”Se de repente a natureza perdesse todas as abelhas, não teríamos mais do que quatro anos de vida na Terra.” O presságio do físico Albert Einstein (1879-1955) é citado pelo biólogo Carlos Herman, professor da Escola Técnica Estadual (Etec) Mandaqui, na Capital.
Com ares de profecia apocalíptica, o alerta, hoje, está ainda mais próximo da realidade: as abelhas, principais polinizadores da natureza, estão ameaçadas de extinção.
A boa notícia é que é possível reverter a situação com ações que nem sempre demandam investimentos vultosos.
No terreno da Etec Mandaqui, em pleno espaço urbano da zona norte da cidade, Herman quer demonstrar que mesmo pequenas áreas verdes comportam uma colmeia e está implantando ali um meliponário. Ou, traduzindo, uma colmeia de abelhas Meliponas.
Abelhas sem ferrão
Diferentemente das abelhas do ramo Apis, as Meliponas, nativas de boa parte das Américas, são desprovidas de ferrão.
Entre as 90 espécies encontradas em território brasileiro, o professor elegeu a Mandaçaia para dar início ao projeto, por sua capacidade de polinizar a floração em um raio de 2,5 quilômetros a partir da base. Além disso, elas são bem adaptadas ao meio urbano.
No meio do caminho, porém, houve um contratempo, que logo foi resolvido: a dificuldade de obter Mandaçaia em meliponários credenciados fez com que o professor optasse pela Mirim-guaçu, que produz mel com propriedades medicinais
A primeira colmeia (estão previstas quatro) foi erguida na Etec em dezembro de 2022. A essa altura, já se preparava o terreno com a formação de um pasto melífero (o cultivo de flores que serão polinizadas): margaridas, em uma primeira etapa e, a seguir, pitangueiras. “É preciso evitar as plantas exigentes”, avisa Herman. “E as duas escolhidas para o início são resistentes em relação à qualidade do solo, quantidade de água e insolação”, conta o professor.
Insetos sociais
Enquanto o pasto melífero não se forma, as abelhas serão alimentadas artificialmente com o mel produzido por Apis, cada vez mais raras. A sua ausência já faz com que produtores de laranja, entre outras culturas, precisem alugar colmeias na época da polinização.
Essa escassez se deve a vários fatores, mas, mesmo que novos predadores naturais tenham surgido nos últimos 30 anos, nada se compara ao extermínio promovido pelo uso excessivo de agrotóxicos na agricultura.
O desmatamento é outra atividade que concorre para o progressivo desaparecimento dos chamados insetos sociais. O trabalho das abelhas não é o único responsável por manter vivas as áreas verdes do planeta, mas está entre os mais importantes.
Morcegos, aves e outros insetos também realizam o trabalho, mas só as abelhas se alimentam exclusivamente de pólen e néctar, o que aumenta a diversidade genética no processo reprodutivo das plantas, garantindo um ambiente ecologicamente equilibrado, – lembrando que apenas 10% delas, em média, são capazes de dispensar esse “auxílio” externo para se reproduzir.
Inverno aquecido
“Estamos perdendo a quantidade e a qualidade de polinizadores”, afirma o professor, que conta com a colaboração de Élder Ubirajara, docente do curso de Edificações, e da diretora Cinthia da Rocha Azevedo na sua empreitada.
Com a torre pronta e o funcionamento da colmeia previsto para o começo do primeiro semestre, já se prepara a instalação de resistências elétricas a fim de garantir o aquecimento adequado durante o inverno. Caso a temperatura caia abaixo do nível ideal, um termostato é acionado automaticamente, aquecendo a torre. “Esse recurso melhora a chance de sobrevivência da colmeia no período mais frio”, avalia.
Sempre atento aos artigos científicos que versam sobre o tema, o professor se vale, também, do entusiasmo dos estudantes – alunos dos cursos de Edificações e de Nutrição e Dietética – para implantar o projeto, apostando no benefício colateral, que é a formação de cidadãos conscientes e engajados na recuperação e na manutenção do equilíbrio ecológico natural.