Sardinhada com pimentos e broa, um petisco de comer e chorar por mais

Diz o provérbio que “a mulher e a sardinha, quer-se pequenina”. Mas pequena ou grande desde que seja a pingar no pão, quente e fumegante, venha ela. É tradição comer-se nas festas populares – Santo António, São João e São Pedro -, mas o hábito enraizou-se e enquanto a pesca for permitida o manjar que já foi dos pobres é ouro nos dias de hoje

Sardinhada em Portugal. (Foto: Vaz Mendes)

Há umas largas dezenas de anos a sardinha alimentava muitas bocas, principalmente as pessoas de parcos recursos económicos. O hábito de comer o pequeno peixe capturado na costa portuguesa servia mesmo para enganar a fome. A sardinha era esfregada no pão para lhe dar outro sabor e lá se fazia uma refeição barata, mas reconfortante. Nos dias de hoje a bela sardinhada já leva mais condimentos, como umas batatas a murro, salada de pimentos, alface, tomate e azeitonas, regada com um bom vinho, mas comer a divinal iguaria no pão ainda faz a delícia de muito boa gente.

Os preços não variam muito e são acessíveis às bolsas menos recheadas. A sardinha come-se em qualquer zona de Portugal, mas há locais de eleição, por norma junto à orla marítima. Depois existe a fama. Uns dizem que a Sul do País, entre Setúbal e o Algarve, é mais saborosa, outros, a Norte, vão mais pela sardinha da Afurada, em Vila Nova de Gaia, a de Matosinhos ou a de Angeiras, freguesia piscatória do concelho matosinhense. Por experiência própria já comi em tudo quanto é sítio e não me queixo. Desde que seja a pingar. Seca é que não.

Diz-se a pingar porque a sardinha liberta um óleo que lhe dá o sabor, para lá de ser um peixe rico em ácidos gordos, potássio, iodo, cálcio, fósforo, ferro e vitaminas. Aliás, faz mesmo parte das recomendações dos nutricionistas, juntamente com outros alimentos similares, como, por exemplo, o salmão e a cavala. A saúde agradece. Só que uma boa sardinhada não é só comer o peixinho. Por norma fazem-se umas “tainadas” com os amigos, ou seja, umas valentes festas bem regadas com um vinho verde ou maduro… e lá vem a gordura má. Bem, o melhor mesmo é ir por aquele adágio popular que diz “uma vez não são vezes”. Ou duas, ou três. Agora sou eu a dizer.

Sardinhada em Portugal. (Foto: Vaz Mendes)

Assada no carvão a sardinha tem um sabor diferente, mas há quem opte, à falta de brasas, pela grelha elétrica. Convém não deixar o peixe muito tempo a assar – cinco minutos de cada face bastam – para se obter um produto final de comer e chorar por mais. Por norma, uma dose para uma pessoa leva seis sardinhas. Mesmo acompanhadas por batata e salada, o certo é que no fim sabe a pouco. Falando por mim, uma dezena de peixinhos é a dose ideal para ficar satisfeito, mas já vi muita gente a ultrapassar uma vintena delas. Pois é, o manjar recomenda-se e há que saber aproveitar o momento ideal para comer a iguaria.

A pesca da sardinha tem início no mês de maio e há limitações para a sua captura em função da quota atribuída à Península Ibérica, pelo que é gerida pelos respetivos ministérios de Portugal e de Espanha. Os limites dessa atividade variam em função das áreas geográficas e são determinadas anualmente por Despacho da Assembleia da República. Atingido o limite de captura é imposta a sua proibição, o que normalmente acontece neste mês de outubro. Note-se que a sardinha é consumida pelos humanos, mas também por espécies de peixes maiores, aves marinhas e mamíferos marinhos.

Sardinhada em Portugal. (Foto: Vaz Mendes)

Mas há sempre a hipótese de comer fora de tempo, ou seja, em qualquer mês do ano poderá deliciar-se à mesa de qualquer restaurante. Não é bem a mesma coisa, por serem congeladas, mas a técnica reside em conservar dessa forma o peixe na própria água do mar. E há quem diga que a diferença para a sardinha fresca não é assim tanta. Por mim prefiro vê-la a sair das traineiras para a doca. Gosto de a ver vivinha, a saltar.
E é tudo por hoje, numa altura em que acabei de me deliciar com uma bela sardinhada!

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Vaz Mendes é jornalista, natural da cidade do Porto, Portugal. Iniciou sua carreira na Gazeta dos Desportos, tendo depois passado pelo Record, Jornal de Notícias e Comércio do Porto, jornais de referência em Portugal. Participou da cobertura de múltiplos eventos nacionais e internacionais (Futebol, Basquetebol, Andebol, Ciclismo e Hóquei em Patins). Foi coordenador redatorial do FITEI (Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica). É responsável pelas redes sociais de equipes de ciclismo e dirigente desportivo em uma associação de Ciclismo. É colaborador do PortalR3, com textos publicados sendo escritos em português de Portugal.

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