Não é de hoje que a engenharia militar brasileira contribui com a missão de paz da ONU no Saara Ocidental. A partir de 2010, a MINURSO (Missão das Nações Unidas para o referendo no Saara Ocidental) passou a contar com militares formados pelo Instituto Militar de Engenharia (IME) no seu quadro de observadores militares. Atualmente, a MINURSO conta com a Major Nina Figueira, desdobrada em 2022. Engenheira cartógrafa do Exército Brasileiro, seu trabalho tornou possível a execução de uma missão fundamental para a MINURSO. Com os conhecimentos na área de Sistemas de Informações Geográficas, Geointeligência, Comando e Controle, ela contribuiu para o êxito da primeira transposição logística da Berma após novembro de 2020, quando o cessar fogo foi quebrado.
A Berma ou “muro do Saara” é uma região que divide um território contestado entre Marrocos e o povo saaraui, do Saara Ocidental. Área arenosa e cercada de minas terrestres, a região da Berma só pode ser trafegada sob autorização das partes beligerantes – permissão que a MINURSO obteve para missões de ressuprimento, chamadas de deslocamento administrativo logístico.
O Chefe do Estado-Maior da Força, na MINURSO, Coronel Bryant Rogers, falou sobre o trabalho desempenhado pela engenheira. “Ela desempenhou com excelência as missões operacionais durante o deslocamento administrativo logístico III, preparando os dados geoespaciais durante a fase de planejamento e atualizando a localização em tempo real do comboio após o seu início. Levando em conta a sua expertise técnica, ela foi selecionada para participar do comboio do deslocamento administrativo logístico IV, que transpôs a Berma e a zona neutra (Buffer Zone) e completou a missão de ressuprir as equipes remotas.”
O primeiro comboio ocorreu em março de 2023. No segundo, em abril, integrando o combio, a Major Nina conduziu a navegação no terreno e a operação do comboio com o mapa que ela mesma projetou. Foram 3 dias de deslocamento no meio do deserto. Foi devido à dificuldade de tráfego gerada pelos bancos de areia que a rota teve de ser alterada no meio da operação. Ao propor um novo trajeto, a militar atualizou os mapas da missão, traçando novos pontos de apoio para os futuros comboios.
O Coronel Bryant Rogers comentou ainda sobre o novo mapa de trafegabilidade que ela preparou para a operação, no campo, para evitar os campos minados e regiões arenosas no caminho de volta: “essas atualizações geográficas são cruciais para nos permitir conduzir os próximos deslocamentos logísticos em zonas críticas sãos e salvos”.
A Major Nina informou que precisou revisar os cálculos e analisar os dados históricos dos incidentes anteriores com minas e estudar possíveis cenários críticos no caso de uma interceptação. “Qualquer centímetro mal calculado e poderíamos voar pelos ares deslocando toneladas de diesel, colocando em xeque não apenas a missão mas também a imagem do meu país no cenário internacional”, disse.
Quadro de Engenheiros Militares (QEM)
O QEM é formado por profissionais que se formam no Instituto Militar de Engenharia (IME). O Comandante do Corpo de Alunos do IME, Coronel Morett, foi primeiro engenheiro do QEM a integrar a missão no Saara como observador militar. Ele esteve no terreno de setembro de 2010 a setembro de 2011 e relata que “a missão no Saara é desafiadora e requer habilidades técnicas, estratégicas e operacionais para garantir o bom funcionamento das instalações e infraestruturas militares da Missão.” Segundo ele, o QEM desempenha um papel fundamental nesse contexto, pois é responsável por planejar, projetar, construir e manter estruturas, garantindo que as tropas tenham todas as condições necessárias para cumprir suas missões. Para ele, a presença do QEM na missão do Saara destaca a importância da engenharia militar como um componente essencial das operações militares. “Os engenheiros militares possuem conhecimentos técnicos especializados e uma abordagem multidisciplinar que contribui para a eficiência e eficácia das operações militares”.
Atuação na MINURSO
Inicialmente, na MINURSO, a Major Nina atuou como observadora militar em um posto local (team site), no lado marroquino. Ela passou pelo Exame de Qualificação para Líder de Patrulha e também foi encarregada da célula de Operações do Team Site (G3), sendo responsável pelo planejamento e execução das patrulhas de fiscalização das unidades marroquinas, atividades investigativas ligadas as violações do acordo de paz, visitas de ligação às brigadas, coordenação das atividades aéreas, supervisão de treinamento e aplicação do PLQ de novos observadores. Atualmente, integra o Centro de Operações Conjuntas da MINURSO (JOC – Joint Operations Center), ocupando a carteira da célula de Sistemas de Informação Geográfica.