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Da cidade do Porto até ao Douro dista pouco mais de uma centena de quilómetros. Trata-se de uma sub-região portuguesa situada na Zona Norte do país composta por 19 municípios, tendo como capital a linda cidade transmontana de Vila Real. Classificada no ano de 1756 como a primeira região demarcada e regulada do mundo, e reconhecida como Património da Humanidade pela UNESCO, desde o ano de 2001, a Região do Douro é uma das mais antigas e belas localidades vinícolas europeias, onde, desde há dois mil anos, se produz vinho. Com 927 quilómetros de extensão, o Rio Douro nasce em Espanha e vai desaguar em Gaia/Porto.
Um dos roteiros mais populares é o Cruzeiro das Seis Pontes e que tem uma duração aproximada de 50 minutos. Com saída do cais da Ribeira do Porto ou de Vila Nova de Gaia, as embarcações fazem um percurso tranquilo entre as margens das duas cidades. A Ponte Luís I é a primeira a ser avistada, mesmo antes de se entrar no barco, que segue o curso da Foz do Douro até à Ponte da Arrábida. Na volta poderá apreciar a Ponte Infante D. Henrique, a Ponte Dona Maria Pia, a Ponte São João e a Ponte do Freixo. Aos olhares dos turistas, obviamente que duas delas despertam maior curiosidade pela sua envergadura em ferro – todas as outras são de betão -, ainda que apenas uma delas continue ativa.
A Ponte Luís I é uma infraestrutura metálica com dois tabuleiros, o inferior para a travessia entre as duas margens em transporte público, de bicicleta ou a pé – os carros ligeiros particulares e as motas já não podem circular -, enquanto que o tabuleiro superior é já há alguns anos utilizado apenas pelo metro de superfície. A ponte foi inaugurada em 1986 e deveria chamar-se Dom Luís I, mas o rei resolveu não aparecer à inauguração, pelo que os moradores do Porto não aceitaram o “D” de Dom. A imponente estrutura está classificada como Imóvel de Interesse Público desde 1982 e como Património Mundial da UNESCO desde 1996.
Já a Ponte D. Maria Pia, outra robusta construção em aço datada de novembro de 1877 foi encerrada em 1991 ao transporte ferroviário, sendo substituída pela Ponte de São João, em betão armado. Classificada como Monumento Nacional, a centenária “Dona Maria” é considerada uma das obras-primas executadas pelo engenheiro francês Gustavo Eiffel, que tem o seu nome ligado à construção da Estátua da Liberdade, em Nova Iorque. Na altura, a grandiosa obra que abraça o Rio Douro envolveu toda uma arquitetura já muito sofisticada para a época, pois os apoios intermédios da ponte foram substituídos por um arco, à data o maior do mundo, pelo que se tratou de uma empreitada extremamente arrojada neste tipo de construções.
Jafumega (1985) inspira-se na “Ribeira”
A ponte é uma passagem
prá outra margem
Desafio pairando sobre o rio
a ponte é uma miragem…
Nas tasquinhas decoradas
curte-se o chique burguês
comem-se boas dobradas
ostenta-se a embriaguez
(…)
Nascida na década de 80, a banda Jafumega conheceu o sucesso com o CD “Ribeira”, que entrou para o “boom” do rock português. Muitas dessas músicas tiveram a assinatura do letrista Carlos Tê, que nas últimas quatro décadas trabalhou ao lado do grande Rui Veloso. A propósito, refira-se que o popular cantor português está a recuperar de uma intervenção cirúrgica a um ombro e ansioso por voltar a pegar na guitarra. Atualmente com 67 anos, o filho de Aureleano Veloso, antigo presidente da Câmara Municipal do Porto, autor do “Chico Fininho”, é para muitos o maior músico em atividade e autor de alguns dos mais consagrados discos de música portuguesa.
