Adivinhava-se um jogo bem disputado e até mesmo equilibrado no Estádio D. Afonso Henriques, mas longe de se imaginar um resultado tão volumoso. Oito golos numa partida frenética proporcionaram um espetáculo delirante para as bancadas, mas que deixaram a nu tremendas fragilidades defensivas, especialmente na equipa do Sporting. Por mais aguerridos que os “conquistadores” tivessem sido, só uma grande falta de concentração dos leões impediu a gestão de um resultado positivo, pois a vinte minutos do final da partida, praticamente com a vitória no bolso, foram ultrapassados no marcador. E o Sporting só não saiu derrotado nesta partida com o Guimarães – no regresso do técnico Rui Borges à sua antiga casa – porque a magia do avançado Trincão carimbou o empate a quatro bolas aos 90+5 minutos.
A propósito refira-se que o ex-técnico vimaranense, que ainda há pouco mais de uma semana estava a treinar o Guimarães teve uma recepção pouco amistosa. “Num dia só Vitória, no outro traidor”, lia-se numa tarja colocada na área reservada à claque da formação local. O treinador acabou mesmo por reagir no final da partida dizendo não compreender todo aquele “ódio”, lembrando os quatro milhões de euros que o seu anterior clube recebeu pela transferência para o Sporting. Ainda que visivelmente agastado com os adeptos vimaranenses, Rui Borges optou por um discurso pacificador, ao recordar os bons momentos passados na cidade-berço e dedicando palavras de apreço à família do emblema minhoto.
Gyokeres de novo goleador de serviço viu trabalho ir por água abaixo
Quando o inevitável avançado sueco Viktor Gyokeres – de quem se diz poder estar de saída para o Manchester United durante esta abertura do mercado que só termina no final do mês – abriu o marcador logo aos dois minutos, o registo constituiu um excelente tónico para os leões, que deram logo a ideia de que estavam ali para confirmarem a posição de líderes do campeonato. Mesmo permitindo o empate poucos instantes depois, na marcação de um livre direto por Tiago Silva, com o guardião Franco Israel a ficar mal na fotografia, o sueco Gyokeres apontou mais dois golos, para o Sporting chegar ao intervalo confortavelmente, depois de uma exibição convincente.
Na segunda parte, jogada a alta velocidade, tudo mudou num ápice. Quando o espetacular dianteiro brasileiro Kaio César – um dos melhores em campo – fez o segundo tento dos vitorianos, aos 69 minutos, com um disparo violento no coração da área, estava bom de ver que a cambalhota no marcador não era nenhuma miragem. E tudo aconteceu num momento de completo desnorte da formação do Sporting, mal a defender e sem capacidade para desenvolver o seu jogo. É óbvio que muito por culpa do adversário, que nunca desistiu, mas esta foi uma situação de todo impensável para um candidato ao título.
O empate a três bolas surgiu aos 83 minutos por João Mendes, outra vez com a defesa leonina completamente aos papéis, para o Guimarães passar para a frente do marcador, aos 85 minutos, por intermédio do ponta canadiano Dieu Michel. O Estádio D. Afonso Henriques, completamente lotado, veio abaixo. Com a cabeça em baixo ficou o técnico Rui Borges ao ver a sua antiga equipa pregar-lhe uma desfeita de tal ordem. Efetivamente, o Sporting estava a ser praticamente dominado pelo seu adversário, mas em período de descontos apareceu Trincão – depois de uma passagem pelo Barcelona, o clube de Alvalade, de onde saiu, acionou a opção de compra obrigatória – a fechar o marcador com um remate espetacular e colocada, a não dar qualquer hipótese ao guardião Bruno Varela.
Apesar do empate, o Sporting continua na liderança do campeonato, agora com 41 pontos, mais um do que o FC Porto, que tem uma partida em atraso por não ter jogado com o Nacional, em consequência do intenso nevoeiro que se fez sentir na Madeira. Segue-se o Benfica, com 38 pontos, que tem pela frente o Braga no seu estádio, um adversário sempre complicado, especialmente quando atua fora de portas.
Daniel Sousa (treinador do Guimarães): “Saímos com frustração, era merecido o triunfo. Na primeira parte não tivemos o controlo do jogo, mas conseguimos criar duas ou três situações de golo. Na segunda parte tivemos um volume muito grande de situações criadas e finalizadas. Foi um jogo emotivo porque realmente este estádio é incrível quando está acordado e hoje esteve o jogo todo. É fabuloso poder viver isto, com o que vimos em campo vamos ver isso várias vezes ao longo da época”.
Rui Borges (treinador do Sporting): “Fomos passivos e quero que percebam isso, não estou chateado com os jogadores, longe disso, têm sido fantásticos naquilo que tem sido a adaptação. Não podemos ser tão passivos, é isso que têm de entender. Segue-se o FC Porto, mais um jogo competitivo que vale uma final, temos de estar preparados e não podemos ter a desconfiança. Não eram os melhores do mundo com o Benfica na semana passada e agora não são os piores”.