Se durante o jogo com o Moreirense a animosidade fez-se sentir à medida que o tempo se ia esgotando, o facto é que a contestação já era notória desde o início. Nas bancadas foram colocadas pelas claques algumas tarjas bem elucidativas. “Defender o nosso clube não é crime. Sérgio (Conceição) junta-te a nós”; “Esta é a nossa condição, raça, luta, união. Honrar o Porto é a nossa condição; “Expulsa-nos a todos. Força Macaco”. O cenário era este com alguns cânticos à mistura como “Pinto da Costa, olé, olé”, numa alusão a alguns acontecimentos que nem sequer têm a ver exclusivamente com os maus resultados.
Recorde-se que recentemente o líder da claque Super Dragões Fernando Madureira – conhecido por Macaco – foi expulso de associado do FC Porto, bem como a sua mulher Sandra Madureira, para lá de mais dois sócios, na sequência da “Operação Pretoriano”. A decisão foi tomada por unanimidade pelo Conselho Fiscal e Disciplinar dos FC Porto, mesmo que a decisão seja passível de recurso. Na base desta punição está a Assembleia Geral Extraordinária (AGE) realizada a 13 de novembro de 2003 – ainda com Pinto da Costa como presidente -, na qual o Ministério Público (MP) entendeu que foi criado “um clima de intimidação e medo” com vista à sua manutenção e poder continuar a usufruir de privilégios.
Madureira está em prisão preventiva desde janeiro deste ano e o processo encontra-se em fase de instrução, situação que já gerou algumas manifestações de rua na cidade do Porto. Para lá do dos tumultos verificados na AGE, o antigo líder da coletividade mais representativa dos dragões, está acusado de 31 crimes, incluindo ofensa à integridade física e coação agravada.
Ambiente deteriora-se com os maus resultados
O técnico Vítor Bruno, conhecido pela serenidade com que enfrenta os momentos menos bons, garante que é honesto e tem todas as condições para continuar a liderar a equipa do FC Porto. Porém, sabe-se que em futebol o treinador, como máximo responsável – o que o próprio assume sem reticências -, é sempre o primeiro a sofrer as consequências. Depois da derrota na Luz diante do Benfica (4-1), Bruno foi fortemente apupado à chegada ao centro de estágio do Olival e alguns adeptos terão mesmo pontapeado o seu automóvel. Desta feita, após a eliminação portista pelo modesto Moreirense, a contestação subiu de tom.
À entrada para o estádio foi lançada uma tocha para o autocarro e os pedidos de demissão sucederam-se, o que obrigou mesmo a que o presidente Villas-Boas e o diretor para o futebol Jorge Costa, sob proteção policial, a juntarem-se aos adeptos na tentativa de apaziguar os ânimos. É este o ambiente que se vive no FC Porto, o que já não se verificava há muito tempo. Claro que aos olhos de qualquer um não é muito difícil ver que a equipa portista carece de elementos de nível superior, como já teve, mas há desaires que são difíceis de entender, nomeadamente o mais recente com o Moreirense.
Mas em futebol tudo pode mudar num ápice, basta uma vitória na próxima quinta feira na Bélgica diante do Anderlecht, preferencialmente com uma exibição convincente, para a revolta acalmar. De outra forma o técnico Vítor Bruno terá seguramente o seu lugar em risco.