Derrotado nas últimas eleições por André Villas-Boas para os órgãos sociais do clube azul e branco, após 42 anos de presidência, o que lhe confere o estatuto de dirigente com o maior número de títulos desportivos a nível mundial, Pinto da Costa voltou à ribalta. Foi há três anos que tudo começou quando resolveu escrever umas notas para ele próprio, conforme relatou, depois de ter recebido a notícia pelo seu médico de que padecia de um cancro na próstata. “Apanhei um choque, mas enfrentei a situação com naturalidade. Não contei nada a ninguém e disse à minha mulher que era uma prostatite… mas nem sei o que é isso”, ironizou a propósito da doença que acabou por estar na origem do livro. O que deveria ser um segredo bem guardado acabaria por transformar-se numa obra literária, após algumas conversas com responsáveis da editora Contraponto. O livro será colocado hoje à venda e já ontem se sabia que a primeira edição estava esgotada.
À medida que ia falando, a cada passo ouviam-se os aplausos e os cânticos entoados no Estádio do Dragão e noutros recintos. Com os Super Dragões em peso na Alfândega – o ex-líder da claque Fernando Madureira, conhecido por “Macaco”, está detido há nove meses no âmbito da Operação Pretoriano, foi a dado passo elogiado por Pinto da Costa. “A única coisa que qualquer pessoa consegue fazer sozinho é asneiras. Quem quiser construir algo de positivo, útil e importante para os outros tem de estar bem acompanhado. Houve pessoas que, infelizmente, não podem estar aqui, mas foram importantes para o FC Porto e para as suas vitórias. Refiro-me ao Fernando Madureira”, observou, a que se seguiram fortes aplausos e cânticos, na presença de Sandra Madureira, sua mulher, também ela arguida desse processo.
Em relação às presenças entre a vasta audiência, que não contou com o ex-treinador do FC Porto Sérgio Conceição – visado no livro por Pinto da Costa, considerando que as compras do caboverdiano Zé Luís e do japonês Nakajima “por pressão do treinador” tinham sido “dois atos de gestão ruinosos” -, foram algumas as caras ligadas ao clube, mas não só, que não perderam esta oportunidade. Valentim Loureiro, ex-presidente do Boavista e da Liga de Clubes, os ex-administradores da SAD Luís Gonçalves, Vítor Baía, Fernando Gomes e Rita Moreira, o antigo futebolista António Oliveira, o médico Fernando Póvoas e o músico Quim Barreiros, revelaram-se alguns dos mais notados.
A capa do livro, com Pinto da Costa apoiado num caixão com a bandeira do FC Porto, não é mais do que o “anúncio” da sua morte, ainda que a determinada altura tenha brincado. “Deram-me três anos de vida… mas devem ser três de cada vez”, ironizou, admitindo até que, de sucesso em sucesso, o mais certo é poder vir a escrever nova obra. Católico praticante, o ex-líder do emblema portista observou a propósito do seu funeral. “Uma coisa que me irrita muito nos funerais é que, à parte das pessoas que estão junto do caixão, há sempre alguém a contar anedotas. Não queria que isso acontecesse no meu funeral. Não por mim, mas por respeito à minha família e amigos que naturalmente naquela hora vão sofrer por os ter deixado. Também não quero ver lá ninguém de luto e vestida de preto. Quero ver-vos vestidos de azul. É a cor do céu, da manta da Nossa Senhora e a cor do FC Porto”, sublinhou, para informar que pretende ser cremado e as cinzas colocadas na azinheira junto à capelinha da Nossa Senhora de Fátima.
No final cantou-se o hino do FC Porto e os indefetíveis apoiantes de Pinto da Costa saíram da Alfândega satisfeitos por estarem na presença do seu ídolo. Quase todos já na posse do livro “Azul até ao fim” que hoje é colocado à venda. A este propósito, registe-se que a editora Contraponto anunciou a apresentação de uma queixa-crime e a abertura de uma investigação para apurar a origem da fuga de informação desta nova obra, que teve excertos difundidos nas redes sociais e motivou notícias nos últimos dias.