
O Estádio do Dragão não encheu como noutras ocasiões em que a equipa lutava por objetivos bem diferentes – não é que não continue a pensar nos lugares de acesso à Liga dos Campeões, ainda que Sporting e Benfica levem vantagem -, mas a partida com o AVS valeu mais pela exibição. Valeu também pelo resultado, pois o FC Porto alcançou a primeira vitória no seu reduto no ano de 2025, onde, de resto, ainda não perdeu esta temporada. O problema maior, obviamente na perspetiva dos dragões, é mesmo a luta que o Sporting de Braga está a dar pela conquista de um lugar no pódio, pois só o terceiro posto assegura a entrada direta na Liga Europa.
Já por diversas ocasiões assinalámos que o treinador argentino Martín Anselmi é um acérrimo defensor de uma defesa a cinco com a inclusão de três centrais. Esta mudança de processos, em contraste com o tradicional 4X4X2, trouxe sérios problemas à equipa, não só por força das novas rotinas que demoram o seu templo a implementar, mas também porque a qualidade de alguns jogadores deixa muito a desejar. Mas quando a equipa consegue compensar essas lacunas com a utilização em simultâneo do brasileiro Pepê, do jovem português Rodrigo Mora, de apenas 17 anos, e do talentoso médio criativo Fábio Vieira, a música é outra. O conjunto ganha em qualidade e, por acréscimo, há mais intensidade ofensiva, pelo que as oportunidades de golo passam a ser mais frequentes.

E foi isso que aconteceu na partida com o AVS, ainda que o avançado Samu – de novo chamado para os próximos compromissos da Seleção de Espanha na Liga das Nações – tivesse ficado em branco. Contudo, ocasiões para marcar não faltaram. Quando assim é tudo se torna mais fácil, pois se Samu não marcou, outros fizeram o gosto ao pé. O primeiro a consegui-lo foi Rodrigo Mora, aos 18 minutos, a aproveitar uma sobra na sequência de um potente disparo do brasileiro Pepê, que o guardião mexicano Ochoa não conseguiu segurar. O segundo, já na segunda parte, pertenceu a Fábio Vieira ao fuzilar autenticamente a baliza adversária, após cruzamento de Francisco Moura. Se a história do encontro fica praticamente contada com os golos do FC Porto, a que se alia a exibição mais conseguida da temporada – pelo menos na primeira parte do encontro -, também é justo assinalar que o AVS foi ao Dragão jogar no nítido intuito de pontuar. Inclusivamente, teve algumas ocasiões para ser bem sucedido, mas o guardião Diogo Costa revelou-se decisivo em alguns momentos de grande aflição para a baliza portista.
Super Dragões não perdoam e contestam
É sabido que o relacionamento entre os atuais dirigentes do FC Porto e a sua principal claque não é famoso. Tempos houve em que os Super Dragões gozavam de algumas benesses, principalmente ao nível da venda de bilhetes, um negócio que caiu por terra desde que André Villas-Boas ganhou as eleições a Pinto da Costa. O espaço da claque, outrora um espetáculo dentro do próprio espetáculo, é aos dias de hoje um vazio. Mas é também uma parte da bancada onde a crítica e os insultos mais se fazem sentir. No encontro com o AVS foram sendo mostradas algumas tarjas como sinal de contestação, algumas até inapropriadas.

“Vida de milhões, futebol de tostões”, lia-se numa dessas tarjas, o que se interpreta com um forte sinal de contestação – mais um – ao futebol menos conseguido por parte do FC Porto, que nem foi o caso no jogo com o AVS. Esta iniciativa foi prontamente contestada pelos restantes adeptos com assobios, mas o ambiente não é nada famoso. Não sendo um exclusivo nos estádios de futebol, naturalmente que estas manifestações são de todo indesejáveis numa altura em que a equipa ainda tem hipóteses, pelo menos matemáticas, de encurtar distâncias para os adversários que seguem na dianteira. Tem-se escutado com uma certa insistência de que este será uma espécie de “ano “zero” no equilíbrio das finanças do clube e na projeção da próxima temporada. Há quem entenda, mas essa é uma fórmula com custos desportivos que alguns não aceitam e até reprovam, pelo que muito dificilmente haverá um consenso alargado.
Martín Anselmi (treinador do FC Porto): “Creio que hoje houve mais momentos do FC Porto que queremos e não vimos tanto noutros encontros e, por isso, creio que este foi o nosso jogo mais completo. Queríamos, também, a vitória em casa, estivemos bem, controlámos a partida, tivemos várias situações, mas temos de continuar a melhorar”.
