Neste ano de 2024 a Família Salesiana em todo o mundo celebrará 200 anos do sonho de Dom Bosco, aos nove anos de idade, com o lema: “O sonho que vos faz sonhar” – Um coração que transforma “lobos” em “cordeiros”.
Segundo o Reitor Mor dos Salesianos, Cardeal Ángel Fernández Artime, este é um sonho marcante e fundamental para a vida de toda a Congregação Salesiana.
Ele assim se expressou: “a perspectiva de fundo é a de não olhar o sonho apenas como um projeto vocacional entregue a Dom Bosco sobre o que aconteceria no futuro, mas olhar para trás, ver também as lágrimas da mesa do Sagrado Coração de Roma como releitura da própria vida, ver como o Senhor é o protagonista, como tem tudo nas mãos, e como este sonho tem algo de interativo com os sonhos dos salesianos, dos seus filhos, de toda a família salesiana e sobretudo dos jovens”.
Verdadeiramente esse sonho de Dom Bosco aos noves anos é um marco, senão, o fundamento da missão que Deus lhe confiou. Essa compreensão ele teve somente no fim da vida. Em 1875 ele conta o sonho pessoalmente a Dom Barberis.
Nessa época, estava com 60 anos e já tinha visto nascer a Congregação Salesiana, a Arquiconfraria de Maria Auxiliadora, o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora, e a Pia Sociedade dos Salesianos Cooperadores. Desta forma, podemos perceber que toda a existência e vocação de Dom Bosco foi marcada pela profecia deste sonho.
Mas que sonho é este? Seguem os relatos do próprio dom Bosco no livro das Memórias do oratório: “Nessa idade tive um sonho, que me ficou profundamente impresso na mente por toda a vida. Pareceu-me estar perto de casa, numa área bastante espaçosa, onde uma multidão de meninos estava a brincar.
Alguns riam, outros divertiam-se, não poucos blasfemavam. Ao ouvir as blasfêmias, lancei-me de pronto no meio deles, tentando, com socos e palavras, fazê-los calar. Nesse momento, apareceu um homem venerando, de aspecto varonil, nobremente vestido. Um manto branco cobria-lhe o corpo; seu rosto, porém, era tão luminoso que eu não conseguia fitá-lo.
Chamou-me pelo nome e mandou que me pusesse à frente daqueles meninos, acrescentando estas palavras: Não é com pancadas, mas com a mansidão e a caridade que deverás ganhar esses teus amigos.
Põe-te imediatamente a instruí-los sobre a fealdade do pecado e a preciosidade da virtude… Eu te darei a mestra, sob cuja orientação poderás tornar-te sábio, e sem a qual toda sabedoria se converte em estultice… A seu tempo tudo compreenderás”.
Realmente é “um sonho que faz sonhar”. O Reitor Mor ainda escreve no documento para 2024: “é preciso ter cuidado para não apresentar Dom Bosco como um ideal inatingível.
Dom Bosco é real e concreto, com as suas dificuldades enfrentadas passo a passo, com a confiança e a esperança no Ressuscitado e em Maria Auxiliadora.
Certamente precisamos ver o sonho dos nove anos como uma profecia que precisa ser iluminada e atualizada; é, sem dúvida, um exemplo de como a Palavra de Deus deve ser acolhida com humildade e confiança, sem pressa de alcançar sabe-se lá quais resultados imediatos”.
Deus, na sua Providência, usa de várias formas para atrair aqueles que Ele chama. O sonho de Dom Bosco aos nove anos nos convida a olhar para nossa vida e perceber o chamado de Deus. É certo que Deus continua chamando.
Iluminado pela experiência de Dom Bosco, Monsenhor Jonas Abib, fundador da Comunidade Canção Nova, também entendeu seu chamado para ser o fundador desta obra que tem como finalidade formar homens novos para o Mundo Novo. Dom Bosco é patrono da Comunidade Canção Nova.
Não temos dúvidas de que no carisma salesiano encontramos as raízes da nossa fundação e da nossa missão evangelizadora: salvar almas, levar a experiência do encontro pessoal com Cristo na potência do Espírito Santo.
Concluo com as palavras do Reitor Mor, Pe. Ángel Fernández Artime: “Deus fala de muitas maneiras, faz grandes coisas com ‘instrumentos simples’, mesmo no mais profundo do nosso coração, através dos sentimentos que se movem em nós, através da Palavra de Deus acolhida com fé, aprofundada com paciência, interiorizada com amor, seguida com confiança.”