O álbum “Ribeira”, dos Jafumega, considerado um hino da música portuguesa, que esteve durante largos meses no top nacional, inclui o tema com o mesmo nome. “A ponte é uma passagem prá outra margem…”, assim canta o vocalista Luís Portugal, que estudou arquitetura, mas não acabou o curso. A Ponte Luís I, no coração da Ribeira, e as tasquinhas onde se comem boas dobradas, diz a letra. E é bem verdade, hoje não são tasquinhas ou tabernas como antigamente, pois as modernices não perdoam, mas na cidade do Porto a boa gastronomia é uma questão de honra. Uma boa dobrada – melhor, umas boas tripas à moda do Porto – são manjar digno de reis para todas as bolsas. E na zona ribeirinha da Antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta Cidade do Porto, capital do Norte de Portugal, come-se muito bem e a escolha é variada. Desde os pratos de carne aos de peixe e ao marisco, a variedade é muita. Fora os pratinhos de petiscos, como uma boa tábua de queijo e enchidos ou umas moelas de frango guisadas. Já quanto à embriaguez de que a letra também fala, bem, o melhor mesmo é ter cuidado.
Cruzeiros rio acima até ao Pinhão
Para uma viagem mais longa, sempre com as margens do Douro como cenário, há empresas com vários pacotes turísticos para subir o Rio Douro e apreciar as majestosas encostas vinhateiras, um cenário idílico que se perde de vista. Os percursos mais comuns levam-nos até Peso da Régua ou ao Pinhão, onde estão localizadas as magníficas quintas vitivinícolas, a partir das quais o vinho do Porto começa a ser produzido. É a chamada Região Demarcada do Douro, no Norte de Portugal, a cerca de uma centena de quilómetros da cidade do Porto. Os cruzeiros têm várias opções, os mais completos com jantares e provas de vinho, sempre na companhia de guias turísticos para um melhor conhecimento da região.
Falando por experiência própria, um dos mais recentes cruzeiros que fiz, precisamente com destino à Régua, partiu bem cedo da Ribeira do Porto e chegou ao local de desembarque a meio da tarde. O programa inclui pequeno almoço e almoço a bordo, passagem pelas barragens de Crestuma/Lever e do Carrapatelo, com transfer em autocarro para visitar uma quinta onde o vinho do Porto começa a ganhar forma. A Região Demarcada do Douro estende-se ao longo do Rio Douro e seus afluentes numa extensão de cerca de 250 000 hectares entre Barqueiros e Barca d’Alva. Para lá das variedades do tradicional “Douro” licoroso, os vinhos correntes (tinto, branco e moscatel), também ali produzidos, caem bem com um bom naco de carne a batata assada a acompanhar, menu preferencialmente cozinhado em forno a lenha.
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A visita inclui a degustação das excelentes “pomadas” da região, como se diz na gíria, mas convém estar atento às explicações de quem sabe para se fazer uma ideia do trabalho diário que é efetuado para que o produto chegue nas melhores condições ao consumidor. A comercialização é variada e as principais marcas estão concentradas em Vila Nova de Gaia – lá está, a ponte é uma passagem, como diz a música dos Jafumega – bastando atravessar da Ribeira do Porto para o outro lado e visitar as famosas Caves de Vinho do Porto, onde o néctar fica anos a ganhar corpo. E há que aproveitar a degustação. Se for antes do almoço, então um branco fresquinho, tipo aperitivo, vem mesmo a calhar.
E já que voltei a falar em música e em pontes, então fiquem com este trecho da canção “Porto Sentido” do Rui Veloso, um poema de amor à cidade do Porto, escrito pelo letrista Carlos Tê:
Quem vem e atravessa o rio
junto à serra do Pilar
vê um velho casario
que se estende até ao mar
Quem te vê ao vir da ponte
és cascata são-joanina
erigida sobre um monte
no meio da neblina
Por ruelas e calçadas
da Ribeira até à Foz
por pedras sujas e gastas
e lampiões tristes e sós
E esse teu ar grave e sério
num rosto de cantaria
que nos oculta o mistério
dessa luz bela e sombria
(…)
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