 58%.

O estudo tem como autor primeiro autor o professor Fábio Ricardo Marin, do departamento de Engenharia de Biossistemas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e foi escrito em parceria com pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria, da University of Nebraska–Lincoln, do National Scientific and Technical Research Council (CONICET), Argentina, da Universidade de Buenos Aires, da Universidade Federal de Goiás e EMBRAPA Arroz e Feijão. O projeto foi desenvolvido nos últimos quatro anos e recebeu apoio da FAPESP, do CNPq e da Fullbrigth.

Acesse o artigo na íntegra em https://www.nature.com/articles/s41893-022-00968-8

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