Ele passou a viver sob o governo autoritário brasileiro, que havia sido iniciado com o golpe de 1964 e ainda duraria mais nove anos. Mesmo distante dos generais argentinos, sofreu com a brutalidade da ditadura em seu país natal. Enquanto estava no exílio, seu filho Ariel foi sequestrado e assassinado pelos agentes da repressão.
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Aberta até o próximo dia 21 de fevereiro, a exposição Entre Ditaduras está centrada na produção do artista no período em que viveu na capital paulista, de 1976 a 1991. Obras que criticam não só os sistemas autoritários, mas também a religião como forma de dominação.
Curador da mostra, Tomás Toledo ressaltou que Ferrari foi “um crítico ferrenho dos sistemas religiosos e das religiões, sobretudo da Igreja Católica”, a qual considerava “um sistema doutrinador e opressor da sociedade”.
Nas obras com esse viés, Ferrari costumava trabalhar com técnicas de justaposição, mesclando figuras do imaginário católico com imagens de jornais e revistas, como guerras e atrocidades. Ele também conectava-se às referências religiosas com um repertório de imagens eróticas.
“Isso ocorreu em uma série denominada Releitura da Bíblia, onde ele apresentou trechos dos cânticos, que é um momento mais erótico da Bíblia, com imagens da iconografia cristã sobrepostas a cenas eróticas da iconografia hindu ou japonesa”, detalhou Toledo.
De acordo com o curador, os trabalhos críticos à Igreja ganharam força na trajetória do artista após a realização da obra A Sociedade Cristã e Ocidental, em 1960. “Ele retirou uma imagem de Jesus Cristo da cruz e a fixou de ponta cabeça em uma reprodução de um avião de caça norte-americano.”
As fotocópias e as heliogravuras de Ferrari formam outra parte da exposição. “De modo geral, essas séries utilizam padrões de comunicação e tipográficos para representação do desenho arquitetônico e técnico. Ele elabora arquiteturas distópicas, nas quais fica evidente a massificação da sociedade nos regimes ditatoriais.”
Conforme Toledo, esse conjunto de peças, doadas pelo próprio Ferrari ao Masp, formam o acervo mais significativo de arte contemporânea de um único artista dentro da instituição. O pintor, gravador e escultor foi, segundo o curador, um dos artistas argentinos mais reconhecidos internacionalmente.
“Um nome muito significativo das práticas conceituais no Brasil e na Argentina”, acrescentou. Referência importante para o núcleo do qual fez parte, que incluí Carmela Gross, Hudinilson Jr., Regina Silveira e Julio Plaza. León Ferrari morreu em 2013, na Argentina, aos 92 anos.