Beira Interior de Portugal acolheu provas de ciclismo jovem com frio e chuva, mas sem neve

As equipas juniores e do escalão sub-23 tiveram dois dias bem animados de ciclismo. A SOMA GROUP, de Lordelo, Paredes, foi uma das equipas participantes. Para lá das duas rodas, a bela paisagem da região e a excelente gastronomia ajudaram à festa

A equipa da SOMA GROUP que se apresentou nas duas corridas ta Taça de Portugal. (Foto: Vaz Mendes)

O ciclismo voltou a estar em evidência em terras portuguesas, desta feita na bela região da Beira Interior, mais concretamente nas cidades de Vila Velha de Rodão e na Sertã. O pelotão júnior e sub-23 iniciou a disputa da Taça de Portugal Esperanças e o espetáculo, garantido à partida, fez a delícia dos amantes da modalidade. Foram duas as etapas que os cerca de 90 participantes tiveram de enfrentar, por entre terrenos montanhosos e sinuosos, num constante sobe e desce naquilo a que por cá se chama de rompe pernas. A SOMA GROUP, orientada pelo antigo ciclista profissional José Barros, contribuiu de forma decisiva para abrilhantar uma prova que contou com o empenho da Associação de Ciclismo da Beira Interior, sob a égide da Federação Portuguesa de Ciclismo.

Vamos já lá às corridas propriamente ditas, mas comecemos então pela paisagem de uma região composta por 26 municípios, 12 do distrito da Guarda, 12 pertencentes a Castelo Branco – onde se disputou a competição -, um do distrito de Coimbra e outro de Santarém. Refira-se desde já que as baixas temperaturas para a esta altura da época, ainda que sem neve, obrigam a cuidados redobrados, quer da parte dos atletas, mas muito principalmente de todas as outras pessoas que se deslocaram de outras partes do país onde o sol até brilhava. Por mim, que estive lá a acompanhar a equipa SOMA GROUP, não evitei um ligeiro resfriado, pois no primeiro dia da competição choveu bastante e não fui devidamente prevenido.

A Beira Interior deslumbra pela sua paisagem, pois trata-se de uma região rica em recursos naturais. Aliás, os fortes ventos que se registam na zona interior permitem a produção de energia elétrica através dos vários parques eólicos existentes. O património natural atrai visitantes de todo o país, para lá dos muitos estrangeiros que não perdem a obrigatória visita ao ponto mais alto de Portugal. No Parque Natural da Serra da Estrela, a maior área protegida do país, habitam algumas espécies únicas da flora, bem como da fauna, como o lobo, o javali e a raposa. Mas é a estância natural de esqui que chama mais visitantes durante o período de inverno e onde, para além das brincadeiras na neve, os mais experimentados podem fazer valer os seus dotes de esquiadores nas várias pistas existentes.

O cabrito à mesa é sempre bem-vindo

Do ponto de vista gastronómico, a Beira Interior oferece uma diversidade de produtos de grande qualidade e sempre se pode degustar os tradicionais pratos típicos à base de enchidos, presuntos e demais fumeiro. E, claro, o famoso queijo da serra, considerado um dos melhores do mundo. Cá por mim, apreciador de tudo o que é bom e caseiro, vou mais por um cabritinho com batata assada, com um bom vinho da região a acompanhar. A carne é muito tenra, mas o segredo está sempre na confeção e no tempero e se o cabrito for cozinhado em forno a lenha tanto melhor, pois o sabor é mais agradável. A zona possui inúmeras opções para uma refeição de qualidade, preferencialmente com a família.

O famoso e delicioso cabritinho da Beira Interior. (Foto: Vaz Mendes)

O peixe do rio é outra iguaria a não perder, em especial a truta. Grelhada ou de caldeirada cai sempre bem, para lá do valor nutritivo por se tratar de um peixe gordo, fonte de proteína, iodo, selénio e outras vitaminas importantes para os ossos. Mas como peixe não puxa carroça, como é comum dizer-se, umas quantas peças de fumeiro regionais sempre aconchegam melhor o estômago. A vasta salsicharia que se produz na Beira serve para a confeção dos mais variados pratos, mas os maranhos, feitos de carne de cabra misturados com arroz e enriquecidos com chouriço, toucinho ou presunto são divinais. Os chouriços, as morcelas e as farinheiras são produtos essenciais num bom cozido à portuguesa, com a indispensável batata e os deliciosos e frescos legumes da região.

De regresso ao ciclismo…

Com toda esta história de fazer água na boca, o melhor é dar umas pedaladas para desgastar, que é como quem diz falar das provas de ciclismo a que me referi no início do texto. Ora bem, as duas corridas fazem parte de uma série de etapas que culminam com os vencedores da Taça de Portugal nas categorias elite e sub-23. Há dois anos a nossa equipa, com a denominação JV Perfis-Windmob, saiu vencedora da prova, com o colombiano Jonatan Montoya a arrebatar o troféu individual. Na altura com 21 anos, o corredor nascido em Medellin foi uma das figuras do conjunto dirigido por José Barros, pois também venceu a Volta às Terras de Santa Maria, tendo ainda feito a diferença nas muitas etapas em que participou. E aqui convém referir que a opção pela contratação de jovens atletas oriundos da América do Sul reside no facto de o leque de escolha entre os portugueses ser algo limitado. Não é que não tenham valor, porque têm e muito, mas são em número insuficiente aqueles que se apresentam com um ritmo competitivo para chegar ao êxito mais rapidamente. E muitos desses jovens são estudantes universitários, o que se aplaude, com muito pouco tempo para treinar.

José Barros, diretor desportivo da equipa de ciclismo SOMA GROUP. (Foto: Vaz Mendes)

O vencedor das duas corridas acabou mesmo por ser um estrangeiro, o russo Ilya Savekin, da equipa espanhola Technosylva Maglia Bembibre, e a SOMA GROUP teve no colombiano Juan Patiño o seu melhor elemento, 8º classificado na primeira corrida, tendo conseguida a 4ª posição no segundo dia de competição. Desta forma, a formação de Lordelo somou importantes pontos no ranking da categoria, pois só as três primeiras recebem convites para estarem presentes nas principais provas nacionais, casos, por exemplo, da Volta ao Alentejo ou do Troféu Joaquim Agostinho. A competição volta à estrada já no próximo domingo, dia 9 de fevereiro, com o pelotão elite (equipas continentais profissionais) e sub-23 a deslocar-se para o Norte do País, onde disputará na Póvoa de Varzim a 28ª Clássica da Primavera.

Paisagem. (Foto: Vaz Mendes)

Só mais uma nota. Por aqui também se festeja rijamente esta época carnavalesca – nada que se compare com o que acontece no Brasil -, com particular incidência em Ovar, Torres Vedras e Loulé. Normalmente, para quem gosta, os costumes mandam comer uma bela feijoada. Bom Carnaval!

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Vaz Mendes
É jornalista, natural da cidade do Porto, Portugal. Iniciou sua carreira na Gazeta dos Desportos, tendo depois passado pelo Record, Jornal de Notícias e Comércio do Porto, jornais de referência em Portugal. Participou da cobertura de múltiplos eventos nacionais e internacionais (Futebol, Basquetebol, Andebol, Ciclismo e Hóquei em Patins). Foi coordenador redatorial do FITEI (Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica). É responsável pelas redes sociais de equipes de ciclismo e dirigente desportivo em uma associação de Ciclismo. É colaborador do PortalR3, publicando textos escritos em português de Portugal.

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