Com risco geopolítico, Ibovespa fecha em baixa de 1,38%, aos 131,6 mil pontos

Ante o receio de escalada militar no Oriente Médio, o petróleo subiu 5% em Londres (Brent) e Nova York (WTI), movimento que apoiou as ações da Petrobras (ON +1,35%, PN +1,23%)

Ante o receio de escalada militar no Oriente Médio, o petróleo subiu 5% em Londres (Brent) e Nova York (WTI), movimento que apoiou as ações da Petrobras (ON +1,35%, PN +1,23%). (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

São Paulo, 03 – Após ter flertado na quarta-feira, 2, com os 135 mil pontos no intradia, o Ibovespa voltou a oscilar para baixo nesta quinta-feira, 3, marcada por cautela global em torno das tensões entre Israel e Irã. Ante o receio de escalada militar no Oriente Médio, o petróleo subiu 5% em Londres (Brent) e Nova York (WTI), movimento que apoiou as ações da Petrobras (ON +1,35%, PN +1,23%).

Contudo, as ações da estatal, sozinhas, não conseguiram dar suporte ao Ibovespa, que fechou em baixa de 1,38%, aos 131 671,51 pontos, bem mais perto da mínima (131.176,49) do que da máxima (133.513,79) correspondente à abertura.

O giro foi a R$ 23,1 bilhões. Na semana, o Ibovespa cede 0,80%, passando a cair também no mês (-0,11%) no agregado de três sessões. No ano, acumula perda de 1,87%.

Com Vale em queda de 1,92% e perdas entre os bancos que chegaram a 2,30% e 2,46%, respectivamente, para Santander e Itaú, o ajuste do Ibovespa não foi maior em razão de Petrobras, que acompanhou ao longe o salto nas cotações do petróleo. Na ponta do índice, destaque para Natura (+2,59%), PetroReconcavo (+1,83%) e Yduqs (+1,63%). No lado oposto, Assaí (-5,73%), Azul (-4,81%) e Carrefour (-4,74%).

“É provável que os comentários do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, tenham contribuído para a queda generalizada” dos ativos de risco nesta quinta-feira, à exceção do petróleo, diz Inácio Alves, analista da Melver.

Nesta quinta, Biden admitiu haver uma discussão para definir se os Estados Unidos apoiarão ataque de Israel a instalações petrolíferas do Irã – declaração feita a jornalistas que foi decisiva para a escalada da commodity ao longo do dia, em meio a preocupações sobre a oferta em um importante produtor da região

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Ao ser questionado sobre “permitir” retaliações israelenses, Biden enfatizou que não atribui permissões ao país aliado, mas apenas o “aconselha”. “Não vai acontecer nada ataque hoje. Falaremos sobre isso depois”, acrescentou o presidente americano Biden não mencionou o tipo de sanção que o governo dos EUA planeja impor ao Irã após o ataque de mísseis contra Israel no início da semana.

“Com a escalada do conflito no Oriente Médio, o mercado acionário global apresenta um grau adicional de risco a ser ponderado pelos investidores”, diz Anderson Silva, sócio da GT Capital. “Surge a variável ‘conflito’, capaz de abalar qualquer tese de investimento fundamentada em premissas econômicas”, acrescenta o especialista, observando que a crescente incerteza geopolítica se impõe, no momento, a outros fatores na análise de risco-retorno, tipicamente econômicos, como inflação, nível de juros, rentabilidade e precificação das empresas.

Ele também relativiza o efeito da recente elevação da nota de crédito soberano do País pela Moody’s, a primeira das principais agências de rating a reaproximar o Brasil do chamado grau de investimento, considerado o selo de bom pagador. “Os investidores seguem demandando prêmios maiores para alocar capital no País, o que continua pressionando as curvas futuras de juros”, acrescenta.

Dólar

O desconforto dos investidores à escalada do conflito entre Israel e Irã, além de dados mostrarem resiliência da economia norte-americana, gerou uma busca pelo dólar globalmente, fazendo com que o câmbio voltasse ao patamar de R$ 5,47 no segmento à vista – assim, apaga a apreciação que o real após a mudança de nota pela Moody’s nesta semana. A desvalorização da moeda local perdeu força no período da tarde, contida pela alta de 5% do petróleo e porque o Ministério da Fazenda anunciou nova Medida Provisória que pode gerar arrecadação extra que deve superar os R$ 16 bilhões em 2025. Ainda assim, o mercado tem ponderado que o risco fiscal segue no radar.

O dólar à vista fechou em alta de 0,53%, a R$ 5,4735. Às 17h33, o contrato para novembro avançava 0,54%, a R$ 5,4920. Já o DXY, índice que mede o dólar contra uma cesta de seis moedas fortes subiu 0,31%, a 101,89 pontos, máxima desde 19 de agosto.

“A questão do Oriente Médio faz com que o mercado, em geral, busque segurança, e o dólar é moeda que dá proteção para o mundo inteiro”, afirma Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da corretora Treviso.

No local, o fiscal segue no radar das mesas de operações. Segundo Galhardo, “o mercado não engoliu muito a elevação de rating da Moody’s, porque as condições fiscais não condizem com o novo rating”.

Na quarta-feira à noite, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, destacou que o Brasil precisa de algum choque fiscal se quiser conviver com juros baixos. Segundo ele, as expectativas de inflação estão desancoradas e é importante fazer com que a taxa real neutra de juros do Brasil caia.

