Já imaginou como hobbies gastronômicos, artísticos e esportivos podem impulsionar a sua carreira? Diferentemente das softs skills (habilidades socioemocionais), as mad skills são consideradas atividades de lazer realizadas fora do ambiente de trabalho que destacam algum aspecto diferenciado do profissional. O conceito vem ganhando espaço no Brasil. Segundo a gerente da consultoria Robert Half, Lais Vasconcelos, a nova habilidade pode ser definida como uma “tendência de afinidade”.
O que são mad skills e por que elas importam?
A especialista atesta que essas habilidades não técnicas, adquiridas por meio de hobbies ou interesses pessoais, podem ter um impacto significativo no desempenho profissional. As mad skills envolvem características como resiliência, criatividade e capacidade de trabalhar em equipe.
De acordo com dados do Índice de Confiança da Robert Half, a relevância da inclusão de práticas extraprofissionais é valorizada por 66% dos recrutadores consultados.
Como as mad skills podem ser aplicadas no ambiente de trabalho?
No contexto brasileiro, o termo ainda é pouco utilizado, mas as empresas estão começando a valorizar mais, especialmente após a covid-19.
Veja alguns exemplos de mad skills:
– Um líder que participa de corridas guiadas para pessoas cegas pode demonstrar empatia, liderança inclusiva e compromisso com a diversidade.
– Habilidades adquiridas com atividades extracurriculares, como teatro ou oratória, podem indicar facilidade de comunicação e habilidade de lidar com o público.
Essas características costumam ser mais valorizadas em cargos de liderança, avalia a gerente da Robert Half.
Mentalidade esportiva melhora performance no trabalho, diz CEO
André Bobek, 31, fundador da Mhydas Planejamento Financeiro, utiliza frequentemente analogias do esporte para motivar seus liderados. Ativo desde mais jovem, afirma que a mentalidade esportiva contribui para a performance no trabalho.
“Levo as mesmas exigências do esporte para minha vida enquanto empresário, como o cuidado com a alimentação e com o sono. Isso potencializa meu trabalho”, conta.
Bobek mantém uma rotina rigorosa de treino e alimentação. O planejamento inclui futebol, tênis, musculação e golfe. O estilo se estende para o escritório: no ambiente, só entra café sem açúcar e bolo saudável. A empresa também formou um time de futebol com os funcionários.
Na hora de contratar, Bobek acredita que candidatos com experiência esportiva apresentam maior adaptação a ambientes competitivos e desafiadores, como a área de vendas.
Embora a prática esportiva não seja um critério eliminatório, Bobek observa que colaboradores que adotam essa rotina tendem a se adaptar melhor à cultura da empresa. Além disso, ele menciona casos de profissionais que, inspirados pelo ambiente, começaram a praticar esportes.
Esporte não é obrigatório, mas empresa estimula as mad skills
Ainda conforme os dados do Índice de Confiança da Robert Half, 17% dos recrutadores só consideram atividades extraprofissionais se estiverem relacionadas ao setor de atuação da pessoa candidata.
Essa lógica se aplica na Dr. Peanut, marca curitibana de pasta de amendoim liderada pelo empreendedor Lucas Castro, 34.
A conexão do empreendedor com o esporte começou na adolescência, influenciado pelo pai. A primeira aposta de Lucas foi uma loja de suplementos. No início, ele buscava contratar pessoas conectadas ao esporte por causa da natureza do trabalho que exigia algum tipo de conhecimento.
Hoje ele não vê a habilidade como uma característica obrigatória No entanto, a cultura da Dr. Peanut incentiva os colaboradores a adotarem um estilo de vida saudável, incluindo a prática de esportes, mesmo que não seja uma exigência inicial para contratação.
Concentração, respeito, trabalho em equipe e liderança, habilidades aprendidas no esporte, são mad skills fundamentais na atuação profissional, pondera o empreendedor.
Segundo Lais Vasconcelos, da Robert Half, as habilidades não técnicas estão ganhando relevância em processos seletivos no Brasil, com empresas mais atentas aos hobbies e à vida pessoal dos candidatos.
‘Mad Skills’ estimulam cultura de alta performance, diz CEO
Sérgio Kendy, 31, CEO do Grupo The Best Açaí, acredita que o esporte traz características essenciais para o ambiente de trabalho. Durante entrevistas de emprego, ele procura identificar comportamentos que são comuns em atletas, como a disciplina e a dedicação.
Ele e outros dois sócios são adeptos do triatlo (natação, ciclismo e corrida). O CEO afirma que o “esporte ensina a ter disciplina no trabalho”. Dois vendedores da empresa adotaram a prática.
Na perspectiva do CEO, estas são as habilidades do esporte que contribuem para o desenvolvimento profissional:
1 – Disciplina e dedicação: base para alcançar altos desempenhos
2 – Intensidade: é preciso colocar energia e paixão no que se faz para alcançar bons resultados.
3 – Proatividade e comprometimento: características que busca identificar em entrevistas de emprego.
4 = Cultura de alta performance: A empresa incentiva práticas esportivas, que moldam um ambiente de trabalho focado em entrega e evolução contínua.
Lais Vasconcelos, da Robert Half, observa que as mad skills são vistas como uma forma de complementar as competências técnicas. “Quando entrevisto um candidato que é maratonista, por exemplo, eu já sei que ele tem disciplina, determinação e superação de limites. Essas características são muito valorizadas, principalmente em cargos de liderança.”
Dicas para identificar mad skills na entrevista de emprego
A gerente da Robert Half orienta iniciar a entrevista falando sobre a trajetória profissional do candidato e, em seguida, explorar a vida pessoal para entender melhor os hobbies e interesses.
Uma maneira eficaz de introduzir o tema é perguntar como os desafios pessoais do profissional o ajudaram a desenvolver resiliência e superação de obstáculos.
– Exemplo de pergunta: “Você consegue me trazer alguns exemplos da sua vida pessoal que demonstrem sua capacidade de superar desafios?”
Vasconcelos avalia as mad skills como uma “tendência de afinidade” em ambientes de liderança. Participar de atividades esportivas, como o triatlo, pode criar uma identificação natural entre líderes e gestores de uma empresa. A conexão pode facilitar até mesmo o networking.
“A tendência é que isso cresça à medida que mais organizações compreendam a importância dessas habilidades”, estima a executiva da Robert Half.