Decididamente o Benfica já viveu dias melhores. O desaire com a equipa minhota dirigida pelo experiente Carlos Carvalhal, que nem sequer sofreu contestação, veio agravar uma situação já de si algo débil. Os encarnados vinham de uma derrota com o eterno rival Sporting, mas já antes tinham tropeçado com o AVS (1-1), em partida do campeonato, a que se junta o empate em casa com o Bolonha, de Itália, para a Liga dos Campeões. As sirenes soaram – ou voltaram a soar – e o ambiente na Luz não é nada famoso, com críticas apontadas ao treinador Bruno Lage, que deixou de viver em estado de graça, assim como aos jogadores, em especial aos argentinos Di María e Otamendi.
Com efeito, no caso de Otamendi, de 36 anos, capitão de equipa, a contestação sobe de tom, pois o argentino viajou por duas ocasiões num curto espaço de tempo para a o seu país. Primeiro para comemorar o aniversário da filha, depois para passar a época natalícia. Nesta última viagem teve a companhia do seu compatriota Di María, que aproveitaram as folgas para estar com os seus familiares. Os jogadores estavam devidamente autorizados a preencher o tempo como entendessem, mas é evidente que estas deslocações obrigaram os jogadores a algumas dezenas de horas de voo, para lá do impacto do jet lag.
Mas os dois craques do país das Pampas parecem gozar de uma certa imunidade, pois, para lá de terem a titularidade assegurada, não se furtam às críticas à atuação da equipa. No final do recente jogo com o Sporting, os argentinos divergiram nas opiniões do técnico Bruno Lage, apontando o dedo à forma como o conjunto lisboeta atuou na primeira parte. Há até quem comece a colocar em causa a autoridade do técnico encarnado, que terá pouco peso no “confronto” com os dois argentinos, ou seja, está bom de ver que o ambiente reinante não é nada pacífico. Esta derrota com o Braga acentuou o que já parece uma crise instalada na Luz, pois o Benfica ocupa agora a terceira posição, com menos três pontos do que o comandante Sporting e menos dois do que o FC Porto, que tem um jogo em atraso.
Fran Navarro sai do FC Porto e marca na Luz
O jogo como a formação bracarense, relativa à 17ª jornada do campeonato – a última da primeira metade da prova – trouxe à evidência problemas recentes. O sector defensivo erra em demasia e a construção de jogo na intermediária é inconsequente. Falta um elemento que pegue na batuta, tal é a falta de criatividade e a quantidade de passes errados. Mesmo com a entrada de Renato Sanches, cedido pelos franceses do PSG, os encarnados pouco ou nada melhoraram, e lá na frente o grego Pavlidis é uma sombra do que já foi. Quando, aos 17 minutos, o avançado espanhol Fran Navarro, recentemente emprestado pelo FC Porto ao Braga, apontou o primeiro golo, assistido pelo seu compatriota Victor Gomez, estava bom ver quem dominava e no que tudo aquilo ia dar.
O conjunto minhoto mandava autenticamente no Estádio da Luz, completamente repleto, iniciando-se aí a contestação à equipa, que foi gradualmente subindo de tom. Ainda na primeira parte, o Braga chegou ao segundo golo pelo zagueiro brasileiro Robson Bambu, de 27 anos, natural da cidade de São Vicente, em São Paulo. Num lance simples, o jogador arsenalista, após a marcação de um canto, entrou completamente sozinho na área adversária, para apenas saltar de cabeça e carimbar o segundo tento com que fechou a primeira parte.
Bruno Lage ainda lançou o dianteiro brasileiro Arthur Cabral, de 26 anos, nascido em Campina Grande, Paraíba, e foi ele mesmo que reduziu a desvantagem, aos 77 minutos, com um belo remate em arco ao canto inferior esquerdo da baliza, batendo o seu compatriota Matheus. O Benfica acordou muito tarde e não mais conseguiu encontrar o caminho da baliza bracarense. Tentou, é um facto, mas sempre mais com o coração do que com a cabeça, ficando sujeito às investidas do Braga, que até esteve muito perto de ampliar a vantagem, não fosse o remate do extremo guineense Roger Fernandes ter saído ligeiramente ao lado da baliza defendida pelo ucraniano Anatoliy Trubin.
Bruno Lage (treinador do Benfica): “A equipa teve vontade em fazer bem, em criar oportunidades e tentar marcar. Tivemos uma grande primeira oportunidade para marcar, o Braga fez o golo e depois sofremos de bola parada. A equipa teve força, capacidade, fomos dando energia, qualidade, para procurar o espaço entre linhas. O mais importante a referir é que hoje tínhamos obrigação de vencer. À medida que vamos tendo oportunidades, temos de marcar. Não senti a equipa nervosa. Senti a equipa com energia, com capacidade para fazer uma grande segunda parte, perante um adversário que também é competente.”
Carlos Carvalhal (treinador do Braga) “Foi uma vitória da união, dos jogadores, dos treinadores, do presidente. Fomos todos emanados da melhor energia para um desafio difícil, conseguimos bloquear a dinâmica do Benfica na primeira parte e o Matheus não fez qualquer defesa. Conseguimos marcar dois golos e desferimos mais uns contra-ataques. Esperávamos depois uma reação do Benfica na segunda parte, que tem um grande treinador, grandes jogadores e muitas soluções. A reação consumou-se, tivemos de recuar mais, o Benfica foi-se aproximando da nossa baliza, mas sem grandes oportunidades”.