Já falta pouco para o Natal, uma data que nos habituamos a comemorar com farta mesa e bom gosto. Celebrar o nascimento de Jesus tem os seus “pecados” e não há forma de os evitar, a não ser que se seja vegetariano e o assunto fique resolvido por natureza. Como é comum dizer-se, “uma vez não são vezes” e em altura natalícia não há nada como uma reunião familiar para colocar os assuntos em dia, quer dizer, para colocar os pratos na mesa e vamos lá que se faz tarde para abrir os presentes, pois a pequenada quer é mesmo a chegada do Papai Noel.
Por aqui o bacalhau é o rei. De preferência da parte do lombo, bem grossinho, regado com um bom azeite e acompanhado com batata cozida, cenoura e legumes. Há espécies para todos os gostos, mas o bacalhau mais apetitoso – falo por experiência própria – é o da Noruega ou da Islândia. O preço do quilograma não é nada simpático, mas há sempre a hipótese de ir para um mais baratinho, ainda que até possa não ficar mal servido. O peixe tem de estar realmente seco, depois de uma cura prolongada com sal, antes de ser demolhado, para finalmente ser cozinhado e ir para a mesa. Há quem se oriente pela cor, mas mais branco ou mais escuro, ainda que o ideal seja estar no ponto certo de secagem.
Depois vem a doçaria e o outro rei é mesmo o bolo-rei, um doce em forma de coroa com um buraco ao centro, feito de uma massa branca e fofa enriquecida com ovos e muitas vezes licores ou vinhos, misturada com passas, frutos secos e frutas cristalizadas. Por norma acompanha com um cálice – ou mais – de vinho do Porto, bebida licorosa, produzida especificamente na Região Demarcada do Douro, no Norte de Portugal. Há vários tipos – o branco é mais servido como aperitivo, bem fresco -, mas um bom “Porto” resulta do processo de envelhecimento, sendo catalogados como extrassecos, secos, meio secos, doces e muito doces. Há vinhos para todos os paladares, mas os mais apreciados são os denominados “vintage”, que depois de aberta a garrafa deverá ser consumido no prazo de um a dois dias. A graduação alcoólica pode chegar aos 22 graus, de acordo com a legislação atualmente em vigor.
Venha de lá esse divinal cabritinho!
O Dia de Natal tem uma ementa substancialmente diferente à da consoada. Manda também a tradição que os assados sejam o prato do almoço, preferencialmente um cabritinho, ou seja, a cria da cabra, abatida geralmente com idade entre os quatro e os seis meses. Mas há quem prefira o borrego, animal já mais velho, cria da ovelha e do carneiro. O que importa mesmo é que saiba bem. Cá por mim vou no cabrito, da parte das costelas. Dá mais trabalho porque comido à mão é que sabe bem, mas há gostos para tudo. Acompanha com batata assada. Bem, mas nestas coisas da carne não me parece que esteja para aqui a debitar grandes segredos, até porque já visitei o Brasil e sei bem o que é, por exemplo, um bom rodízio.
O que talvez muitos não saibam é que para final de festa – jantar do dia 25 – fica reservado a roupa velha ou o farrapo velho, como se queira. E tem este nome porque se trata de um prato feito com as sobras do bacalhau cozido e dos legumes da noite da consoada, a que se acrescenta batata, ovos cozidos, cebola, alho, azeite, louro, vinagre e pimenta. Para quem nunca provou, dou de conselho que experimentem esta iguaria. E é isto, dois dias de festa de arromba. Porque é Natal e a época merece ser festejada à maneira e há rituais imperdíveis. E depois vem o Ano Novo.
Mas, se formos a ver bem, o problema não está no que se come entre o Natal e o Ano Novo…, mas sim o que se come entre o Ano Novo e o Natal. Ora pensem lá.
Bom Natal!