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Simular mentalmente as atividades físicas pode melhorar a prática, aponta professor

Conforme André Frazão Helene, a antecipação e imaginação de exercícios promovem alterações fisiológicas que beneficiam os resultados obtidos posteriormente na atividade real

Treinamento imaginativo para iniciantes deve ser gradual e ajustado ao nível de habilidade, sendo necessário simplificar a visualização para torná-la mais acessível e adequada às suas capacidades. (Foto: Governo de SP)

O cérebro humano possui uma enorme capacidade de simular e prever situações específicas e, em determinados casos, imaginar e antever a realização de alguma ação é crucial para executá-la de maneira mais efetiva. De maneira geral, qualquer pessoa pode adotar essa prática para realização de tarefas cotidianas com maior precisão, mas os esportistas, em especial, costumam recorrer a essa imaginação motora para aprimorar o rendimento físico. Segundo André Frazão Helene, professor do Instituto de Biociências (IB) da USP, esse método, que envolve a visualização de ações para melhorar o desempenho real, pode ser chamado de simulação mental.

Conforme o especialista, uma forma eficaz de colocar a imaginação motora em prática é a técnica na qual o indivíduo imagina a si mesmo realizando a ação, visualizando-se em um cenário de execução. Helene conta que esse método de simulação mental tem mostrado ser eficiente para gerar alterações fisiológicas e melhorar o desempenho motor durante a realização real da tarefa.

De acordo com o professor, quando um indivíduo coloca-se na condição de imaginar a si mesmo realizando uma atividade, ocorre uma ativação de áreas cerebrais semelhantes às usadas na execução real das tarefas. Ele afirma que a simulação mental de tarefas envolve, assim como a execução real, identificar qual é o aspecto central da ação motora a ser realizada e isso auxilia na posterior execução do movimento.

“Um exemplo é uma pessoa praticando basquete e treinando a execução de lances livres. Então esse indivíduo precisa criar uma condição de imaginação motora, que pode funcionar melhor com os olhos fechados, onde ele olha para a cesta, levanta os braços e simula o movimento da bola por entre os seus dedos. Quando testaram isso, perceberam que realmente esse treinamento mental torna o desempenho de uma tarefa melhor do que era anteriormente. Isso demonstra como realizamos tarefas no mundo real a partir da atividade neural”, esclarece.

Atletas

Segundo Helene, a imaginação motora é amplamente utilizada no esporte para melhorar habilidades, com atletas em níveis avançados conseguindo internalizar e aplicar simulações mentais de forma eficaz. Ele esclarece, no entanto, que o treinamento imaginativo para iniciantes deve ser gradual e ajustado ao nível de habilidade, sendo necessário simplificar a visualização para torná-la mais acessível e adequada às suas capacidades.

Conforme o professor, a imaginação motora é extremamente valiosa porque permite que indivíduos treinem habilidades complexas sem a necessidade de prática física. Essa abordagem é vantajosa, pois minimiza o risco de lesões e permite um foco aprofundado em aspectos técnicos específicos da execução, que podem ser difíceis de trabalhar durante o treinamento real. No esporte, isso é especialmente benéfico, pois permite que atletas ajustem estratégias e gestos técnicos característicos, corrigindo vícios e melhorando a performance sem comprometer a integridade física.

“Alguns trabalhos encontraram a possibilidade de haver alteração de força, ou seja, o treinamento imaginativo possibilita que a realização posterior seja realizada com mais força do que se você não tivesse feito esse treino. Isso tem a ver não apenas com a estrutura muscular por si só, mas a maneira pela qual você vai mobilizar essa estrutura muscular. Ou seja, caso o treinamento imaginativo seja bem direcionado para esse grupos musculares, pode aprimorar a força de um indivíduo”, analisa.

Aplicação cotidiana

Além de beneficiar atletas de elite, André Frazão Helene conta que o treinamento imaginativo é útil para qualquer pessoa, incluindo aqueles que desejam aprimorar suas atividades diárias. Indivíduos com restrições físicas, por exemplo, podem utilizar simulações mentais para aprender a realizar movimentos de maneira mais eficiente e segura, como subir escadas sem sofrer com dores nas articulações.

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Dessa maneira, o docente explica que a prática mental pode servir como complemento às atividades físicas, otimizando o desenvolvimento de habilidades motoras e a recuperação de movimentos. Ademais, esse método ajuda a manter a qualidade dos movimentos executados e pode evitar a perda muscular durante períodos de não utilização de membros do corpo por imobilidade.

“Do ponto de vista biológico, simular e imaginar ações estimulam áreas cerebrais semelhantes às usadas na execução real dessas ações, mas, além disso, estudos mostram que a prática imaginativa pode influenciar fatores fisiológicos como a taxa ventilatória e o batimento cardíaco. Obviamente que esses níveis de batimento cardíaco não são os mesmos que os presentes na execução real da atividade, mas evidenciam os benefícios reais e mensuráveis dessa prática no desempenho motor e cognitivo”, finaliza.

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