A origem do nome de Jaboticabal deriva, como parece óbvio, de um bosque de jabuticabeiras nativas existente no primeiro perímetro demarcado do município. Voltando um pouco mais no tempo, a palavra jabuticaba é originária da língua tupi. Iaouti kaua significa “fruto de que se alimenta o jabuti” ou “frutas em botão”. Com essa identificação ancestral, era de se esperar que a cidade de pouco mais de 70 mil habitantes fosse o berço da saborosa frutinha. Mas é aí que podemos nos surpreender! Pela Lei 16.640/18, aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, o lugar de destaque no Interior paulista recebeu oficialmente o título de Capital…do Amendoim.
Quem é da terra e conhece a história da produção desse item tão brasileiro e sul-americano – provavelmente apresentado pelas mãos dos povos originários indígenas – não se assusta com isso. Pelo contrário, se enche de orgulho para mostrar que a sua produção persistiu à concorrência de outras culturas e ganhou o mundo.
Cultura tradicional no Brasil, o amendoim já era produzido comercialmente desde 1950. A região de Jaboticabal despontava com o know-how de seus produtores, que detinham conhecimento sobre o manejo da cultura, reconhecida como altamente exigente em cada etapa de seu desenvolvimento. As práticas eram passadas de pai para filho, e até meados da década de 1970, o amendoim dividia espaço com café, arroz, milho, soja, algodão e a cana, destinada à produção de açúcar por várias usinas.
Com o passar dos anos, a soja foi avançando em área e tecnologia, e a partir da década de 1970, com o advento do pró-álcool, cresceu a demanda por cana-de-açúcar. Dessa forma, o amendoim, produto símbolo de prosperidade na cidade até então, perdeu espaço na lavoura. Para se ter uma ideia, em 1972, a produção do ano inteiro chegava a 952 mil toneladas. Em 1988, ela não ultrapassava 200 mil toneladas.
Contudo, avaliando a configuração das lavouras, os produtores locais passaram a considerar que a rotação de culturas amendoim/cana-de-açúcar poderia tornar-se um grande diferencial competitivo. A prática não era nova, mas existia somente em pequena escala. Aproveitando o quinto ou sexto corte para a reforma dos canaviais, uma média de 15% das áreas de cana poderia ser utilizada para o amendoim.
Tradição
Em Jaboticabal, o amendoim era uma tradição passada de pai para filho. Entre o final da década de 1970 e início dos anos 1980, a Cooperativa Agroindustrial (Coplana) – entidade formada por produtores locais – recebia seus primeiros sacos de amendoim em um barracão do município. “A atividade demandava muita mão de obra, onde o pé de amendoim era arrancado do solo à mão e virado para que o sol secasse as vagens. A colheita era realizada por pequenos produtores rurais”, conta Lucas Ramos Neto, secretário municipal de Indústria, Comércio e Turismo de Jaboticabal.
Ainda de acordo com ele, a cultura do amendoim fez muita diferença, não somente para o produtor rural, mas para a sociedade local e toda a região. “A cultura do amendoim se tornou a segunda atividade econômica mais importante do município, depois da cana. Isso gerou empregos diretos e indiretos, aumentando a arrecadação e trazendo prosperidade”, acrescenta Ramos Neto.
Global
Já na década de 1990, a Coplana importou os primeiros atracadores dos EUA, trazendo a mecanização e a profissionalização ao setor. Assim, novas variedades de amendoim, adaptadas e mais produtivas, foram desenvolvidas. Em 2000, o amendoim destes produtores cooperativistas abria o mercado brasileiro para o Exterior, atendendo mercados como a União Europeia. No ano de 2010, veio a primeira auditoria da BRCGS [Brand Reputation Compliance Global Standard], certificação com reconhecimento global para a segurança do alimento. Isso garantiu a manutenção das exportações do amendoim de Jaboticabal.
Atualmente, o cenário segue positivo e em constante crescimento. O secretário de Indústria, Comércio e Turismo aponta que a safra 2022/2023 de amendoim tem estimativa de 25% de aumento na região em relação à safra anterior. Segundo a Conab [Companhia Nacional de Abastecimento], a produção de amendoim em casca na safra 2022/2023 em São Paulo foi de 788 mil toneladas, enquanto a produção brasileira atingiu 893 mil toneladas. O Estado segue como principal produtor no País, com 88% do volume total.
Exportações
No que diz respeito às exportações, em 2022 registrou-se um recorde de 297 mil toneladas exportadas, representando um crescimento de 12,5% em relação a 2021. São Paulo é responsável por mais de 95% das exportações de amendoim e óleo no Brasil. E Jaboticabal tem papel importante nisso.
Da lavoura ao laboratório
O município também é responsável por um importante evento científico nacional relacionado ao amendoim. Há quase duas décadas, Jaboticabal sedia o “Encontro sobre a Cultura do Amendoim”, promovido pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV), da Unesp. Para aproximar o evento da população e do produtor rural, em 2020, a universidade uniu-se à Cooperativa e a diversos membros da cadeia produtiva. Nascia, em agosto de 2020, a “Feira Nacional do Amendoim”, evento que reúne em um só lugar, o encontro técnico-científico, uma feira de negócios, shows musicais e gastronomia à base de amendoim. Este ano, ela acontece entre os dias 9 a 11 de agosto.