
Na terça-feira (23), o Projeto Tamar devolveu ao mar o macho de tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta) que estava em tratamento em sua base de Ubatuba-SP, desde o dia 1º de abril. Com um metro de comprimento de carapaça e mais de 100 quilos, debilitado e sem a nadadeira anterior direita, ele foi reidratado, tratado com antibióticos e alimentado durante um mês, ganhando mais de 7 quilos no período. Foi solto com a participação de diversas pessoas que ajudaram a cuidar do animal e dos pescadores, na Praia de Picinguaba, levado ao mar a uma profundidade suficiente para a natação livre de redes costeiras.
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O animal foi capturado incidentalmente em uma rede de cerco flutuante pelos pescadores artesanais da vila de Picinguaba, na região norte do município. A soltura foi realizada na mesma região, com um afastamento de segurança para reduzir as chances de ser capturado novamente. O local escolhido foi a região sul da Ilha das Couves, na área externa de mar aberto. A operação contou com o apoio da lancha do Aquário de Ubatuba e de embarcações do pescador Beni da vila de Picinguaba. Antes da soltura, os alunos da Escola Municipal Professor Iberê Ananias Pimentel, da Vila de Picinguaba foram até a praia para saber mais sobre a tartaruga e conversaram com a equipe.
“A soltura correu muito bem e acreditamos que ele vai se adaptar a sua nova condição. Logo que foi colocado no mar, ele mergulhou e as imagens submarinas mostraram que ele nadava perfeitamente e com muita energia”, detalha a coordenadora do TAMAR Ubatuba, Berenice Gomes.
Conservação, Pesquisa e Educação Ambiental – O trabalho de conservação e pesquisa direcionado à interação das tartarugas marinhas com a pesca em Ubatuba foi iniciado pelo TAMAR, com o patrocínio da Petrobras, em 1990, com um levantamento que identificou diversas modalidades de pesca que capturam tartarugas incidentalmente. Pouco a pouco, foi estabelecida uma parceria com os pescadores artesanais no município, que voluntariamente passaram a informar sobre as capturas de tartarugas e sobre o funcionamento das pescarias. A partir deste esforço conjunto, já foram devolvidas vivas e saudáveis ao mar mais de 10.400 tartarugas capturadas incidentalmente na pesca nos 27 anos de existência do TAMAR na região.
A importância dos machos – Diferente das fêmeas, que periodicamente chegam para depositar seus ovos nas praias, os machos de tartaruga marinha vivem todo o seu ciclo de vida no mar. A temperatura é fator crucial para a definição do sexo das tartarugas marinhas, por isso os machos, que nascem principalmente no RJ e no ES por serem lugares com temperaturas mais frias, são considerados pelos pesquisadores a parte mais crítica de uma população. A pesquisa e conservação de machos adultos de tartaruga marinha pode viabilizar estudos demográficos, ou de mudanças climáticas, e depende da compreensão de suas rotas migratórias, áreas de frequência, periodicidade de visitas a áreas de reprodução e de alimentação, entre outros indicadores obtidos, por exemplo, através de sistemas de marcação ou de monitoramento por satélite.
Definição do sexo – Assim como acontece com outros répteis, o sexo da tartaruga marinha depende da temperatura do ninho durante a incubação, um período que varia em média entre 45 e 60 dias, desde a postura até o nascimento. A definição do sexo acontece em um momento específico, o período termossensitivo, geralmente no segundo terço da incubação. Por volta de 29 °C, temperatura conhecida como pivotal, é produzida cerca de metade dos filhotes fêmeas e a outra metade machos. Acima de 29°C mais fêmeas são geradas, podendo chegar a 100% de fêmeas próximo dos 33°C. Gradativamente, à medida que a temperatura diminui, o número de machos aumenta, podendo chegar a gerar 100% de machos em cenários perto de 24°C.
Tartaruga-cabeçuda – A tartaruga-cabeçuda é a mais comum desovando no litoral, com maior concentração na Bahia, ocorrendo também nos Estados de Sergipe, Espirito Santo e Rio de Janeiro. O Brasil ocupa a terceira posição entre os sítios de desova dessa espécie no oceano Atlântico. Classificada como ameaçada de extinção, é encontrada em todos os oceanos.