Desta vez não houve contemplações e o técnico do FC Porto Vítor Bruno foi mesmo despedido já de madrugada, com o emblema azul e branco a anunciar o desfecho no seu site oficial. “A FC Porto – Futebol, SAD informa que iniciou negociações com o treinador Vítor Bruno para a cessação, com efeitos imediatos, do contrato de trabalho desportivo que vigorava desde o início da presente época”, lê-se no curto comunicado. A sentença surgiu depois do presidente André Villas-Boas ter convocado uma reunião de emergência no Estádio do Dragão com toda a estrutura do futebol profissional logo após o término do encontro que os dragões disputaram em Barcelos com o Gil Vicente para a Liga Portuguesa, onde averbaram novo desaire.
Ao somar três derrotas consecutivas – uma para a Taça da Liga, que afastou os azuis e brancos da competição, e duas para a principal liga nacional -, o alarme voltou a soar. Ainda no decorrer do encontro de Barcelos os lenços brancos surgiram nas bancadas e sucederam-se os protestos com pedidos de demissão do treinador que substituiu Sérgio Conceição no início da temporada. Depois gerou-se a habitual confusão à saída do estádio, o que originou desde logo o reforço da proteção policial, mas algumas centenas de adeptos rumaram ao Estádio do Dragão, para onde a comitiva dos dragões se ia deslocar. Estava bom de ver que a reunião de emergência convocada pelo presidente Villas-Boa não augurava nada de bom para o treinador.
À chegada do autocarro portista ao Dragão os associados voltaram a manifestar-se ruidosamente, o que levou as forças policiais a redobrar cuidados. E por volta das duas horas da madrugada surgiu o veredicto em forma de comunicado. Vítor Bruno deixava automaticamente de ser treinador do FC Porto. Por enquanto ainda não é conhecido o seu sucessor, mas há quem aponte o nome do ex-capitão Jorge Costa, atualmente nas funções de Diretor Executivo para o Futebol Profissional, para ocupar provisoriamente a vaga agora deixada em aberto. Os portistas têm já na próxima quinta-feira um encontro decisivo para as contas da Liga Europa, quando receberem os gregos do Olympiacos, pelo que urge colocar alguma calma em toda esta confusão. Nos bastidores é ainda apontado o nome de Paulo Fonseca, despedido do AC Milan e substituído por Sérgio Conceição, bem como o de dois técnicos italianos.
Crise bem visível e brasileiro Pepê reage a provocação do treinador
O ambiente que se vivia já não era lá muito salutar. Primeiro foi a eliminação da Taça de Portugal diante do Moreirense, depois novo desaire com o FC Porto a ser afastado da Taça da Liga pelo Sporting, à mistura com resultados negativos averbados na principal competição nacional. Com este desaire diante do Gil Vicente, o FC Porto passou a ocupar a terceira posição no campeonato, com menos quatro pontos do que o Sporting e menos um do que o Benfica. Claro que à entrada da segunda volta da competição é muito cedo para colocar os dragões fora da corrida pelo título, mas Vítor Bruno já não tinha condições para dar a volta à situação, pois, para lá da contestação dos adeptos, o ambiente entre técnico e jogadores já não era o desejável.
No encontro com o Gil Vicente, o ex-técnico dos dragões voltou a mexer substancialmente no “onze” ao promover cinco alterações, tendo inclusivamente deixado de fora da convocatória o internacional brasileiro Pepê. Confrontado com a ausência do médio criativo azul e branco, Vítor Bruno foi algo enigmático ao afirmar que o jogador se tinha “autoexcluído” e que a equipa precisa de “homens”. Ainda mais, o técnico afirmou mesmo que o jogador não estava em Barcelos “porque não quis” e que “isto é para quem quer”. Palavras muito duras e de certa forma consideradas desapropriadas, pois, noutros tempos, estas questões de ordem disciplinar eram discutidas no seio do plantel e nunca expostas de forma tão declarada. Aliás, o FC Porto soube sempre fechar-se no balneário, o que por muitos era considerado um exemplo de gestão interna, o que agora não acontece.
Como tal, a resposta de Pepê não se fez esperar e surgiu através de declarações nas redes sociais, depois apagadas, mas a tempo de serem expostas ao público. “Diz o cara que me excluí do treino por fazer gol na mini baliza com força, que me mandou treinar a semana toda sozinho à volta do campo… Sempre fui honesto e sabia que não vinha passando por um momento bom, e que precisava melhorar, mas NUNCA deixei de ser profissional e desrespeitar alguém ou o clube, como alguns dizem. E é sujo da parte de alguns falar que eu não estava a ver o jogo, sendo que assisti do começo ao fim com a minha família e meus amigos. Da mesma forma que estou no Dragão e essa mesma conta está a jogar, ou também trouxe o portátil para cá? É mais fácil julgar do que ir atrás da verdade”, assim reagiu o médio brasileiro à provocação de Vítor Bruno.
Quanto ao jogo de Barcelos, bem… o FC Porto voltou a ser uma equipa sem rei nem roque, sofrendo um golo logo aos 11 minutos, com Pablo Felipe a rematar junto à base do poste, após uma assistência do japonês Kanya Fujimoto. A propósito, refira-se que Pablo, de 21 anos, é filho do antigo atacante brasileiro Pena, que brilhou ao serviço da formação portista entre 2000 e 2002, proveniente do Palmeiras. Os dragões ainda chegaram ao empate por Gonçalo Borges, aos 48 minutos, mas Josué Sá (53 minutos) e Felix Correia (90+4 minutos) fizeram a festa dos gilistas. Pelo meio, como a equipa do FC Porto completamente de cabeça perdida, o árbitro expulsou o espanhol Nico González, por entrada violenta sobre um adversário, bem como o avançado espanhol Samu, no caso devido a protestos inapropriados.