“O que Campos Neto quer dizer é que não adianta o governo ‘tampar o sol com a peneira’ e mostrar, como hoje, que o déficit primário do governo somou mais de R$ 22 bilhões em agosto”, diz o gerente de câmbio da Treviso.

Como contraponto, o Ministério da Fazenda informou que a Medida Provisória que alonga o prazo para instituições financeiras deduzirem perdas decorrentes de inadimplência da base de cálculo do IRPJ e CSLL deve gerar uma arrecadação adicional que superará os R$ 16 bilhões em 2025 – o valor não está previsto no Projeto de Lei Orçamentária (PLOA) de 2025, portanto seria receita adicional ao já previsto na proposta enviada ao Congresso.

Segundo Victor Furtado, head de alocação da W1 Capital, “a MP pode fazer com que haja menos pressão, com que seja possível atingir meta de 2025”, pondera, cravando que parte da desaceleração da alta do dólar ante o real no período da tarde ocorre pela MP.

Outro fator que ajudou o real a não se desvalorizar mais ainda foi o petróleo, que fechou em alta de 5% tanto em Londres quanto em Nova York por causa dos conflitos no Oriente Médio, segundo Galhardo, que destaca que o País é exportador da commodity, o que ajudaria.

Juros

Os juros futuros subiram nesta quinta-feira, 3, em função do ambiente externo marcado pelo avanço no rendimento dos Treasuries e incertezas geopolíticas que trouxeram aversão ao risco. As máximas foram atingidas pela manhã, dada a pressão adicional do leilão de prefixados do Tesouro, com risco maior para o mercado, e quando também era mais latente o temor de uma contra ofensiva de Israel ao Irã.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou na máxima de 12,30%, de 12,23% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2027 subiu de 12,27% para 12,36% e a do DI para janeiro de 2029, de 12,35% para 12,42%.

Passado o efeito positivo da melhora do rating do Brasil pela Moody’s, o mercado doméstico voltou-se hoje ao cenário internacional. “Temos as questões do Oriente Médio que continuam levando à aversão ao risco global”, afirma o sócio e estrategista-chefe da EPS Investimentos, Luciano Rostagno, lembrando que nesse quadro quem mais sofre são os ativos de economias emergentes.

“As bolsas ao redor do mundo estão em queda por conta da preocupação com Israel e Irã, e o petróleo voltando a subir”, complementa. Pesaram sobre o mercado comentários do presidente dos EUA, Joe Biden, admitindo discussões sobre possível bombardeio de Israel em unidades petrolíferas do Irã.

Nesse contexto, os juros dos Treasuries teriam de recuar pois a tendência é o mercado buscar segurança na compra de títulos do Tesouro americano, mas hoje avançaram com o índice de gerentes de compras (PMI) do setor de serviços dos EUA, medido pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM, na sigla em inglês), acima do esperado. O índice subiu para 54,9 em setembro, ante previsões de 51,8.

As taxas dos Treasuries subiram ainda mais à tarde, com o juro da T-Note batendo em 3,85%, refletindo a disparada de 5% dos preços do petróleo e o aumento da cautela antes da divulgação do payroll nesta sexta-feira.

A percepção dos agentes é de que os prêmios de risco seguem elevados na curva, mesmo após o ajuste de baixa promovido após a decisão da Moody’s, que por sua vez, teria sido comedido pelo ceticismo do mercado em relação à possibilidade de o País retomar o grau de investimento ainda durante o governo Lula.

“O mercado ainda segue ‘comprador’ com o risco do descumprimento do teto da meta de inflação de 2025 no radar”, afirma o sócio e estrategista-chefe da Equador Investimentos, Eduardo Velho.

Para ele, o foco do governo tem que ser a trajetória da dívida pública bruta/PIB, que deve superar 80% do PIB em breve e níveis de 90% nos próximos 12 meses. “O crescimento econômico de curto prazo não será suficiente para estancar essa dívida em alta e sim, o ajuste fiscal e o recuo da inflação”, explica Velho, segundo o qual seus modelos apontam que a Selic teria de subir para 12,75% para que o IPCA não supere o teto de 4,5% em 2025. “Mas o regime da ‘meta contínua’ pode fazer com que Bacen termine o ciclo na faixa de 12,25%.”

Em entrevista para comentar o resultado do Governo Central em agosto, o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, disse ser importante que o País adote medidas para estabilizar a dívida pública “idealmente” num patamar ligeiramente inferior a 80% do PIB. “Seria um grande resultado”, disse, lembrando que a equipe está refinando os dados da nova trajetória, afetada, segundo ele, pelo aumento da taxa de juros, com estabilização que ronda entre 81% e 82% do PIB em 2028.

A Medida Provisória 1.261/2024, que alonga o prazo para instituições financeiras deduzirem perdas decorrentes de inadimplência da base de cálculo do IRPJ e CSLL, foi monitorada, mas sem impacto nos juros. A MP vai gerar R$ 16 bilhões adicionais em 2025, que não estão previstos no Projeto de Lei Orçamentária (PLOA), mas a Receita explicou que a medida não tem objetivo arrecadatório, e sim “prudencial”. Também esclareceu que o valor decorre do alongamento do reconhecimento de uma despesa que anteriormente aconteceria em 36 meses. Portanto, no longo prazo, o resultado arrecadatório da medida é neutro.

Na gestão da dívida, o Tesouro vendeu integralmente o lote de 8 milhões de LTN e de 1,050 milhão de NTN-F, com risco maior para o mercado.

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