São Sebastião realiza Feira de Artesanato Caiçara “Nossas Raízes”

Trabalhos do artesão Clementino. (Foto: Divulgação/PMSS)
Trabalhos do artesão Clementino. (Foto: Divulgação/PMSS)

São Sebastião vai realizar nos dias 1 e 2 de maio, em Boiçucanga, costa sul do município, a Feira de Artesanato “Nossas Raízes”, com o objetivo de fortalecer a identidade cultural da cidade por meio de trabalhos artesanais feitos pelos caiçaras.

O evento vai expor produtos feitos com a taboa (mais conhecida como tanoeiro) e a caxeta, além de artigos decorativos e/ou de utilidade doméstica, confeccionados a partir do bambu ou taquara e das flechas da árvore Guapuruvu.

A comercialização dos produtos só começou a partir da abertura da estrada SP-055 ou BR-101 (Rio-Santos). Antes disso, a confecção do artesanato acontecia somente para utilização dos próprios caiçaras.

Até o ano de 1990, quando não existia proibição da exploração das espécies, a região tinha pouco mais de 70 nativos que desenvolviam os mais variados objetos, como gamela, esteira, peneira, samburá, balaio, dentre outros.

A ideia é estimular o retorno de alguns caiçaras a atuar com os trabalhos artesanais.

Atualmente, há cerca de 30 artesãos que confeccionam artesanato com a taboa e a caxeta na Costa Sul. O material utilizado é doado e proveniente de locais em que houve permissão para a extração e/ou supressão, principalmente por empresas ligadas à construção civil.

“Há caiçaras que deixaram de fazer artesanato e hoje estão em outro ramo porque a principal dificuldade deles é obter a matéria-prima”, explica Lavínia Matos uma das organizadoras do evento.

Manejo – APA Baleia/Sahy

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A prefeitura de São Sebastião criou no final de 2013 a APA Baleia/Sahy com intuito de resgatar a cultura local, principalmente a comunidade caiçara, contudo, de forma sustentável.

De acordo com André Mota, engenheiro Agrônomo do Instituto Conservação Costeira (ICC), o plano de manejo da APA Baleia/Sahy está em fase de levantamento secundário e de pesquisas científicas, realizados pela equipe técnica do ICC e pela Comissão Técnica de Avaliação e Acompanhamento (CTAA) da secretaria de municipal de Meio Ambiente.

“Estamos cumprindo todas as etapas para entrega do plano de manejo e pretendemos entrega-lo antes do prazo previsto”, destacou Mota.

O objetivo da APA é associar a preservação ambiental com o desenvolvimento sustentável, beneficiando a comunidade caiçara local. “São Sebastião deu um salto à frente dos outros municípios do Litoral Norte paulista”, afirma o secretário de Meio Ambiente Eduardo Hipólito do Rego.

De acordo com Lavinia a definição de áreas para o manejo adequado das espécies pode estimular os caiçaras a voltarem a produzir o artesanato. “Isso ajudará, inclusive, a exportar os trabalhos para outras cidades e até países, divulgando o nome de São Sebastião”, acredita Lavínia.

Taboa

A taboa (Typha domingensis) é uma planta aquática típica de brejos, manguezais, várzeas e outros espelhos de águas. Tem cerca de dois metros e na época da reprodução apresenta espigas da cor café contendo milhões de sementes que se espalham com o vento. Com fibra durável e resistente pode ser utilizada como matéria-prima para papel, cartões, pastas, envelopes, cestas, bolsas e outros itens de artesanato. Além disso, é uma depuradora de águas poluídas. Na região sul do município sebastianense, a espécie era farta. Atualmente, existe em poucos locais e há restrições para a supressão.

Caxeta

Já o habitat natural da caxeta são os terrenos alagadiços da faixa litorânea, na Mata Atlântica. A madeira é muito leve e extremamente fácil de cortar, aplainar e lixar. A árvore tem múltiplas utilidades, o que lhe conferiu importância econômica nas áreas de ocorrência. Ela é usada no artesanato, fabricação de lápis, construção de instrumentos musicais, palitos de fósforos, entre outros objetos. A planta rebrota depois de cortada e se reproduz por brotações que nascem a partir das raízes.

O manejo adequado do caxetal pode evitar a demorada e cara reprodução por sementes. A ausência de um plano de manejo adequado normalmente resulta em práticas inadequadas de exploração, como a inexecução de desbrota após o corte, que pode diminuir o incremento de madeira e comprometer explorações futuras. Lei nacional também proíbe a exploração da espécie.

Quanto ao bambu, de acordo com informações da Polícia Ambiental, a obtenção só pode ocorrer se a planta não estiver dentro de APP (Área de Preservação Permanente).

Artesãos

Uma das entrevistadas é Jomilde Guiomar Farias, 61, moradora e nativa de Juquehy. Ela conta que aprendeu a trabalhar com a taboa desde os 11 anos de idade. “Minha mãe foi quem ensinou a fazer várias peças com o tanoeiro”, lembra.

A caiçara diz que um dos ensinamentos de sua mãe é que a taboa fica mais bonita e cresce rápido quanto mais for cortada. “Se a planta não é cortada ela seca e só brota depois de muito tempo”.

Outra nativa que sente a falta de incentivo e/ou estrutura para os artesãos é a dona Veneranda Teixeira de Almeida, 65, moradora na Barra do Sahy, que aprendeu há mais de 30 anos a técnica com o falecido pai Sigião Teixeira Silveira. “Com o tempo, o artesanato caiçara corre o risco de acabar porque há muita dificuldade em dar prosseguimento aos trabalhos e também pelo fato dos jovens não se interessarem pelo ofício”, enfatiza.

Feira

Outra finalidade do evento é ajudar a comercialização dos produtos para melhorar a renda familiar dos artesãos. A ideia também é mostrar os produtos feitos com a taboa (mais conhecida como tanoeiro) e a caxeta.

Peças como flores, pássaros, colheres de pau, peixes, tartarugas, tapetes, bolsas, chapeus, entre outros, estarão em exposição no local. Os responsáveis pelas criações são moradores nos bairros de Barra do Una, Juquehy, Barra do Sahy, Cambury, Boiçucanga e Toque Toque Pequeno, todos na costa sul da cidade.

Outros artigos decorativos e/ou de utilidade doméstica, confeccionados a partir do bambu ou taquara e das flechas da árvore Guapuruvu, serão expostos e vendidos no evento.

Quem prestigiar o evento também poderá assistir algumas apresentações, como a Folia de Reis, a Puxada de Rede e o Coral do Projeto Valorizando à Pessoa Idosa, desenvolvido pela Secretaria Municipal do Trabalho e Desenvolvimento Humano (Setradh), além de atrações musicais.

Organizada pela jornalista Silvia Regina do Amparo e pela funcionária pública aposentada Lavínia de Matos, ambas nativas, a iniciativa tem o apoio da Secretaria de Cultura e Turismo (Sectur); Regional Boiçucanga, divisão ligada à Secretaria das Administrações Regionais( Seadre); Sindicato dos Servidores Públicos Municipais.

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