Posso ser suspeito porque sou cliente e amigo da casa há muitos anos, mas a sua popularidade não engana ninguém. O restaurante “O Afonso” é um local aprazível e com um ambiente quase familiar, tal a proximidade com o seu proprietário e a simpatia entre funcionários e clientes. Mas o que importa mesmo é degustar a famosa francesinha, uma iguaria da cidade do Porto feita à base de carne de vaca, salsicha fresca, linguiça e fiambre, envolvida em pão de forma. Depois é coberta por camadas de queijo fino derretido e regada com um molho especial, que, no essencial, é o segredo desta deliciosa sanduíche.
Conta a história que a francesinha surgiu pela primeira vez há cerca de 70 anos no cardápio do restaurante “A Regaleira”, situado no coração do Porto. O molho picante teria a ver com a invenção de um emigrante português em França que transformou uma vulgar sande em algo com mais alma, vida e substância. Hoje em dia, o petisco é normalmente acompanhado com batata frita bem estaladiça e regado com cerveja de pressão bem gelada, obviamente para quem não dispensa um chope, por estas bandas com o nome de fino ou príncipe.
A sanduíche pode ser provada em centenas de restaurantes e snacks, não só na cidade do Porto, como por todo o país. Contudo é na Antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta Cidade do Porto que deve ser degustada. Porquê? Porque foi aqui que nasceu – como, por exemplo, as tripas à moda do Porto, um prato com vários tipos de carne, enchidos e feijão branco – e porque é a mais aproximada da original. Como referi inicialmente, o restaurante “O Afonso” é uma das casas mais procuradas e foi ali que o malogrado chef, escritor e apresentador norte-americano Anthony Bourdain efetuou uma reportagem para a CNN internacional. Sabe-se que apreciou a iguaria e disse maravilhas da sua confeção, facto que ainda tornou mais famoso o local. No entanto, há múltiplos espaços onde a francesinha é a atração principal, pelo que o melhor é mesmo experimentar algumas. Mas muita atenção às calorias. É “dose pra caramba”!
Enquanto espera pela sua francesinha, feita com muito amor e requinte – no “O Afonso” aguarda sempre uns bons 15 minutos para que fique no ponto – vai comendo uns amendoins e umas tostas com manteiga. Mas o que deve fazer mesmo, por ser imperdível, é apreciar o espetacular mini museu (ver vídeo) dedicado a Ayrton Senna, por muitos considerado o maior piloto da história da Fórmula 1 de todos os tempos. Mesmo antes do seu falecimento no dia 1 de maio de 1994, aos 34 anos, no trágico acidente no Circuito de Ímola, em Itália, já Miguel Afonso venerava o seu ídolo, tendo inclusivamente assistido a várias corridas. Desde então, apesar da sua dor, transformou o estabelecimento num lugar quase sagrado, entre quadros e pequenas e grandes peças, um vasto património de inesgotável beleza.
O espólio no “O Afonso” dedicado ao tricampeão do Mundo na F1 é impressionante e vai crescendo dia a dia. A multiplicidade de objetos alusivos ao grande piloto nascido em São Paulo é de tal ordem, que fazem a delícia de quem visita aquele espaço. Para lá das francesinhas, obviamente. O restaurante está aberto de terça-feira a domingo – folga à segunda-feira -, e por lá têm passado inúmeras personalidades ligadas aos mais variados setores da sociedade. Como ilustram as fotos, o ex-jogador luso-brasileiro Pepe, que recentemente, aos 41 anos, colocou um ponto final na carreira de futebolista, e o malogrado Fernando Gomes, por duas vezes Bota de Ouro e o melhor marcador da história do FC Porto, eram algumas das visitas do “O Afonso”.
Por hoje é tudo, com a promessa de que voltarei em breve com mais temas sobre este cantinho situado no extremo sudoeste da Europa à beira-mar plantado e banhado pelo Oceano Atlântico. E por falar em mar, ali para os lados de Matosinhos, a meia dúzia de quilómetros do Porto, ainda se petisca a bela sardinha. Como se diz na gíria, acho que vou comer uma sardinhada à maneira. Depois eu conto…