Não podia ter conhecido melhor sorte o destino que as equipas portuguesas tiveram com as formações italianas nesta última ronda da fase regular da Liga dos Campeões. Ambas conseguiram o passaporte para o play-off da Champions, com especial destaque para a notável exibição do Benfica em Itália diante da poderosa Juventus, que à partida já estava apurada para seguir em frente na competição. Mesmo assim, atendendo a que os encarnados viveram dias atribulados após a derrota com o Casa Pia para a Liga Portugal (3-1), era de todo impensável uma exibição tão categórica com a “Juve”.
O futebol é mesmo uma caixinha de surpresas e desta feita o Benfica, a necessitar apenas do empate para continuar em prova, foi a Turim bater a toda poderosa Juventus de forma inapelável. E o feito é tanto mais notável e meritório, pois após o comprometedor desaire com o Casa Pia para consumo interno, o ambiente deteriorou-se de tal forma que tudo apontava para o possível despedimento de Bruno Lage. Com efeito, o técnico benfiquista teceu críticas muito duras e mesmo agressivas à sua equipa no final desse encontro, num “confronto” com os adeptos na garagem do Estádio da Luz. As cenas foram gravadas e vazaram na net, gerando-se um enorme ruído com a incómoda e caricata situação.
Aliás, confrontado com as palavras de Lage, o presidente Rui Costa anunciou que iria falar, como falou, sobre o assunto logo após o encontro com a Juventus, pelo que até se admitia como provável o despedimento do treinador. Só que o futebol tem destas coisas e a excelente exibição do Benfica em Turim teve o condão de serenar os ânimos, acrescida de um voto de confiança ao treinador. Pelo menos por enquanto e até novos episódios. A talhe de foice refira-se que as maiores equipas em Portugal – Sporting, Benfica e FC Porto – já mudaram de treinador, situação incomum e de que não há memória, mas a pressão de vencer tornou-se cada vez mais uma exigência e quem paga as favas é sempre a parte mais fraca. A ver vamos, pois por certo haverá outros capítulos de uma “novela” que vai bem animada.
Grego Pavlidis brilha em Turim
Eleito o Melhor em Campo pela UEFA, o atacante Vangelis Pavlidis, que já apontou cinco golos na presente edição da Champions, abriu o caminho para o triunfo dos encarnados. Após excelente jogada de conjunto, aos 16 minutos, o jogador grego recebeu um passe do dinamarquês Alexander Bah e atirou a contar. Mas o Benfica já tinha avisado para o que ia, pois o irrequieto e cada vez mais influente dianteiro norueguês Schelderup lá havia ameaçado a baliza dos italianos. Convenhamos que a Juventus já viveu melhores dias, mas o mérito do Benfica é inquestionável. Francisco Conceição, filho do ex-técnico do FC Porto Sérgio Conceição, agora no comando do AC Milan, ainda tentou empregar velocidade pelo flanco direito do ataque, mas os seus dribles e cruzamentos nunca incomodaram a bem posicionada defesa dos encarnados.
O golpe fatal na partida foi desferido a uma dezena de minutos do final do encontro pelo atacante turco Orkun Kokçu, após primorosa simulação do seu compatriota Akturkoglu, num lance de belo efeito e que enganou toda a gente. Em suma, exibição perfeita do Benfica que muitos julgavam impensável, diante de um adversário poderoso, mas nesta partida só de nome. A Juventus não está bem no campeonato italiano – segue em 5º lugar a uns impensáveis 16 pontos de diferença do líder Nápoles – e, mesmo tendo conseguido o apuramento via play-off para os “oitavos” da Liga dos Campeões, a vida do ex-futebolista e agora técnico brasileiro Thiago Mota não se avizinha nada fácil.
Bruno Lage (treinador do Benfica): “Missão cumprida e com um enorme jogo e de enorme qualidade. Primeira parte muito boa do nosso lado. Vencemos bem, mas podíamos ter feito mais que um golo na primeira parte. Na segunda parte também, sempre muito determinados. É uma boa exibição e um resultado justo. Seguimos em frente na prova, que era um dos grandes objetivos. A equipa mostrou personalidade e espírito de união.”
Conrad Harder fez de Gyokeres no Sporting
Já o Sporting sofreu muito no seu reduto com a também formação italiana do Bolonha, mas um golo Conrad Harder, aos 77 minutos, fez a festa em Alvalade. O atacante dinamarquês ocupou a posição habitualmente ocupada por Viktor Gyokeres, que nem sequer foi convocado para a partida com a formação transalpina. O atacante sueco, como muitos jogos nas pernas, tem acusado fadiga – segundo informações do clube leonino, que nega uma alegada lesão num joelho – e está numa fase de recuperação para o duelo daqui a pouco mais de uma semana no Estádio do Dragão com o FC Porto. Como tal, deverá também falhar a partida que os leões têm para a Liga Portugal, já neste domingo, com o Farense.
Claro que com Gyokeres o Sporting é uma coisa, mas sem o possante avançado sueco é outra… completamente diferente. E disso se ressentiu o conjunto orientado por Rui Borges, que fez uma exibição muito abaixo do que é normal. Os italianos foram bem superiores, mesmo limitando-se a cumprir calendário, pois à partida para este encontro estavam irremediavelmente afastados da Champions. Valeu o empate ao conjunto de Alvalade, sacado a ferros, como o golo de Harder a valer o empate da qualificação, depois de três derrotas seguidas. O minuto 77 foi decisivo, pois até esse momento pairou no ar o afastamento dos leões da prova, tanto mais que a derrota eliminava automaticamente o Sporting da prova. Os onze pontos somados em oito jogos valeram aos leões a modesta 23ª posição na tabela, mas os “oitavos” foram alcançados e lá se fez a festa da praxe.
Rui Borges (treinador do Sporting): “A qualificação representa muito para o clube, pela sua grandeza e pelos pergaminhos. Feliz por cumprir um objetivo, se calhar até máximo na carreira de um treinador. Sabíamos que ia ser um jogo muito difícil, levado aos duelos, com muita mobilidade. Gyokeres? Dentro dos disponíveis, temos de ser fortes e competitivos. Melhor era só ter ganho a Taça da Liga, pois estamos na Taça de Portugal, na Liga dos Campeões e em primeiro do campeonato.”